A propósito do terramoto ocorrido em Marrocos, o Presidente do Brasil afirmou que o fenómeno “não tem muita explicação a não ser a mudança do clima, a não ser o que estamos fazendo com o planeta.”

Para além da profunda ignorância que esta afirmação revela, somos convocados a refletir sobre o quanto a espécie humana se considera o centro do universo. O antropocentrismo, essa crença enraizada na nossa cultura, coloca o ser humano no topo da cadeia alimentar, como o ápice da inteligência e do poder sobre a Terra.

No entanto, com o crescente reconhecimento das alterações climáticas, é fundamental questionar essa visão egocêntrica e compreender as complexas variáveis que influenciam esse fenómeno global.

O antropocentrismo, a ideia de que o mundo gira em torno do ser humano, está profundamente enraizado na nossa cultura e história. Durante séculos, a humanidade viu-se como a medida de todas as coisas, como a força dominante que molda o mundo à sua imagem e semelhança. Essa visão, embora possa ter impulsionado inovações e avanços, também contribuiu para a exploração insustentável dos recursos naturais e a negligência das complexas interações que regem o clima do nosso planeta.

Hoje, enfrentamos um dilema crítico: as alterações climáticas. Os cientistas são unânimes em afirmar que a atividade humana tem desempenhado um papel significativo no aumento das temperaturas globais e nas mudanças climáticas observadas em todo o mundo.

As emissões de gases de efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e outros processos industriais são reconhecidas como uma das principais causas do aquecimento global.

O problema é que muitas vezes nos concentramos excessivamente no papel da humanidade e negligenciamos outras variáveis igualmente cruciais que afetam as alterações climáticas. O nosso antropocentrismo pode levar-nos a ignorar fatores naturais, como ciclos climáticos naturais, atividade vulcânica, variações solares e mudanças na órbita terrestre.

Esses elementos também desempenham um papel importante nas flutuações climáticas ao longo da história da Terra.

A nossa obsessão com o antropocentrismo pode desencadear a crença de que apenas controlando as ações humanas podemos resolver as alterações climáticas.

Embora seja vital reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adotar práticas mais sustentáveis, não devemos ignorar o facto de que o clima é um sistema incrivelmente complexo, moldado por inúmeras variáveis inter-relacionadas.

Em última análise, o antropocentrismo pode ser uma perspetiva limitada quando se trata das alterações climáticas. Devemos aprender a humildade diante da complexidade do nosso planeta e adotar uma abordagem mais equilibrada, que respeite não apenas o nosso papel, mas também todas as variáveis que influenciam o clima da Terra. Somente assim estaremos verdadeiramente preparados para enfrentar o desafio das alterações climáticas de forma eficaz e responsável.

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