Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, apresenta, pela primeira vez, a colecção de um criador de chapéus nacional: Luís Stoffel, natural de Santarém.
A sala de exposições temporárias do Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, apresenta, pela primeira vez, a colecção de um criador de chapéus nacional: Luís Stoffel, natural de Santarém.
Terá sido no Teatro de Revista, enquanto figurinista e aderecista, que descobriu a sua verdadeira paixão, a chapelaria. Inevitavelmente, o poder dramático das suas criações acabou por conquistar uma das personalidades mais reconhecidas do Teatro de Revista português, Filipe La Féria.
Nesta exposição, que foi inaugurada no passado dia 21 de Maio e se encontra patente até 30 de Abril de 2023, são apresentadas 77 peças, atemporais, que se distinguem e distanciam, das produzidas actualmente pelo mundo descartável da ‘fast fashion’.
São chapéus, toucados, fascinators e acessórios de cabeça esculturais, alguns criados especificamente para esta exposição e outros que irão integrar o acervo do museu. São também máscaras. Porque a pandemia por COVID-19 ditou o encerramento das salas de espectáculo.
Quando “a cortina se fechou” e o mundo entrou em confinamento, Luís Stoffel encontrou um novo objecto de criação, a máscara, onde aplicou as suas habilidades artesanais, intrínsecas à arte da chapelaria.
Apresenta-se, deste modo, pela primeira vez em Portugal, no grande espaço de exposições temporárias do Museu da Chapelaria, uma colecção única, onde o acessório de moda e o objecto de arte se confundem.
Uma fronteira imprecisa que se deve, essencialmente, aos materiais utilizados, ao acabamento meticuloso e requintado de cada uma das suas criações, ao uso de técnicas de alta-costura e a uma excepcional criatividade.
Luís Stoffel, recorde-se, foi uma das personalidades homenageadas pelo Correio do Ribatejo em 2021, no âmbito dos 131º Aniversário deste Jornal. Na altura, o criador desvendou um pouco do seu percurso que o levou até ao reconhecimento nacional e além-fronteiras: “Este tipo de trabalhos sempre me acompanhou desde criança.
Desde miúdo, na escola básica, sempre fiz os trabalhos manuais e tinha muito jeito. Na altura, em Santarém, não havia nada nesta área”, começou por contar. Apesar do gosto pelos trabalhos de Artes Plásticas, foi a dança que falou mais alto: com apenas quatro anos, iniciou-se no Grupo Académico e Infantil de Danças Ribatejanas de Santarém.
Anos mais tarde, iniciou a sua formação em Dança na FMH – Faculdade de Motricidade Humana, na Companhia de Dança de Lisboa e na Universidade de Marly Le Roi em Paris. Depois de muitos anos de dedicação à Dança a dar aulas, formações e em espectáculos no Algarve e em todo o país em geral, em 2002 inicia a sua atividade profissional como aderecista “autodidacta” no Teatro Politeama em Lisboa.
“Como gosto muito de musicais, era eu que confeccionava toda a parte de figurinos e adereços. Quando fui para Lisboa trabalhar, deixei a dança e vocacionei-me para adereços. A chapelaria, surge na minha vida quase de um momento para o outro. Porque me foi requisitado por Filipe Lá Féria, com quem trabalho. E tem sido assim a minha experiência até agora, a fazer chapéus, a coleccionar e a expor também”, conta.
Logo após o seu primeiro grande trabalho no musical” My Fair Lady “, encenado por Filipe La Féria, foi reconhecido devido ao seu trabalho na área da Chapelaria e convidado pelo mesmo, para trabalhar no Teatro Politeama.
Desde então, tem trabalhado como Aderecista e “Millinery” em todas as produções de Filipe La Féria, assim como, com outros Encenadores, Figurinistas, Estilistas e também na área da Moda, tanto em produções editoriais como em desfiles, sendo reconhecido e destacado pela revista Vogue como o melhor Designer português na área da Chapelaria.
“Todos os espectáculos do Filipe Lá Féria são desafiantes, porque são sempre muito difíceis de fazer. Ele, como encenador, é muito exigente. Eu também o sou comigo próprio. Todos os espectáculos que ele faz são um desafio”, revela.
Para Luís Stoffel o sucesso, em qualquer área, advém da dedicação e do muito trabalho: “as peças que mais gosto são as que são mais difíceis de executar, precisamente porque são desafiantes. Alguns levam muito tempo para serem feitos… podem levar dois dias, depende da minha vontade e criatividade”, conta.
“Quando o figurinista ou o estilista diz: “olha Luís tens toda a criatividade para fazer”, então, tenho que fazer a minha pesquisa, tenho que ter referências para fazer o trabalho. Há trabalhos que me saem de um momento para o outro, outros que vou fazendo e vou parando, e vou fazendo outros trabalhos para a criatividade me ir surgindo. Às vezes, queremos trabalhar, mas a criatividade não aparece. Não somos máquinas, somos pessoas. Por vezes, não é fácil que surja a criatividade quando ela é necessária. Quando há um trabalho com ‘timings’, aí, torna-se mais complicado porque temos que cumprir, e se a criatividade não existe então é trabalhar horas e horas, noite e dia para que as coisas aconteçam”, diz ao Correio do Ribatejo.
Segundo conta, o “segredo” do seu sucesso tem sido “muito trabalho”: “muitas vezes as pessoas não têm noção do trabalho, das horas de trabalho. Muita paixão e muito amor por aquilo que se está a fazer”, conclui.