O concelho de Mação será anfitrião, nos dias 11 e 12 de Dezembro, de dois eventos internacionais dedicados à Arte Rupestre Pré-Histórica, que coincidem com o 25.º aniversário da descoberta da arte paleolítica do Ocreza.

O diretor do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, Luiz Oosterbeek, destacou à Lusa a importância da realização conjunta destes encontros, afirmando que Mação “tem hoje um reconhecimento europeu e internacional raro” na área da arqueologia rupestre.

“É muito significativo que estes delegados venham precisamente no ano em que assinalamos os 25 anos da descoberta do cavalo paleolítico do Ocreza, a primeira vez que se descobriu arte paleolítica no sul de Portugal. Mação soube construir ao longo destas décadas um centro de excelência em investigação e património, e receber estes eventos confirma essa trajetória”, disse Oosterbeek.

Segundo a Câmara de Mação, o ‘workshop’ europeu TupART e a Assembleia Geral da associação Caminhos da Arte Rupestre Pré-histórica (CARP) vão reunir no auditório do Centro Cultural cerca de 50 investigadores e gestores de sítios rupestres de vários países europeus.

Os eventos coincidem com a celebração do 25.º aniversário do “Cavalo do Ocreza”, uma gravura rupestre paleolítica com mais de 20 mil anos descoberta no vale da Ribeira da Ocreza, a primeira manifestação paleolítica identificada no Médio Tejo, semelhante à arte do Vale do Côa.

Desde então, várias outras figuras — cavalos, auroques e cervídeos, alguns deles representados sem cabeça — foram descobertas, tornando o conjunto particularmente singular.

O primeiro dia será dedicado ao ‘workshop’ do projeto TupART, do qual são parceiros o município e o Instituto Terra e Memória (ITM), entidade presidida por Oosterbeek.

O arqueólogo afirmou que o projeto, apoiado pela Comissão Europeia, representa “uma oportunidade estratégica” para territórios rurais, afetados pelo despovoamento e fragilidades socioeconómicas, promovendo turismo sustentável ligado à arte rupestre, em territórios como os vales do Dordonha, a Cornija Cantábrica e regiões transfronteiriças do Douro e Tejo.

Durante o encontro, será ainda apresentada uma proposta de renovação das estratégias de gestão da arte rupestre, orientada para sustentabilidade e inclusão social.

No segundo dia, terá lugar a Assembleia Geral da CARP, rede fundada por Mação que coordena o Itinerário Cultural do Conselho da Europa dedicado à arte rupestre, reconhecido como Itinerário Cultural Europeu desde 2010 e que integra atualmente mais de 165 destinos em dez países.

Um dos momentos altos será o lançamento da primeira Cátedra de Arqueologia Rupestre da Europa, criada com apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia e atribuída ao Instituto Politécnico de Tomar (IPT), ficando sediada em Mação.

Oosterbeek considera que a cátedra “coroa décadas de investimento do IPT e da autarquia” e reforça que Mação “possui hoje algumas das mais avançadas metodologias técnico-científicas para o estudo da arte rupestre, do tratamento digital de imagens ao uso de inteligência artificial”.

O arqueólogo acrescenta que o trabalho desenvolvido em Mação tem projeção internacional, coordenando investigações na África do Sul, Brasil, Turquia e várias regiões europeias.

“É um centro pluridisciplinar onde se articulam investigação, património e desenvolvimento económico. A nossa intenção é reforçar ainda mais esse papel nos próximos anos”, afirmou.

A Câmara de Mação considera que a realização destes eventos “reforça o papel do concelho como referência internacional na valorização e salvaguarda da arte rupestre”, sublinhando o envolvimento da comunidade local, dimensão que Oosterbeek também destaca.

“A razão por que estamos em Mação é porque se construiu aqui uma relação fortíssima com a comunidade e com as instituições locais desde a descoberta do cavalo do Ocreza. Esse enraizamento é essencial ao trabalho que desenvolvemos”.

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