A Associação Académica de Santarém assinalou na passada terça-feira, dia 05 de Outubro, o seu 90º Aniversário com a inauguração de uma nova sede no Campo da Feira. A caminho do Centenário, a Briosa, que é a casa de mais de três centenas de atletas, assume um passado de grandes conquistas e perspectiva um futuro igualmente ganhador. Ao Correio do Ribatejo, Carlos Esteves, presidente da AAS faz um balanço do actual momento por que passa o Clube cujo lema é “Formar a Ganhar”.

Que balanço faz deste seu tempo à frente da Associação Académica de Santarém?
Faço um balanço extremamente positivo. Já vou em mandato e meio e, na minha opinião, temos feito um bom trabalho no que diz respeito àquilo que é o papel da uma direcção num clube como este.
Temos desenvolvido o clube para lhe dar as ferramentas necessárias para que as equipas técnicas, todas elas, quer do futebol, quer da ginástica, tenham o que é necessário para desenvolverem, depois, um trabalho de qualidade em termos desportivos e de uma forma positiva.

Desde que tomou posse, que objectivos é que já viu serem concretizados?
Já conseguimos concretizar alguns, outros não, principalmente por causa da pandemia. Primeiro: conseguimos concretizar o objectivo principal, que era conseguir ter uma sede em condições para poder receber a nossa comunidade.
Tínhamos, também, o objectivo de ter um autocarro do clube e esse objectivo também foi conseguido. Hoje, já iniciamos uma nova fase, com o relvado novo na Agrária, que era outro dos objectivos.
Há também a preocupação de manter as contas do clube estáveis, mesmo com estes investimentos, e isso foi conseguido.
Em termos desportivos, não concretizamos todos os objectivos porque a pandemia não nos deixou. Na época de 19/20, os nossos objectivos estavam todos alcançados quando a pandemia começou.

Em que aspectos é que a pandemia veio afectar o nível do funcionamento do clube?
A pandemia trouxe obstáculos de vária ordem: obrigou-nos a pensar, a recriar, a adaptar. Tínhamos o objectivo de ter três equipas no futebol 11 e essa interrupção fez com que, não havendo subidas e descidas, por decisão da federação, nos tivéssemos de manter onde estamos. Tirou-nos atletas, criou várias formas de estar diferentes nos miúdos. Tivemos que nos adaptar para não perder os índices a que estávamos habituados, em termos desportivos.

E em termos financeiros?
Criou dificuldades, logicamente. Não aqueles que muita gente pensa, porque somos um clube organizado. Mas o facto de não termos organizado o Santarém Cup, que é um torneio que nos dá uma grande ajuda financeira, trouxe-nos alguns problemas. Mas o clube continuou a trabalhar: os patrocinadores nunca nos abandonaram, os pais não nos deixaram, todos colaboraram na mesma, independentemente de terem existido treinos ou não.
Isto demonstra que somos realmente um clube unido, um clube diferente. As equipas técnicas também nos ajudaram e foi possível manter uma certa estabilidade.
O município deu o apoio aos clubes precisamente no mesmo valor como se não tivéssemos parado, e isso foi, também, uma ajuda muito grande.
Os patrocinadores também continuaram a colaborar connosco. E a nossa maior receita, que são as inscrições e anuidades, mantiveram-se estáveis. Os pais dos atletas e os nossos associados não nos deixaram neste momento difícil.

Carlos Esteves

O que representa esta nova sede para a vivência do clube?
Este novo espaço vai-nos trazer, de certa forma, um reabilitar do clube, que é o que se pretende. Passar aos nossos o que se vive hoje e o que se viveu no passado. Para a nossa sede antiga, na cidade, temos objectivos claros de recuperá-la, e o tempo que nos permitem ficar nesta sede vai-nos dar possibilidade de conseguirmos, com apoios e uma grande força de vontade, recuperar a antiga sede.
Nesta primeira fase, esta sede no Campo da Feira permite ao clube ter um espaço seu. Um espaço onde a comunidade e o todo o staff a possa usar para seu benefício.

