O sindicalismo tem profundas raízes históricas em Santarém, que remontam ainda ao século XIX.

O primeiro sindicato de trabalhadores desta cidade foi inaugurado no dia 1 de janeiro de 1898. Era a «Associação de Classe dos Empregados do Comércio de Santarém».

Acabou dissolvido pela ditadura de Salazar, no final de 1933. Entre os seus fundadores, salientou-se um jovem com 27 anos de idade, chamado António da Conceição Ferreira.

Foi o primeiro presidente da direção, o ‘líder histórico’. Um sindicalista que, no seu tempo, esteve na linha da frente da luta que conquistou o direito a um dia de folga semanal para o seu setor profissional.

Além da atividade local, participou nos dois primeiros congressos de empregados do comércio portugueses, que se realizaram em 1901 e 1904, respectivamente no Porto e em Lisboa.

Era um ribatejano oriundo de Tomar, cidade onde nasceu no dia 7 de dezembro de 1871.

A casa «Telhada»

Aos 19 anos, António da Conceição Ferreira já estava a trabalhar em Santarém. E aqui veio a ser empregado de uma importante firma comercial e bancária desta cidade, a «Casa Telhada».

Uma empresa que deixou as suas marcas no desenvolvimento urbano do centro histórico, com vários edifícios que mandou construir à época. Como aquele, no Largo do Padre Chiquito, onde está sediado o Banco Montepio; ou aquele, no Largo do Seminário, onde funcionava a associação comercial. Ou ainda aquele outro, junto à Igreja de Marvila, onde foi a “Loja do Cabralão”.

A «Casa Telhada» deu também uma nota de modernidade social, no ano de 1900. Atendendo a uma reivindicação coletiva dos seus funcionários, concedeu-lhes o direito a um dia de folga semanal.

Sete anos antes deste direito ser pela primeira vez inscrito na lei. Curiosamente, trabalharam nessa empresa pelo menos dois outros presidentes do primeiro sindicato de Santarém. Foi o caso de Cláudio Pais Andorinho, cujo filho homónimo foi professor das escolas “Comercial e Industrial” e “Ginestal Machado”. E foi o caso de Alfredo da Silva Leitão, que se tornaria um dos mais importantes comerciantes desta cidade no século XX, nos setores da restauração, do automóvel e dos combustíveis.

Cultura e desporto

Uma das primeiras preocupações de António da Conceição Ferreira como sindicalista foi criar uma biblioteca, para a promoção cultural dos seus colegas de ofício. A qual ainda hoje existe, no «Grupo de Futebol dos Empregados no Comércio».

Mais tarde, foi também responsável pela biblioteca da Associação Comercial de Santarém. E presidiu a uma das associações que deram origem ao atual «Círculo Cultural Scalabitano» – o antigo «Grémio Literário Guilherme de Azevedo».

Na área desportiva, esteve entre os pioneiros locais do ciclismo: em 1898, foi um dos participantes na ‘pedalada’ de inauguração do «Club Velocipedista de Santarém». Um circuito de ida e volta entre esta cidade e a vila de Pernes.

Republicano

A nível político, António da Conceição Ferreira deu a cara como dirigente local do Partido Republicano Português, ainda no tempo da monarquia.

Em 1908 era membro suplente da respectiva “comissão municipal” de Santarém. Foi depois vereador da Câmara Municipal e um dos diretores da empresa editora do jornal «O Debate», que se publicou nesta cidade desde 1907 até 1926.

Aquando da sua morte, em 1948,o principal jornal da oposição à ditadura (que se publicava na legalidade), o «República», prestou homenagem a António da Conceição Ferreira, afirmando que “os democratas de Santarém” acabavam de perder “um dos seus mais antigos e valorosos elementos”.

E recordou-o como um “fervoroso republicano”, que “pertenceu àquela plêiade dos caixeiros viajantes que no tempo da propaganda muito contribuíram” para derrubar o velho regime monárquico [«República, 12/12/1948, pág. 5].

Seu filho, o médico dentista António Paixão Ferreira, salientou-se na oposição à ditadura de Salazar, como um dos fundadores e dirigentes do Movimento de Unidade Democrática (MUD) no distrito de Santarém.

LUÍS CARVALHO – INVESTIGADOR

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