Os Bombeiros Voluntários de Santarém têm sido uma força vital no socorro e segurança da cidade, mantendo-se ao serviço da população há mais de 150 anos. O Comandante da corporação, Rui Carvalho, que começou a sua carreira aos 13 anos, destaca, ao Correio do Ribatejo, o crescimento do efectivo, a necessidade de mais recursos e os desafios enfrentados diariamente pelos bombeiros.

Um dos marcos mais importantes na história recente dos Bombeiros Voluntários de Santarém foi a inauguração do novo quartel em 2007. Antes dessa mudança, a corporação contava com um efectivo de apenas 25 a 30 elementos, o que, segundo o Comandante Rui Carvalho, se devia em parte às condições inadequadas do antigo quartel. “Não tínhamos as condições adequadas no quartel antigo para receber pessoas, e isso não atraía novos voluntários. A mudança para o novo quartel foi um grande marco na história desta associação”, afirmou o operacional que conta com mais de quatro décadas de serviço.

Desde então, a corporação cresceu significativamente, contando agora com quase 80 elementos no quadro activo. Este aumento de pessoal foi crucial para a melhoria das operações de socorro, permitindo hoje, à corporação, garantir 95 por cento das ocorrências na cidade de Santarém. 

“Hoje estamos bem, com um efectivo sólido, mas como os nossos bombeiros são voluntários, é normal que alguns sigam outras oportunidades ao longo do tempo”, comentou, considerando ser crucial encontrarem-se mecanismos para o reforço da atractividade da carreira.

Apesar do crescimento, a corporação enfrenta desafios contínuos na captação de novos voluntários. Rui Carvalho destacou a dificuldade em atrair novos elementos para a corporação, especialmente num contexto onde a vida profissional e pessoal dos candidatos precisa de ser equilibrada com o compromisso exigido pelo voluntariado. 

“Precisávamos de uma injecção de mais profissionais. Actualmente, temos 24 profissionais que garantem 95% das ocorrências em Santarém. Com mais 12 a 14 pessoas, poderíamos garantir 100% do socorro na cidade”, explicou o Comandante.

Os dados fornecidos pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) confirmam os números desta corporação, numa área partilhada com os Bombeiros Sapadores da cidade. 

Investimentos necessários em equipamentos

Além dos desafios humanos, a corporação também enfrenta necessidades em termos de equipamentos. Rui Carvalho mencionou que, nos últimos anos, houve um investimento significativo na compra de ambulâncias de socorro, aumentando o número de dois para sete veículos. “Foi um investimento muito grande, mas necessário, porque a parte operacional o exigia. Agora temos um efectivo de sete ambulâncias de socorro ao serviço da nossa população, o que nos permite garantir os números actuais de 95% das ocorrências em Santarém”, afirmou.

No entanto, a corporação ainda carece de um veículo urbano de combate a incêndios, uma necessidade que se torna cada vez mais urgente, especialmente na zona do centro histórico de Santarém. “Não foi possível adquirir este veículo ao abrigo do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) porque os apoios financeiros não chegavam para cobrir a despesa, que ronda o meio milhão de euros”, explicou. A necessidade de um veículo moderno, capaz de responder aos desafios urbanos, é tido como essencial para garantir a segurança da população em áreas de difícil acesso, como o centro histórico.

Formação e capacitação contínuas

A formação dos bombeiros é outro ponto crucial destacado pelo Comandante. A corporação segue um plano de instrução anual, conforme exigido por lei, complementado pelas formações certificadas pela Escola Nacional de Bombeiros. No entanto, Rui Carvalho salientou as dificuldades logísticas que os voluntários enfrentam para frequentar estas formações, que muitas vezes ocorrem durante o horário de trabalho normal, de segunda a sexta-feira. “Isto traz uma grande ginástica para nós, que precisamos de saber com antecedência quando as formações vão ocorrer, para podermos coordenar com as entidades patronais dos bombeiros voluntários”, explicou.

Apesar destas dificuldades, todos os bombeiros da corporação estão certificados. No entanto, há outros cursos que os voluntários gostariam de frequentar, mas que são dificultados pela falta de flexibilidade nos horários de formação. Por isso, Rui Carvalho sugere que a Escola Nacional de Bombeiros poderia oferecer mais formações aos fins de semana, para agilizar melhor as necessidades dos voluntários.

Um ano de menor incidência de incêndios

O ano corrente tem sido relativamente calmo em termos de incêndios florestais e rurais, uma tendência que o Comandante atribui a uma combinação de factores, incluindo mudanças climáticas e melhorias na prevenção. “Este ano temos tido menos ocorrências de incêndios comparado com o ano anterior. Até ao momento, registámos 56 ocorrências desde Maio, enquanto no ano passado, nesta mesma altura, já tínhamos cerca de 100 ocorrências”, afirmou.