A ideia é, eventualmente, ficarem com os dois espaços?
Isso ainda não está definido. O espaço antigo está vazio, de momento. É necessário verificar o necessário para, eventualmente, conseguirmos voltar para lá. Quando o município nos atribuiu este espaço, demoramos aqui um ano para fazer a obra, com a intenção de melhorar as condições do espaço. Este era um edifício que estava em pé, mas em muito mau estado.
Hoje é visível que a AAS fez aqui um trabalho notável num espaço que estava praticamente abandonado. Depois de terminar este processo, queremos iniciar um outro que é a recuperação da sede antiga, que é histórica e tem muita importância para o clube.
Quando conseguirmos, eventualmente, recuperar a outra sede, logo vamos ver com o município o melhor a fazer. Se é manter as duas ou não.

Quais são os grandes objectivos da Briosa?
Os nossos principais objectivos são sempre em termos desportivos. Não querendo ser presunçoso, somos o maior clube do distrito e queremos manter essa dinâmica. Queremos manter o clube ao nível dos melhores. Isso só é possível quando tivermos as três equipas de Futebol 11 nos nacionais, e um campeonato Sub-23, que nós esperamos que a federação tome a iniciativa criar, dando a possibilidade aos clubes de chegar a um patamar que hoje não existe.
Outro dos grandes objectivos, é a ligação a um clube de renome: estamos a trabalhar nisso com muita determinação. Posso adiantar que estamos a fechar um acordo com o Alverca para a ligação dos nossos Sub-19 aos seniores. Isso vai fazer com que os nossos atletas, quando chegarem aqui connosco, ao fim de linha, continuem a sonhar e, aqueles que quiserem ou que lhes seja possível, continuarem a trabalhar nesse sentido.
Isso é determinante: não basta fazer um grande trabalho ao nível da formação, é preciso que exista uma continuidade. Vamos continuar a formar homens e atletas, em condições, para que eles possam integrar as respectivas ligas profissionais.
Achamos que temos qualidade para isso, e essa ligação, que estamos a fechar, vai ser muito importante.

A substituição do relvado na Agrária está a terminar neste momento. Qual é o próximo passo?
O primeiro passo era, como é sabido, substituir o relvado. O município proporcionou isso. É uma grande ajuda, porque o nosso relvado antigo estava realmente em fim de linha. O próximo passo é relvar o campo de rugby para que possamos dar continuidade ao nosso trabalho. Tenho a promessa do município que isso será feito até ao final do ano.
É muito difícil para nós, com 300 atletas, trabalhar num campo de 11 e num campo de 7. Somos um clube certificado pela FPF há três anos consecutivos, com três estrelas, que é o máximo que um clube de formação sem seniores pode ter. E nas condições que temos de treino, e com as exigências que são hoje criadas, esse campo é determinante para conseguir manter os níveis de qualidade que temos tido até agora.

Seria complicado para a AAC funcionar sem a parceria da Agrária?
Sim. A Agrária, em nome do seu director, Eng.º António Azevedo, tem sido determinante para esta possibilidade de crescimento. Tem havido uma cooperação muito grande entre a AAS e a ESA. É uma relação muito saudável e positiva. Há um respeito mútuo muito grande e isso tem-nos ajudado imenso a sonhar e a crescer.

A AAS, já o referiu, é uma entidade formadora certificada. É um orgulho verem clubes portugueses captarem jogadores a Santarém?
Sim, logicamente. E fomos um clube que obteve essa certificação logo no primeiro ano de exigência. Grande parte dos clubes só o conseguiu agora, ao fim de três anos. É sinal de organização, de emprenho e entrega. E destaco a nossa coordenação técnica, liderada pelo Prof. Fernando Santos e Leonel Madruga, que permite que o clube tenha um nível de exigência muito grande e isso está espelhado na certificação, que é um processo extremamente doloroso, complicado e burocrático e nós conseguimos supera-lo à primeira. Isso faz com que me sinta muito orgulhoso por isso.

