A aldeia de Chãos, no concelho de Rio Maior, recebe, no dia 2 de Novembro, um Encontro sobre Moedas Sociais, que apresentará a “germinação” de moedas locais em Chãos e em Montemor-o-Novo e modelos alternativos bem-sucedidos como o Banco Palmas.
Promovido pelas cooperativas Terra Chã, de Chãos, e Integral Minga, de Montemor-o-Novo (Évora), com o apoio da Rede Portuguesa de Economia Solidária (RedPES), o encontro acontece num momento em que se multiplicam iniciativas sobre moedas complementares e economias alternativas, que terão o seu ponto alto no Fórum Social Mundial das Economias Transformadoras, agendado para 5 a 7 de Abril de 2020, em Barcelona, disse à Lusa fonte da organização.
Júlio Ricardo, da Cooperativa Terra Chã, de Chãos, aldeia que está em “processo de germinação de uma moeda local que pretende aliar finanças alternativas, ambiente e biodiversidade”, adiantou que o encontro contará com a presença de Miguel Yasuyuki Hirota, presidente do Instituto da Moeda Social de Valência (Espanha), “animador de experiências de moedas sociais em vários locais do mundo e activista da economia solidária”.
“No espaço para a partilha teremos experiências de moedas sociais em contextos rurais”, como é o caso de Chãos, de Montemor-o-Novo, com o “embrião da moeda MOR”, e das que estão em curso em Santarém (estudadas por Ana Silva, docente do Instituto Politécnico), sendo ainda apresentado o processo iniciado em 1998 na região brasileira do Ceará, onde foi criada a moeda e o Banco Palmas, que conta já com mais de uma centena de bancos comunitários no Brasil, acrescentou.
No caso de Chãos, está em estudo a criação de uma moeda a ser entregue a quem “apadrinhar” uma cabra do rebanho comunitário e que poderá ser gasta na aquisição de produtos derivados do rebanho, como carne ou queijo, ou no restaurante e produtos da cooperativa, disse, salientando o papel das moedas locais na criação de economias mais resilientes.
Luciane Santos, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, irá “aprofundar” o conhecimento e “expectativas” sobre moedas sociais, que têm na base “um princípio de acordo dentro de uma comunidade territorial para se utilizar algo como meio de pagamento/troca”, refere uma nota de divulgação do encontro.
Recordando que as experiências “mais significativas” se iniciaram no Canadá na década de 1980, a organização salienta o surgimento de moedas sociais em muitos países europeus, sendo a libra de Bristol, em Inglaterra, e o banco suíço WIR, sistema que envolve 60.000 pequenas e médias empresas, ou o brasileiro Palmas, alguns dos exemplos mais conhecidos.
Júlio Ricardo referiu a importância do documentário de 2015 “Demain”, realizado por Cyril Dion e Mélanie Laurent, que deu a conhecer soluções em curso em várias partes do mundo para as crises ecológicas, económicas e sociais, e no qual surgem vários exemplos do impacto da criação de moedas “complementares”.
O encontro de Chãos segue-se ao realizado no passado fim de semana na cidade espanhola de Zafra, sobre o mesmo tema, e à Feira da Economia Solidária que se realiza no próximo fim de semana em Barcelona, salientando Júlio Ricardo a relação próxima entre as organizações portuguesas e espanholas.
O programa de dia 2 inclui uma comunicação, via Skype, do coordenador da Rede de Economias Alternativas e Solidárias de Espanha, Carlos Askunze Elizaga, uma das instituições organizadoras do fórum mundial, disse.
Num texto divulgado antes do encontro, Elizaga afirma que o fórum agendado para Barcelona visa dar visibilidade às “propostas económicas transformadoras” já existentes, fomentar a relação entre movimentos, locais e internacionais, sectoriais ou transversais.
Os movimentos que preconizam o crescimento da economia solidária alegam que a crise financeira iniciada com a queda da Lehman Brothers, em 2009, não produziu as mudanças “esperadas e necessárias” no sistema financeiro, tendo, pelo contrário, havido um reforço do seu carácter especulativo e um acentuar dos índices de pobreza e de desigualdade no planeta.
Frisando que o planeta está “ameaçado pelos efeitos ambientais e sociais de um sistema económico baseado na procura do lucro, da produtividade e do consumismo sem limites”, os promotores do fórum de Barcelona realçam que se tem assistido a um (re)surgimento de práticas que “reclamam um espaço no debate sobre novas formas de pensar e fazer economia” e aspiram a “construir um sistema socioeconómico que coloque as pessoas, as comunidades e o meio ambiente no centro dos seus processos”.