Cumpriram-se na, quinta-feira, dia 9 de Janeiro, 106 anos sobre a data de nascimento de Celestino Graça, um dos nomes mais marcantes do Ribatejo, cuja obra, pela sua relevância e grandeza, é incontornável em toda a região.

Cristina Graça Rodrigues – neta de Celestino Graça

Que recordações guarda do seu avô?

O meu avô faleceu, tinha eu três anos, era uma criança e as lembranças são poucas. Lembro-me de ir me buscar a casa, nessa altura, nós morávamos na Rua dos Cavaleiros (Rua Padre João Rodrigues Ribeiro) para irmos ao café (Café Central), onde eu pedia um garoto. Recordo-me de ir com ele as touradas e de ficarmos em cima dos curros ou de ficar a dormir em casa dos meus avós e de ele chegar a casa e eu correr no corredor para ele, pois gritava o meu nome à porta. Lembro-me de irmos dançar, com o grupo, aos barcos a Lisboa. Mas a noite que tenho mais nítida na minha memória, que hoje sei que foi na noite em que faleceu, é a de estar com a minha prima Inês e sua prima Clara em casa da Avó delas em Coruche para onde me levaram na noite da sua morte.

Que influência teve ele na sua vida?

A maior influência que o meu avô teve na minha vida, passa pelos ensinamentos que a minha mãe me transmitiu. Ela tinha uma grande ligação com o meu avô e a sua morte, foi-lhe muito penosa. Eu tinha três anos e o meu irmão cinco meses. A minha mãe, não foi logo para a direcção do grupo, mas connosco muito pequenos assumiu o grupo e ele passou a fazer parte das nossas vidas. Recordo muito o sentido de missão de representar a cidade, as tradições, de manter viva uma instituição que o meu avô criou e que devemos manter, com muito afinco e trabalho e por vezes até muito esforço pessoal.

Um episódio que a tenha marcado na sua infância?

Não tenho nenhum episodio específico, mas penso que o folclore e em particular o Grupo Académico, uma vez que faz parte da minha vida, ja que danço desde os dois ou seja há 45 anos que, ininterruptamente, estou no grupo, como componente e assumindo desde alguns anos funções directivas. O grupo, hoje após 44 anos da morte do meu avô tem uma história e é bom pensar que as instituições permanecem para além das pessoas que as criam e as integram. Acho que nos tranquiliza que o Grupo terá sempre futuro pois conseguimos passar a sua missão e valores às gerações vindouras.

Quais os principais valores que lhe foram transmitidos?

Os principais valores que me foram transmitidos foi o respeito, pois devemos saber respeitar os outros e as suas diferenças, aliás um dos princípios do festival internacionais de folclore que trouxe outras culturas e outras formas de vivências até Santarém, quando o meu avô o criou. Também a honestidade, onde agir com ética e transparência na nossa conduta e atitude. Tem sido desta forma que tenho conduzido a minha vida pessoal e profissional. A solidariedade, ou seja, o estarmos disponíveis para ajudar o outro mesmo, sempre que o passamos fazer. E penso, que a independência, de ser fiéis ao que pensamos e levarmos o nosso propósito a ser alcançado ou seja, não estar sujeita a ideais ou a princípios políticos e sociais.

A cidade está desperta para a real importância que ele teve, em termos de projecção da região?

Penso que depende da época, logo após a sua morte, mas muito impulsionado pelo seu grupo de amigo, foram feitas homenagens, um busto, concedido o seu nome à Praça de Toiros… Mas penso que a cidade em si, ou seja, a maioria das pessoas que vivem em Santarém, hoje, não tem ideia, se verificarmos não existe sequer um nome de Rua da cidade com o seu nome. Para além do Festival Internacional de Folclore, em que evocamos o seu nome, somente nas festas da cidade lhe fazem a homenagem. Penso que as instituições não têm dado a devida projecção nem têm sabido usar o seu legado em prol da própria cidade.

O que sente quando entra na Casa do Campino, na Monumental, ou visita a Feira da Agricultura (tudo legados de Celestino Graça)?

Sinto um orgulho por saber que foi o meu avô que dinamizou e consegui com a ajuda de muitos outros homens a sua construção: A casa do Campino, após o fogo que a anterior sofreu, a Praça de Touros, a Feira do Ribatejo e Feira Nacional de Agricultura, a qual apesar de o seu nome ser nacional, já tinha a presença de uma série de stands internacionais, o pavilhão da Holanda, de França, de Itália, entre outros. O meu avô era um homem com visão para a época, o ultimo pavilhão que criou, “o da Agricultura”, era amovível, ela já previa que a feira tivesse de sair daquele espaço, embora só tenha saído 15 anos após a sua morte. No entanto, os actuais gestores da Feira da Agricultura, o CNEMA, não tem qualquer palavra sobre ele, nem nunca o evocam, só tem o nome numa rua no espaço de exposição. Nunca recebemos qualquer contacto, nem mesmo a minha mãe, nos últimos anos de vida. Mas sim, saber que o meu avô consegui dinamizar uma feira que ainda hoje é representativa e importante para a cidade e para o país deixa-me bastante orgulhosa.

O que se pode fazer para que os mais jovens entendam a importância de preservar este tipo de memórias, ligadas a figuras que foram exemplo na nossa história?

Penso que passa por nas escolas, em cadeiras do tipo de cidadania, integrarem o que é a nossa cidade e a sua história e a forma como ela nos permitiu chegar até onde estamos e enquadra o que somos. No Grupo Infantil, tentamos explicar aos miúdos, o que representamos e tentamos incutir-lhes muitas das aprendizagens que obtivemos do legado deixado pelo meu avô. O Grupo Académico e Infantil foi e é uma escola viva onde ensina e transmitimos valores e princípios fundamentais para serem mulheres e homens melhores e mais responsável na sociedade em que vivemos.

Leia também...

Governo proíbe deslocações para fora do concelho de residência por cinco dias na Páscoa

O decreto do Governo que regulamenta a prorrogação do estado de emergência por mais 15 dias em Portugal proíbe deslocações para fora do concelho…

Escola Sá da Bandeira assinala ‘175 anos de futuro’

No próximo dia 11 de Outubro, a Escola Secundária Sá da Bandeira dá início às comemorações dos 175 anos de uma intensa actividade pedagógica…

Eutanásia

Dia 20 de fevereiro de 2020 foi um dia que ficará para a história. Nesse dia contribuí com o meu voto favorável para a…

Caminhada assinala Dia Internacional das Pessoas com Deficiência em Santarém

A cidade de Santarém associou-se às Comemorações Nacionais do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência e assinalou a data com uma caminhada solidária no…