Gonçalo Carvalho levou o Rio Maior SC ao Campeonato de Portugal, numa época difícil marcada, segundo o treinador, por uma “regularidade impressionante” mas também por “compromissos não regularizados em diferentes domínios”, com interferência directa na “saúde” da equipa.

Apesar de tudo, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, Gonçalo Carvalho considera Rio Maior uma cidade “ideal para a prática desportiva”. “Há infraestruturas óptimas para que a equipa sénior da cidade possa competir nos campeonatos nacionais”, a par da existência da Escola Superior de Desporto que é “fantástica para a potenciação da qualidade do trabalho, da vertente científica no âmbito do futebol, da inserção de jovens com muita qualidade no meio”, salienta.

O Rio Maior termina a época com apenas uma derrota e 4 empates para o campeonato. Quais os segredos para uma época tão regular?

A nossa época é marcada por uma regularidade impressionante, mas numa perspetiva crescente em termos de qualidade exibicional.

A base está na capacidade e qualidade do trabalho de todos, no acreditar que podíamos melhorar dia após dia, e na confiança depositada, de forma recíproca, em todos os intervenientes na nossa rotina.

Os jogadores foram inexcedíveis no trabalho, a equipa técnica soube corresponder à potenciação da ideia coletiva pretendida e da evolução individual, a estrutura (que esteve presente) fez de tudo para que a época decorresse da melhor forma. Estas foram as principais razões para que o título fosse, e da forma que foi, uma realidade.

Será o treinador da equipa para a próxima época?

É uma situação que ainda não está definida. Há intenção das duas partes em que assim aconteça, mas também há um conjunto de situações que têm que ser resolvidas, estruturadas e garantidas para que possa liderar os destinos do Rio Maior SC na próxima época desportiva.

Que objetivos pretendem alcançar na próxima época desportiva?

Caso seja o treinador do Rio Maior SC, os objetivos no Campeonato de Portugal não serão muito diferentes dos que foram estipuladas aquando a chegada ao clube.

Queremos ganhar os nossos jogos, demonstrar uma elevada qualidade exibicional no nosso jogo, potenciar os nossos jogadores e, na base de tudo, ter um ambiente saudável no grupo de trabalho.

O clube tem as condições necessárias para competir num nível mais elevado? O Que será necessário melhorar para poderem competir a esse nível?

Rio Maior é, enquanto cidade, um contexto ideal para a prática desportiva. Há infraestruturas ótimas para que a equipa sénior da cidade possa competir nos campeonatos nacionais.

A existência da Escola Superior de Desporto é, também, fantástica para a potenciação da qualidade do trabalho, da vertente científica no âmbito do futebol, da inserção de jovens com muita qualidade no meio.

Se olharmos para o clube em si, e para a SAD em específico, há uma “montanha” de situações para resolver, indispensáveis para que se obtenha sucesso. E sem essas situações resolvidas e esclarecidas, será difícil competir, seja em que nível for.

Depois da vitória no campeonato em que os resultados falam por si acaba por perder, nas grandes penalidades, a final da Supertaça.

É difícil motivar uma equipa para um jogo quase duas semanas depois de terminar o campeonato?

A nossa época acabou, praticamente, a 15 de maio, dia em que nos sagrámos campeões.

Foram assumidos compromissos com o grupo de trabalho que acabaram por não ser cumpridos, a tempo e horas, ao longo da época. Disputámos a primeira jornada do campeonato já nessa situação, e vivemos a época toda dessa forma com avanços e recuos, ao longo dos meses da competição.

E esses compromissos não regularizados foram em diferentes domínios, com uma interferência directa e enorme na “saúde” do dia a dia.

Posso afirmar que a época foi, a nível desportivo, sublime, mas desastrosa em todas as outras variáveis. Tivemos a sorte (e o mérito) de ter um grupo de trabalho com qualidades humanas assinaláveis, que nos permitiu desenvolver a tal confiança que já referi, e que nos conduziu ao título.

Após a conquista, praticamente não treinámos, saíram jogadores, e o “sentido de missão” em que estávamos emergidos esgotou-se.