Viram-se forçados a cancelar duas edições do ‘Santarém Cup’ devido à Covid-19. O que está pensado para o ano?
Já estamos a trabalhar nesse evento e há uma equipa constituída para trabalhar especificamente no torneio, que será o maior de sempre organizado por nós. Será realizado em 2022, na semana antes da Páscoa. O formato do torneio ainda não está a 100% fechado.

Que balanço faz deste arranque de campeonato?
Ao dia de hoje, só temos ainda duas equipas a competir nos Nacionais. Sinceramente acho que o balanço é muito positivo, o arranque foi muito bom, estamos em primeiro lugar na série onde estamos inseridos. Temos ambições muito grandes para esta geração e para esta equipa liderada pelo Prof. Fernando Santos.
Ao nível dos juniores, criamos uma equipa com condições para poder fazer um bom Nacional. O arranque não foi positivo, só temos um empate, no entanto acredito que vamos dar a volta. A equipa andou três meses com a ‘casa às costas’ por causa do relvado e isso criou ruido, criou desgaste. Esperemos que agora, que a obra está concluída, que o clube estabilize nesse sentido e que os juniores volvem às vitorias e consigam o objectivo que é a manutenção.
´
Para o clube é mais importante formar jogadores e homens para a vida ou vencer competições?
O nosso lema, desde há três anos para cá, é “Formar a Ganhar”. Nós formamos a ganhar. No entanto, não ganhamos a qualquer preço. Não prescindimos dos processos de formação para ganhar. Tentamos criar condições para que todos os miúdos possam ter o tempo de jogo e treinem nas mesmas condições que todos os outros.
Sendo que há aqui fases que são importantes destacar: até aos infantis, não temos qualquer objectivo de ser campeão de nada, é jogar, é formar, é criar adversidade aos miúdos para eles possam crescer e ganhar maturidade. Quando chegamos aos iniciados, temos objectivos claros de ser campeões distritais, nomeadamente este ano temos esse objectivo.
Quando chegamos às equipas de 11, aí já entramos num processo de competição à séria, aí já é diferente. Há uma competição, há o formar, há o ganhar, há o querer ficar. Resumidamente, tal como já tinha referido, é “Formar a ganhar”.

Quem entra na nova sede vê uma série de fotografias, de história viva do clube. Quem pertence à AAS é-lhe incutido esta mística?
Sem dúvida, isto é um clube com uma história que está espelhada nestes quadros, são 90 anos. Quem entra aqui, consegue ver imediatamente que não somos um clube qualquer. A ideia desta entrada na sede é que quem entra “entre” logo na história. Há um processo seguinte que será o actual e o passado recente. A ideia é que quando os miúdos aqui entrem sintam que estão num clube que já ganhou muito, e que tem uma história imensa.

Para além do futebol que outras secções há no clube?
Temos a ginástica, que está com um desenvolvimento fantástico, já temos cerca de 180 atletas. Tivemos um par que foi campeão nacional recentemente. Tânia Carrapeta e as suas equipas técnicas tem feito um trabalho fantástico. Esse trabalho deve-se a ela, apesar do clube apoiar com as condições necessárias, é para isso que cá estamos, em termos desportivos o mérito é todo dela e dos atletas, claro. Temos, depois, o Jiu-jitsu e a Petanca, que é recente, e esperamos que com o final da pandemia possamos retomar em pleno as actividades.

Que mensagem quer deixar aos atletas, dirigentes e adeptos?
Queria agradecer a todos os técnicos, direcção, encarregados de educação, equipas médicas e respectivos atletas pela resiliência e pela forma como continuam a acreditar em nós e continuam a estar ao nosso lado.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…