A Liga dos Bombeiros Portugueses exigiu hoje medidas adicionais para resolver o problema da falta de ambulâncias devido aos constrangimentos nas urgências hospitalares, acusando o Centro de Orientação de Doentes Urgentes de demorar nas decisões de encaminhamento dos doentes.
Em declarações à Lusa, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) considerou inadmissível a existência de situações em que “os doentes têm de esperar 30 a 35 minutos dentro de uma ambulância para que o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] diga qual o hospital de referência” para onde devem ir.
“Já chamamos a atenção do presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para isso e o CODU tem que funcionar de forma diferente. O CODU tem que funcionar em regime de crise e não em regime natural”, disse António Nunes, acusando este centro de “demorar tempo a atender as chamadas e a decidir”.
O responsável deu conta de que das reuniões que tem mantido com comandantes dos bombeiros é reportado que “estão cerca de 30 minutos com o sinistrado dentro da ambulância à espera de saber qual o hospital” para onde devem ir.
Como exemplo, referiu que há pouco tempo um doente que estava a 10 minutos do hospital de Santarém teve 35 minutos à espera que o CODU decidisse qual a unidade de saúde e acabou por ser transportado para as Caldas da Rainha, a uma distância muito superior.
O presidente da Liga afirmou que “o encerramento de urgências hospitalares estão a ter fortes implicações nas missões de socorro dos corpos de bombeiros” que “não podem continuar a ser confrontados todos os dias com indicações de deslocação de doentes e sinistrados a dezenas de quilómetros do hospital de referência”.
Nesse sentido, defendeu que “é preciso tomar medidas de urgência para que não faltem ambulâncias nos corpos de bombeiros”.
Os dirigentes da LBP já alertaram o ministro da Saúde e o presidente do INEM para a possibilidade de faltarem ambulâncias nas corporações dos bombeiros devido ao tempo que um pedido de socorro pode demorar com os atuais constrangimentos nas urgências dos hospitais, mas ainda não obtiveram qualquer resposta.
António Nunes frisou que a LBP já apresentou ao Governo e ao INEM algumas sugestões, nomeadamente a contratualização temporal, até ao final do ano, de 90 ambulâncias adicionais, que seriam colocadas nas corporações com situações mais problemáticas.
De acordo com a LBP, as ambulâncias seriam contratualizadas através do INEM e mobilizadas ao serviço do CODU.
“Estamos muito preocupados, achamos que pode vir a correr mal alguma situação e essa responsabilidade não será dos bombeiros”, disse, referindo-se ao caso de algum doente morrer numa ambulância.
António Nunes lamentou também que não exista qualquer medida adicional de emergência para resolver a situação, que se tem vindo a agravar nos últimos tempos devido aos constrangimentos das urgências estarem a atingir um maior número de hospitais.
Segundo o responsável, inicialmente a situação era muito centralizada em Santarém, região do Oeste e Médio Tejo, Setúbal e Loures, mas agora “há mais corpos de bombeiros a sentir essas dificuldades e a ver perturbado o ser normal funcionamento”.
“Os bombeiros estão a ter algumas situações de elevada complexidade, porque as distâncias são maiores, os doentes estavam a ser encaminhados para distâncias que não eram habituais e, em alguns casos, há uma maior demora na triagem”, precisou.
A LBP indicou ainda que os bombeiros fizeram cerca de 900 mil serviços em 2021, ano da pandemia de covid-19, enquanto este ano e até data já fizeram cerca de 1,2 milhões de serviços.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos.