A Câmara Municipal de Alcanena deliberou, por unanimidade, na sua reunião realizada a 23 de Novembro de 2020, sob proposta da sua presidente, Fernanda Asseiceira, atribuir a António Martinho do Rosário, ortónimo de Bernardo Santareno, a título póstumo, a Medalha de Mérito do Município de Alcanena – Grau Ouro, a qual será entregue aos seus familiares mais directos.
Bernardo Santareno é o pseudónimo de António Martinho do Rosário, que nasceu em Santarém, a 19 de Novembro de 1920. A sua família, pai e avós, era natural da freguesia do Espinheiro, concelho de Alcanena, onde, em criança e adolescente, passava as suas férias e tempos livres e onde iniciou alguns dos seus primeiros escritos e ensaios teatrais.
No momento de escolher o seu pseudónimo, António mergulhou nas suas raízes: Santareno, por ser filho da cidade de Santarém, a que quis ficar umbilicalmente ligado, e Bernardo, por ser o 1º Padroeiro da Paróquia do Espinheiro e o santo da devoção popular das suas gentes, como homenagem à piedade e fé católica, que herdara da mãe, a quem o ligavam especiais laços de amor filial.
Embora tenha iniciado a sua obra literária como poeta, notabilizou-se no universo literário português como dramaturgo, o maior do século XX português e um dos melhores de toda a história do teatro em Portugal.
Médico, formado em 1950, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, especializou-se em Psicologia. Depois de uma breve passagem pelo Hospital Júlio de Matos e por uma também breve experiência com consultório aberto, acaba por fazer duas campanhas da pesca do bacalhau, em 1957 e 1958, por mares da Gronelândia e da Terra Nova, nos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e Navio Hospital Gil Eanes, uma riquíssima vivência humana que dá origem à peça “O Lugre” e ao livro de viagens, “Nos Mares do Fim do Mundo”.
Como dramaturgo, estreia-se na edição do livro “Teatro”, que contem três peças: “A Promessa”, “O Bailarino” e “A Excomungada”, e recolhe, entre a crítica especializada, os maiores elogios.
Bernardo Santareno escreveu cerca de 25 anos e todo o seu teatro é uma luta pela Liberdade, contra todas as formas de opressão, social, cultural, sexual, e pelo direito à diferença.
“Toda a sua obra é um acto de homenagem ao povo, à sua idiossincrasia, em favor dos mais desfavorecidos, dos humilhados e ofendidos”, refere a autarquia de Alcanena.
De profunda cultura, com uma marcante envergadura de humanista, teve papel de relevo no Instituto de Orientação Profissional e na Fundação Rachel e Martin Sain, na recuperação de cegos e amblíopes, e também na Sociedade Portuguesa de Autores, tendo sido professor no Conservatório Nacional.
“É de sublinhar a grandeza da sua obra cultural, bem como as suas qualidades humanas e intelectuais, que o tornaram exemplo entre as personalidades mais completas que Portugal gerou no século passado. O Município de Alcanena considera de elementar justiça distinguir este ilustre cidadão, por se tratar de um dos mais notáveis escritores e dramaturgos, que muito contribuiu para o enriquecimento da cultura nacional”, conclui a nota da autarquia.