O Jornal do Fundão e a Editora Canto Redondo publicaram as 26 edições do Suplemento «& etc…» entre 1967 e 1971.Alves Redol no nº 4 recorda os seus avós Ana da Guia e João Redol: «Estávamos sentados na lareira baixa da cozinha do Casal da Cabrita, ermo de pedras e mato que ela, Ana da Guia e seu marido João Redol, haviam feito parir pão e vinho com o sémen da porfia, do sacrifício e da raiva. Uma raiva florida porque vi dentro dos meus olhos as pedras e o ermo reconquistarem o que os meus avós lha haviam roubado, mal sentiu a ausência de ambos».
Continua o texto lembrando «a ternura que a todos oferecia, como a força corajosa com que deu ao mundo onze filhos, vendo levarem-lhe cinco para o céu dos anjinhos onde ela os adivinhava bem mais felizes que na galé da própria vida. Com o seu homem agenciou telha e pão para todos.
Não dormia na noite de sexta-feira para amassar, tender e fornear a broa de milho que, com os queijos feitos por ela das ovelhas do seu rebanho, vendia com o meu avô por Tomar, numa carroça puxada a macho e em cujo assento os acompanhei muitas vezes. O casal emigrara da Golegã onde João Redol fizera carreira de maioral de éguas e toiros.» Prossegue o texto: «Ana da Guia nascera de gente do rio, era avieira, andara no trato de barcos e redes, vendera peixe pelas portas e acabara por se meter no trabalho do campo quando pai lhe morreu e o barco ficou sem homem.» E conclui tão forte como começou: «os Guias fazem parte da aristocracia marinheira e descalça da Praia da Vieira. São meus parentes. Ainda falei acerca deles com o Loureiro Botas e com o Martins Correia, filho de Maria da Guia, prima de Ana da Guia, segunda mulher de João Redol a quem talvez deva essa paixão pelo Tejo…»
José do Carmo Francisco