Perdemos o jogo da supertaça na marcação das grandes penalidades, em que se marcássemos o último penalti vencíamos. Sofremos o golo do empate nos descontos, no único remate enquadrado na nossa baliza, e não permitimos qualquer perigo, à exceção dos livres e cantos. Tivemos sempre mais perto do 2-0 do que do 1-1. Mas o futebol é isto mesmo. Faz parte.

Disputámos o jogo sem estarmos em condições para tal, e ainda assim assumimo-lo, criámos mais e fizemos o que estava ao nosso alcance para vencer.

Fazer isto com uma incerteza total sobre o futuro, sem treinar bem, sem os compromissos regularizados e contra uma equipa extremamente motivada, foi de homens a sério.

Lamentamos o resultado, pois queríamos muito vencer, e lamentamos também

o facto de não termos jogado nas nossas condições “normais”.

Respondendo diretamente à questão, havia a motivação de ir disputar uma supertaça, mas acabou por ser inferior à bagagem que possuíamos das circunstâncias.

No final do jogo da supertaça Dr. Alves Vieira falou das dificuldades vividas ao longo da época. Quais foram essas dificuldades?

Foram muitas. Tivemos pessoas muito boas e competentes connosco, que fizeram tudo ao seu alcance para que não faltasse o básico, treinámos sempre em relva e jogámos quase sempre no estádio, com condições ímpares no nosso campeonato. Tudo o resto foram dificuldades… Prefiro não especificar… mas foram a todos os níveis e com grande impacto no nosso dia-a-dia.

Tem um plantel com uma média de idades bastante baixa. Isto tem a ver com a política do clube ou é o treinador que prefere a irreverencia dos jovens à experiência dos mais velhos?

Teve a ver essencialmente com os jogadores que selecionámos e recrutámos para o nosso grupo de trabalho. Gosto de trabalhar com jovens, mas que sejam ambiciosos, comprometidos e com vontade de evoluir. Contudo, o principal critério que assumimos é a qualidade. Tenho o mesmo à vontade em colocar um jogador em campo com 17 anos ou com 37. Tivemos 3 juniores no nosso plantel, todos eles foram titulares em alguns jogos da época, como também tivemos o nosso jogador mais velho (36 anos) a ser um dos mais utilizados da época.

A base em que assentamos as nossas escolhas são as características enquanto pessoas, o principal critério de seleção é a qualidade e a gestão do plantel é feita mediante as circunstâncias, jogos e contextos ao longo da temporada.

Quais as suas referências ao nível de treinadores?

Eu sou da geração em que José Mourinho revolucionou o mundo dos treinadores de futebol. Era aluno universitário e bebia tudo o que era aquele FC Porto campeão europeu, ou o Chelsea da chegada de Mourinho. Sou apreciador! Como sou do futebol de Guardiola, do perfil de Luís Castro ou Bruno Lage, da paixão de Simeone, do entusiasmo de Klopp, da ousadia de Tuchel ou da liderança de Ancelotti, entre tantos outros.

Estudo o futebol, estudo o treinador e tenho um prazer enorme em evoluir na área.

Quais os jogadores que aprecia mais ver jogar?

É uma pergunta com resposta difícil, porque são muitos, mas dentro dos seus contextos.

Gosto dos jogadores que tomam as melhores decisões, nas circunstâncias em que estão, e com consciência de que são elementos de uma equipa. Neuer, Rúben Dias, Busquets, Modric, Bernardo Silva, entre tantos, são bons exemplos do que me refiro.

Quais as características que procura nos seus jogadores?

Primeiro procuro homens com caráter, com personalidade, com compromisso.

A isso associo as qualidades futebolísticas que entendemos serem as melhores para o jogo que pretendemos.

Mas um jogador que confie e que transmita confiança, que se sinta importante mas em prol de um grupo de trabalho, que entenda a sua missão e que cumpra com

as indicações da equipa técnica têm, certamente, perfil para trabalhar na minha equipa!

Quer deixar algumas palavras aos adeptos depois de finalizada a época desportiva?

Quero, sim! Agradecer muito o apoio prestado, o empurrão que nos deram nos momentos necessários, o carinho demonstrado. Fizemos o que conseguimos, e muito foi para todos vós, para Rio Maior, para os nossos!

A todos, um simples, mas sincero OBRIGADO!

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