Imagine-se, caro leitor, sentado calmamente num barco em águas calmas e, de repente, começa a balancear-se. O barco vai inclinar-se repetidamente para a direita e para a esquerda até retornar à sua posição inicial. Vamos agora imaginar que o movimento foi demasiado brusco… o barco vira-se e, neste caso, só lhe resta uma solução, a de lutar para voltar à tona.

É precisamente isto que está a acontecer com o nosso planeta. Estamos a chegar ao ponto, considerado por alguns cientistas, de “não retorno”. Vejamos o seguinte exemplo relacionado com o gelo que flutua no Oceano Ártico: o gelo que cobre a água permite a reflexão da luz do Sol, o que ajuda a mantê-la fria. Como a Terra está a aquecer, este gelo está a derreter e a sua extensão já não chega para cobrir todo o oceano. Com o encolhimento da calota glaciar, o oceano vai absorver maior quantidade de luz e a sua temperatura vai aumentar levando ao aquecimento do Pólo Norte.

Entrámos numa espiral. Como o Pólo Norte está mais quente, o gelo tende a diminuir e a temperatura do oceano a aumentar. Este fenómeno, designado pelos cientistas por feedback loop, entrará num ponto sem retorno a partir do momento em que o gelo for insuficiente para dinamizar todo o processo. Esta problemática afeta-nos a todos e surge associada ao fenómeno da Grande Aceleração. Em meados do século passado começámos a assistir a um aumento da população, da atividade económica, ao uso da energia, ao rápido aumento dos gases de estufa e foi aqui que percebemos que a temperatura começou a subir. A desflorestação, com particular enfoque nos trópicos, aumentou dramaticamente nos últimos 20/30 anos e isso também tem contribuído para o desequilíbrio do Sistema Terrestre. E como se não bastasse, ainda é possível acrescentarmos a esta narrativa, os plásticos e uma infindável lista de produtos químicos e de materiais radioativos desenvolvidos pelo Homem, onde ainda cabem as radiações eletromagnéticas associadas ao mundo digital (vejam-se as estações repetidoras existentes em todo o planeta). Não há sinais de a Grande Aceleração abrandar, antes pelo contrário. O relacionamento humano com o planeta tem vindo mudar e tem empurrado os seus limites para uma zona perigosa e confrangedora: o ponto sem retorno.

Esmagados pela pressão humana, os limites do planeta estão para lá do espartilho que nos garante o bom funcionamento dos processos biofísicos. O sistema climático tem vindo a degradar-se e a integridade da biosfera tem registado elevados níveis de preocupação com a camada de ozono e com a acidez do oceano; os aerossóis, partículas emitidas para a atmosfera, algumas delas naturais devido à temperatura e às poeiras, também relevam sinais preocupantes dada a poluição. Estes três exemplos condicionam o modo como a Terra opera, sobretudo ao nível da biosfera terrestre. O ciclo da água assim como a desflorestação, sobretudo na floresta amazónica e noutras florestas da Sibéria ou do Canadá, deveriam preocupar-nos a todos. Outro ciclo com evidentes sinais de rutura no Sistema Terrestre é o do fósforo e do azoto, muito ligado à agricultura. Todos estes sistemas estão sob pressão e ilustram bem os novos limites a que o Homem está a sujeitar o planeta. Não esqueçamos a concentração de metano retido no permafrost e nos sedimentos do fundo do Oceano Ártico. Com o degelo das regiões do norte do planeta, este gás (em conjunto com o CO2) contribui para o aumento das emissões gasosas com efeito de estufa. O calor necessário para o derretimento do permafrost liberta uma quantidade elevada de metano na atmosfera que concorre para o aumento acelerado do aquecimento da Terra e, se nada for feito, o derretimento da Gronelândia será, a prazo, irreversível.

O nosso principal desafio é restaurarmos a nossa ligação à natureza. Ainda que isso tenha de passar por ações coletivas, cabe-nos individualmente pressionar os governos a direcionarem o foco para a preservação dos ecossistemas. Este é um dos caminhos que nos leva para Fora da Caixa.

Pedro J. E. Santos – Estudante de Medicina na FMUL

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