Apesar da diminuição de ocorrências, a corporação mantém um dispositivo de resposta activo, com duas equipas de 10 bombeiros disponíveis em permanência. A preparação continua a ser uma prioridade, com o Comandante a enfatizar a importância da prevenção e da consciencialização da população para evitar situações de risco.

Parcerias e colaboração com as freguesias

Rui Carvalho destacou ao Correio do Ribatejo a necessidade de uma maior colaboração entre a corporação e as juntas de freguesia na sensibilização da população para a prevenção de incêndios. “Isto tem que ser trabalhado ao nível das freguesias, e deve haver uma partilha de informação durante todo o ano, não só quando chegam os incêndios. Estamos disponíveis para fazer parcerias com as freguesias para aconselhar as pessoas sobre o que deve ser feito para evitar incêndios”, explicou.

Reivindicações e conquistas: O novo Posto do INEM

Um dos grandes avanços para os Bombeiros Voluntários de Santarém foi a conquista de um posto do INEM, uma reivindicação antiga da corporação. “Quando entrei para os bombeiros, já se falava num posto do INEM em Santarém. Na altura, o INEM estava nas instalações da PSP, mas agora finalmente conseguimos trazer este serviço para a nossa corporação”, relatou. Esta conquista é vista como um reconhecimento do papel crucial que os Bombeiros Voluntários desempenham na área do socorro em Santarém.

Actualmente, a corporação é responsável por cerca de 2.800 ocorrências de assistência pré-hospitalar desde o início do ano, um número significativamente superior ao que se registava há cinco ou seis anos. “Na sub-região da Lezíria do Tejo, somos o corpo de bombeiros com mais ocorrências na área do socorro, o que demonstra a nossa capacidade e dedicação”, afirmou o Comandante.

Desafios de financiamento e apoio municipal

Apesar das conquistas, os Bombeiros Voluntários de Santarém continuam a enfrentar desafios financeiros. Rui Carvalho mencionou que a corporação recebe uma fatia de 6.200 euros mensais da Câmara Municipal de Santarém, valor que considera insuficiente para cobrir todas as necessidades operacionais. “Acredito que a Câmara de Santarém poderia ajudar mais. A fatia que recebemos é conhecida por todos, mas na minha opinião, não é suficiente”, disse.

O Comandante destacou que a corporação está a trabalhar em projectos para obter financiamento adicional de empresas e outras entidades, mas sublinhou que o apoio municipal continua a ser crucial. “Esta fatia de apoio deveria ser proporcional ao trabalho de socorro que fazemos. Hoje, somos o corpo de bombeiros número um no concelho, e isso deve ser reflectido no apoio que recebemos”, defendeu.

Uma mensagem de gratidão e compromisso

Para terminar, Rui Carvalho deixou uma mensagem de agradecimento aos seus operacionais e às suas famílias, reconhecendo o sacrifício e a dedicação que fazem para garantir o socorro à população de Santarém. “Quero agradecer a todos os meus homens e às suas famílias pela disponibilidade e pelo trabalho conjunto. Temos colhido muitos frutos do nosso esforço, e estou confiante de que, com a continuidade deste trabalho, conseguiremos garantir 100 por cento das ocorrências em Santarém no próximo ano”, concluiu.

O Comandante reafirmou o compromisso dos Bombeiros Voluntários de Santarém em servir a comunidade, garantindo que a corporação estará sempre presente para responder às necessidades da população. “Nunca iremos abandonar a nossa missão. Estamos aqui para servir, servir, servir”, finalizou.

Com uma história de dedicação e serviço à comunidade, os Bombeiros Voluntários de Santarém continuam a ser um pilar essencial na segurança e socorro da cidade, enfrentando os desafios do futuro com determinação e profissionalismo.

A corporação dos Bombeiros Voluntários de Santarém é uma das mais antigas de Portugal. Foi oficialmente fundada a 29 de Outubro de 1871, sendo a segunda associação de bombeiros mais antiga do país. A sua génese remonta a 18 de Dezembro de 1870, quando foi constituída uma Comissão com o objectivo de criar uma organização dedicada à protecção e socorro da população. 

Ao longo dos anos, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Santarém foi reconhecida como Pessoa de Utilidade Pública devido ao seu importante papel na comunidade. Em 2021, a associação celebrou o seu 150.º aniversário, marcando um século e meio de serviço contínuo à cidade e à região de Santarém.

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