A APPACDM de Santarém é a instituição mais antiga do distrito vocacionada para o apoio e acolhimento de pessoas com deficiência mental, tendo completado, no passado dia 03 de Março, os seus 50 anos de serviço à comunidade.

A instituição, já há alguns anos presidida por Luís Amaral, iniciou as suas actividades numa casa de habitação no Centro Histórico de Santarém, mas, dada a procura, teve de buscar instalações mais amplas, acabando por adquirir a Quinta de Nossa Senhora do Rosário, no Vale de Santarém, onde hoje tem sede.

Com meio século de existência, a instituição tem um grande caminho feito, mas que “está longe de estar concluído”, diz o presidente da APPACDM, revelando que o grande desafio actual se prende com o aumento da capacidade de acolhimento permanente.
“As necessidades que nós sentimos naquilo que são as valências de modelo tradicional são no acolhimento permanente. A partir de alguma idade, os utentes com 40/50 anos, que estão aqui das 9h00 às 17h00, em actividades ocupacionais, regressam a casa onde os familiares já começam a ter alguma dificuldade em lhes prestar cuidados”, disse ao Correio do Ribatejo.

Segundo constata, “isso significa que há muita ansiedade por parte das famílias em que a instituição tenha capacidade para, a curto-prazo, os podermos acolher permanentemente”.

“São respostas caras, em termos de investimento e de recursos que têm de ser alocados, nomeadamente em termos de pessoal, porque se trata de uma resposta 24 horas por dia, para além dos equipamentos. As que temos, neste momento, estão superlotadas”, referiu.

Actualmente, a APPACDM já acolhe, em regime de permanência perto de seis dezenas de utentes e tem uma lista de espera de quase outros tantos.

“Essa é actualmente a nossa maior angústia, e estamos a trabalhar em busca de soluções”, assegurou Luís Amaral, revelando que, em termos de ambições futuras, está projectada a qualificação do 1º Andar do Lar da Quinta de Nossa Srª do Rosário para aumentar a capacidade de acolhimento permanente.

“Para este projecto, temos de equacionar a questão dos custos. Tudo isto dependerá sempre da negociação de novos acordos de cooperação. E seria importante aumentar em número estes acordos para termos capacidade para acolhermos mais pessoas”, disse.

No aspecto da inclusão, diz o presidente da APPACDM de Santarém, está a ser feito um “caminho interessante”. Essa é, aliás, “uma das bandeiras da instituição, que conta com um corpo técnico e de funcionários muito competente de cerca de 120 pessoas”.

“A deficiência intelectual tem características específicas e cada uma delas merece uma atenção redobrada. Daí que a nossa missão seja promover e estimular o desenvolvimento das pessoas com deficiência e a sua inclusão na sociedade; disponibilizar apoio aos seus familiares e co-responsabilizar o Estado na defesa dos direitos destes Cidadãos”, afirma.

Desporto, dança, equitação, teatro, música, projectos internacionais e formação profissional são outras das dimensões da associação que ambiciona ainda ter uma nova Unidade de Vida Autónoma, uma casa de transição: “um passo mais avançado em direcção à autonomia”.

Uma outra aposta relevante da instituição tem sido a componente de formação profissional: “Para além do curso, procuramos colocá-los nas empresas e temos contacto permanente com o IEFP”, assinala.

“Eu costumo dizer que o ser normal é ser diferente. E temos que ter este princípio”, conclui Luís Amaral.

A APPACDM de Santarém é uma organização que começou por ser, há 50 anos, uma delegação de uma organização Nacional que se chamava APPACDM PORTUGAL. Santarém era o oitavo centro dessa organização nacional. No final dos anos 90, autonomizou-se, tal como as outras, que já existiam. Com isto, aproximou-se mais das pessoas e, ao longo deste meio século tem defendido e propagado valores como a ética e integridade, a excelência, a flexibilidade, o humanismo, a igualdade de oportunidades e o profissionalismo.

