António Garutti Branquinho Malheiros mudou de vida no primeiro dia de 2022, quando trocou Cascais por Ferreira do Zêzere. Com uma mochila às costas e a sua cadela como única companhia, encontrou no recomeço a matéria-prima para o seu primeiro livro, Fui Eu Que Escolhi. Na escrita, como na vida, assume cada escolha como ponto de viragem. Artista visual e agora autor publicado, acredita que é possível transformar feridas em força e partilha a sua história com a convicção de que “tudo vale a pena, só é preciso acreditar”.

 

‘Fui Eu Que Escolhi’ apresenta-se como um mergulho na alma e numa jornada de mudanças e superação. Em que momento sentiu que esta história tinha de sair do plano íntimo para se transformar num livro?

Foi quando, a certa altura, no meu local de trabalho, alguns colegas perguntaram o que eu andava a escrever. Deixei que três pessoas lessem os dois primeiros capítulos e o feedback foi muito positivo. Disseram que eu devia partilhar a minha história com outras pessoas. Para ter a certeza de que seria uma boa ideia publicar o livro, usei a Inteligência Artificial para fazer uma análise do conteúdo.

 

A escolha mais difícil pode reorientar uma vida. Qual foi a sua e que impacto teve?

A escolha mais difícil foi deixar tudo o que eu tinha em Cascais para ir em busca de algo que pensava ser melhor para mim. O maior impacto que esta decisão teve na minha vida foi transformar-me numa pessoa que acredita que tudo é possível e que um recomeço está sempre ao nosso alcance. Hoje sou muito mais grato pelas coisas que tenho.

 

A sua criação artística e visual teve influência na forma como escreveu?

A minha ligação artística ajudou-me a orientar o caminho que devia seguir na criação do livro, desde a capa até à paginação e à organização dos capítulos. A nível da escrita, foi directa — era como transcrever as conversas que tinha comigo mesmo, dentro da minha cabeça. Os lugares e as personagens mencionadas no livro são todos reais.

 

Como foi lidar com a exposição pessoal e com os temas difíceis que atravessa no livro?

Foi difícil no início, mas comecei a procurar na internet formas de ganhar mais conhecimento sobre como lidar com as situações. Descobri a filosofia estóica e outros pensadores. Dei por mim a ouvir palestras de filósofos, e isso deu-me clareza: na vida só podemos controlar a nossa reacção perante as situações, nada mais. Depois, encontrar a minha fé fez toda a diferença até hoje.

 

Que mensagem gostaria de deixar a quem o lê?

Quero que as pessoas vejam que, apesar de tudo o que acontece de menos bom na vida, tudo vale a pena. Só é preciso acreditar. Devem seguir em frente e nunca se arrepender das escolhas que fazem, porque nunca sabemos qual vai ser o resultado final. No dia 1 de Janeiro de 2026 fazem quatro anos que mudei de vida. Quando cheguei a Ferreira do Zêzere, ia com uma mochila às costas e a minha cadela como companhia. Hoje sou um jovem escritor independente. Por isso, é importante olhar para o dia seguinte como uma oportunidade de recomeçar tudo de novo.

 

Um título para o livro da sua vida?

Tenho dois: O Monge, o Santo e a Executiva e Foi Sem Querer Que Te Quis.

 

Viagem?

A que fiz em criança à Disneyland Paris. Devia ter uns 10 ou 12 anos.

Música?

“Fear of the Dark”, dos Iron Maiden — arrepia-me sempre que a ouço.

 

Hobbies?

Passear junto ao mar, caminhar na floresta, andar de mota e jogar airsoft.

 

Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?

Não mudaria nada. Foi todo este percurso que me fez chegar onde estou. Basta uma pequena alteração para que toda a história de vida mude.

 

Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?

Um filme em que a personagem luta por defender os seus princípios e ajuda alguém indefeso.

 

O que mais aprecia nas pessoas?

A honestidade, a sinceridade e, acima de tudo, a verdade. Prefiro uma verdade que pareça uma invenção a uma mentira bem elaborada.

 

O que mais detesta nelas?

O aproveitamento. Hoje em dia, muitas pessoas só fazem algo a pensar no que podem vir a obter em troca.

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