O presidente da Câmara de Sardoal rejeitou os “discursos miserabilistas” sobre os territórios do interior, tendo destacado o seu “potencial e qualidade de vida”, sublinhando a sua máxima “interioridade não é sinónimo de inferioridade”.
“Nós, decisores políticos, cada um à sua escala, somos os principais responsáveis por uma mentalidade miserabilista própria de uma enorme falta de auto-estima política ao teimarmos em não afirmar o território que temos obrigação de defender pela positiva”, disse Miguel Borges (PSD), professor e actual presidente da Câmara Municipal de Sardoal, no Centro Cultural Gil Vicente, no âmbito de uma conferência que debateu o “Crescimento e Sustentabilidade” daquele município e que contou com um painel de diversos oradores.
Tendo lembrado que a máxima que o acompanha há cerca de três décadas decorreu do título do primeiro projecto educativo criado pelo Agrupamento de Escolas de Sardoal, onde leccionava, Miguel Borges sublinhou a importância em afirmar a interioridade “não como um factor negativo”: “Mas sim valorizando o que de bom temos, o que de bom sabemos fazer”, como factor distintivo e atractivo.
“Ao longo de mais de quatro décadas de poder autárquico, muitas foram as infra-estruturas que por cá foram criadas, melhorando a qualidade de vida destes territórios, chamem-lhes deprimidos, de baixa densidade, seja o que for”, disse, reiterando recusar-se “a entrar num discurso miserabilista em que nada valoriza o território”, no caso o Sardoal, a cerca de 160 quilómetros de Lisboa.
O autarca lembrou a criação de infra-estruturas desportivas, culturais, de saúde, de educação e de vias de comunicação, “aproximando a região da capital (…) e a pouco mais de uma hora de viagem”, e afirmou que este município do interior “é tão bom que até fica perto do mar” e que “até aeroporto tem”, notando que “o aeroporto Humberto Delgado fica praticamente à mesma distância/tempo que o Aeroporto Charles de Gaulle ao centro de Paris”.
A partir destes pressupostos e da máxima que serve de bandeira a Miguel Borges, foi definida uma estratégia de valorização do território “pelo de bom que ele tem” e de como poderiam ser “diferenciadores, acrescentando valor”, plasmada em dois documentos orientadores: a Estratégia Integrada de Desenvolvimento de Sardoal e o Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico para o Concelho de Sardoal.
Dois documentos que, “considerando as características do concelho, procuram responder às necessidades, alicerçadas por um passado forte, potenciador de um futuro promissor”, tendo o autarca destacado a vertente do turismo religioso.
“Assentámos uma boa parte da nossa estratégia no âmbito da fé e da religiosidade, onde incluímos todos estes recursos que temos vindo a transformar num produto de valorização e criação de riqueza no nosso território”, disse, relevando a candidatura para a classificação da Semana Santa a Património Cultural Imaterial e o Centro de Interpretação da Semana Santa e do Património como exemplos de “estratégia criadora de produtos duradoiros e sustentáveis”.
Organizada pelo grupo editorial Vida Económica e pelo município de Sardoal, a conferência teve ainda como oradores Augusto Mateus, consultor e antigo ministro da Economia, Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, Conceição Pereira, técnica coordenadora da TAGUS, e Sérgio Nunes, professor do Instituto Politécnico de Tomar, ao que se seguiu uma mesa-redonda e debate sobre o “Crescimento Sustentável na Região” com a participação de diversos empresários.