Fundada em 1972, a APPACDM de Santarém tem vindo, desde então, a intervir junto de pessoas com deficiência desde o nascimento (intervenção precoce), passando pela idade escolar (centro sócio educativo) e jovens adultos (centros de actividades ocupacionais, de recursos para a inclusão e formação e emprego). O seu primeiro Centro (o 8º a nível nacional) abriu as portas em 2 de Fevereiro de 1973.

Este Centro destinava-se a crianças portadoras de deficiência mental, não integráveis no ensino regular e iniciou as suas actividades com um grupo de 10 crianças de ambos os sexos, com deficiência mental, numa casa de habitação com a área aproximada de 200 m2 situada na Calçada de Mem Ramires.

Face às inúmeras inscrições de alunos, a Instituição viu-se obrigada a constantes adaptações e a alargar progressivamente a sua capacidade para 50 utentes, apesar das precárias condições das instalações.

Em 1977, a Delegação encetou negociações com a Congregação das Irmãs do Santíssimo Salvador para compra da Quinta de Nossa Senhora do Rosário, situada no Vale de Santarém. A 3 de Março de 1980, passou a Instituição a funcionar nestas novas instalações, adaptadas para o efeito, com a colaboração da Câmara de Santarém.

Dado que os utentes eram oriundos de vários concelhos do Distrito, a criação de um Lar de Apoio foi um imperativo. Abriu, nesse mesmo ano, a 16 utentes de ambos os sexos, residentes em lugares com dificuldades de transporte diário, funcionando de segunda a sexta-feira.

No ano seguinte novo desafio nos era lançado. A necessidade de integração, o mais precocemente possível, das crianças com deficiências, levou a abrir, em Junho de 1981, o Jardim de Infância “A Joaninha”.

“A Joaninha” iniciou as suas actividades com um grupo de 20 crianças de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 2 anos e 6 meses e os 7 anos, integrando 1/3 de crianças com deficiência mental.

Em 26 de Julho de 1984 foi assinado um protocolo com o IEFP para a criação da valência Pré-Profissional nas áreas de: agro-pecuária, argilas, carpintaria, encadernação, metais e têxteis.

Para os jovens com mais de 16 anos e sem possibilidade de integração na Pré-Profissional, foi criada a valência denominada Centro de Apoio Ocupacional, em Setembro de 1984. Esta valência permitiu um atendimento mais adequado às suas necessidades e capacidades.

Decorridos 17 anos, a Delegação de Santarém, tinha utentes com 27 anos de idade e mais velhos. Existiam, igualmente, pedidos de admissão de adultos que tinha perdido os seus familiares directos. A abertura de uma Lar Residencial na Av. dos Combatentes, em Santarém, com o apoio do Centro Regional da Segurança Social e da Santa Casa da Misericórdia de Santarém e com capacidade de atendimento para 12 utentes, em 7 de Fevereiro de 1990, permitiu dar resposta a estas situações de grave carência familiar.
Também em 1990, deu-se início aos cursos de Formação Profissional subsidiados pelo IEFP, nas áreas de: ajudante de cozinha, serralharia, carpintaria, encadernação e ajudante de jardinagem.

Em 2000, a APPACDM de Santarém que até então era uma delegação da APPACDM (Instituição Nacional), passou a ser autónoma. A Associação cresceu, o número de utentes aumentou, outras áreas de intervenção tiveram de ser abrangidas.

O Projecto de Intervenção Precoce de Santarém – PIPS – iniciado em 2001, passou a valência em Dezembro de 2003. Em Fevereiro de 2003 foi inaugurado um novo Centro de Actividades Ocupacionais, o CAO Aristides Graça.

Em 6 de Dezembro de 2005, iniciou actividades a Residência VAU, uma Unidade de Vida Autónoma. Para além destas valências, é preocupação desta Associação a promoção de actividades culturais, desportivas e lúdicas integradoras e promotoras de bem-estar físico e social e, neste momento, dá resposta e apoio regular a meio milhar de pessoas, nos concelhos de Santarém e Cartaxo.

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