Imigrante indiano a residir há dois anos em Santarém, Arjun Joshy, engenheiro mecânico, soltou-se das amarras dos abusos sofridos no trabalho agrícola e abriu uma oficina na cidade, empenhando-se agora em ajudar outros a fazerem o mesmo.

Com uma dezena de outros imigrantes, Arjun, natural do estado indiano de Kerala, esteve na praceta Amarela, no Bairro de S. Domingos, em Santarém, para falar com a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que apresentou as cabeças de lista aos órgãos autárquicos escalabitanos.

Foi ele que contou a história de Baldev, do Punjab, que trabalhava na agricultura, e, no dia em que sofreu um acidente de trabalho, cortando os dedos, foi deixado pelo patrão, sozinho, a sangrar, à porta do Hospital de Santarém.

Foi também Arjun que contou como viveu num quarto com 10 pessoas, recebendo 3,8 euros por hora, com horários das 07h00 às 18h00, muitas vezes também ao sábado e ao domingo, não tendo tido salário em Junho de 2020, situações que acontecem porque estes trabalhadores desconhecem as leis e têm dificuldades com a língua.

Carlos Beja, o escalabitano que tem ajudado muitos das centenas de trabalhadores imigrantes que vivem em Santarém, contou à Lusa como muitos vivem em casas sem quaisquer condições perante a indiferença generalizada.

Além de terem pagado entre 10 mil a 20 mil euros ao recrutador na Índia, ainda pagam mais 1500 a 1800 euros a quem os vai receber ao aeroporto, sendo depois “enfiados em casas sem quaisquer condições”, relatou.

Arjun explicou a Catarina Martins que todos têm contrato, o problema é que, disse, “a ilegalidade é feita em cima da legalidade”.

Segundo Carlos Beja, “há uma grande máquina montada”, de companhias indianas, algumas criadas num dia e encerradas no outro para logo nascer uma nova, e gente muito jovem que não esconde os sinais exteriores de riqueza, tendo “quase todos um elo português”, que faz os contactos com as explorações agrícolas.

Carlos Beja contou como as companhias indianas trazem 100 trabalhadores para 20 postos de trabalho, obrigando depois os imigrantes a trabalharem intercaladamente, recebendo valores que “não chegam para viverem”.

Por outro lado, disse, são levados a pagar grandes quantias por documentos com preços irrisórios, pela dificuldade em acederem aos serviços públicos, tarefa em que tem procurado apoiar, nas marcações e no contacto, devido às dificuldades com a língua.

“É uma falácia as pessoas pensarem que estas pessoas na Índia vivem num casebre. Não. Têm boas casas, bons carros, perseguem o sonho de ter o passaporte europeu que lhes permite terem uma vida melhor. A Índia tem muita corrupção, muitos deles trouxeram-na para Portugal. Paga-se por tudo. Há empresas, algumas delas detidas por indianos, que lhes pagam muito mal, as pessoas andam coagidas, com medo”, frisou.

Saudando o facto de muitos destes trabalhadores se estarem a conseguir autonomizar, procurando emprego directamente junto dos produtores, e a arranjar casas dignas, Carlos Beja assegurou que a empresa indiana que contrata muitos destes trabalhadores para trabalhos agrícolas os proibiu de comparecerem na sessão de hoje, levando a que muitos tivessem tido receio de aparecer.

Arjun afirmou que Santarém “não é Odemira, mas quase”.

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