A Câmara de Alcanena apresentou o projeto para a Fábrica da Cultura de Minde, antiga unidade têxtil adquirida para aliar criatividade, inovação e investigação, na quarta-feira, 14 de Dezembro. O projecto representa um investimento estimado em 6,5 milhões de euros a candidatar a fundos comunitários.
Ainda na fase de estudo prévio, o projecto, a desenvolver numa estrutura com 6.500 metros quadrados situada entre o aglomerado urbano e o polje de Minde/Mira d’Aire, propõe-se juntar a produção artística, beneficiando da forte tradição cultural de Minde, à criatividade, tecnologia e investigação, envolvendo, nomeadamente, os Politécnicos de Tomar e de Leiria, a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e o Centro de Investigação da Nova.
A apresentação decorreu numa sessão que começou com a participação do produtor cultural Pablo Berástegui, responsável por vários projetos como o centro cultural Matadero Madrid, o qual chamou a atenção para os desafios que se colocam pela dimensão do projeto, tendo em conta a escala, salientando a importância do trabalho em parceria e com a comunidade, da pluralidade dos usos e da opção pelo estritamente necessário.
Também no encerramento, o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Carlos Miguel, invocando a sua experiência autárquica, alertou para o valor que considera subestimado face à área do equipamento (estimou que possa chegar ao dobro), e para a sua dimensão, salientando que os 20.000 habitantes do concelho cabem dentro do edifício.
Carlos Miguel, que substituiu a ministra da Coesão Territorial, desviada para avaliar os impactos do mau tempo no Alentejo, considerou o projecto “muito interessante”, não só por se propor recuperar e revitalizar, com novas valências que acrescentam valor, um “património industrial de referência”, mas também por aliar a valorização do património ambiental que o rodeia (o polje e a serra).
Assegurando que a autarquia conta com o Governo e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro como parceiros, Carlos Miguel afirmou que, de entre as várias opções possíveis de financiamento, será preciso fazer escolhas, advertindo que o Portugal 2030 “não vai ter um euro de investimento que não seja sustentável”.
“Se não forem justificados ambientalmente, não serão apreciados”, disse, apelando a que se sonhe “com os pés assentes na terra”, reconhecendo, contudo, que o que distingue os territórios não são as praças, as piscinas ou os jardins, mas sim a sua cultura.
A sessão contou, ainda, com um painel moderado por José Pina, diretor do Teatro Aveirense, com as participações do Diretor-Geral das Artes, Américo Rodrigues, do presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, do antropólogo Paulo Lima e do criativo Carlos Bernardo.
João Aidos, ex-diretor geral das Artes e atual diretor artístico do Teatro Municipal de Ourém, a colaborar com o município de Alcanena na concepção da Fábrica da Cultura de Minde, afirmou que o projeto hoje apresentado, com o estudo prévio do edifício desenhado pelo arquiteto Gonçalo Nobre, resulta de uma aposta na cultura para “alavancar o território”.
Depois de um ano a visitar vários espaços, em Portugal e no estrangeiro, e a ouvir a comunidade e os empresários, o projeto aposta, segundo o presidente da Câmara de Alcanena, Rui Anastácio, nas indústrias culturais e criativas para “criar inovação através de uma interação singular entre a cultura, a criatividade, a tecnologia, a gestão e o mundo empresarial”.
Para o autarca, a criatividade é um “motor fundamental na geração de riqueza e emprego e no desenvolvimento sustentado, incorporando mudança tecnológica e promovendo a inovação empresarial”.
Salientando que o município integrará o grupo do setor das indústrias culturais e criativas do Enterprise Europe Network e está já no New European Bauhaus, Rui Anastácio referiu a importância do projeto, não só para fixação de empresas e pessoas, mas também para aproveitamento do fluxo turístico que aflui a Fátima, Alcobaça e Batalha.
O autarca aproveitou a sessão para defender a construção do novo aeroporto em Santarém, pedindo que seja “explicado” ao presidente da Câmara do Porto que dos 5 milhões de euros “poupados” com esta opção relativamente a Alcochete, um quarto dá para fazer a ligação de alta velocidade Porto/Vigo e com 10% a ligação da A23 à EX-A1 na Estremadura espanhola, reduzindo em uma hora a ligação entre Lisboa e Madrid.