Foto de Arquivo. Carlos Manuel Martins

O festival Bons Sons, a comemorar dez edições realizadas em 13 anos, lançou esta segunda-feira, 11 de Março, um manifesto que define em dez pontos a missão da iniciativa que mudou a realidade da aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar.

“Há dez edições que o Bons Sons é mais do que um festival, é uma aldeia em manifesto”, defendeu hoje a organização, que este ano terá lugar nos dias 8 a 11 de Agosto, na aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, distrito de Santarém.

O manifesto divulgado hoje define em dez pontos a “missão e a realidade” do festival e da aldeia, que “querem existir pela contemporaneidade no campo, por uma plataforma cultural, pelo planeamento do território, pela cidadania participativa, pelo envelhecimento activo, pelo ensino em comunidade, por projectos de território, por uma acção sustentável, pela criação de espaço público e pela cultura popular”.

Organizado pelo Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOCS), envolvendo toda a comunidade local na sua preparação, o evento aposta numa “visão contemporânea do campo”, sem olhares “paternalistas do espaço rural”, em cujas paisagens “cabe às novas gerações conquistar os seus caminhos”, defende o manifesto.

Nesse sentido, o festival e a aldeia trabalham anualmente “para dar a conhecer a produção cultural”, apostando em projectos criados em Portugal, por portugueses ou estrangeiros, em português ou noutra língua.

“Criámos uma plataforma que coloca artistas e público em lugares de entendimento”, sublinha a organização, considerando viver de projectos “que trazem o novo, o aculturado e o refrescante”.

Convictos de que o “êxodo rural resulta da falta de perspectivas para o campo”, os mentores do festival defendem a cultura como “instrumento para o planeamento, fixação e atracção do território”, optando por uma “cidadania participativa”.

Em Cem Soldos defende-se o envelhecimento activo num modelo “intergeracional” em que todos “têm um papel na comunidade em que se inserem”, bem como o ensino em comunidade, com as escolas a exerceram um papel fundamental para “pensar e activar” os territórios.

“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, pode ler-se no manifesto hoje divulgado, que defende “modelos de ensino práticos, adequados e ajustados que confiram às crianças uma dimensão local e global”.

“Cansados de projectos que existem enquanto há fundos e acabam assim que as linhas de financiamento mudam”, festival e aldeia recusam “projectos de gabinete que não tocam o território e que não têm parceiros locais”, e apelam ao financiamento daqueles que se revelam “multiplicadores, criadores de sentido e de riquezas”.

A sustentabilidade, um dos pontos fulcrais do festival, é também abordada no manifesto que defende “dinâmicas ecológicas, económicas e sociais” na aldeia que tem por lema “viver com o que a terra dá”. E Cem Soldos “dá pessoas”, vincam os autores do manifesto.

Para essas, as que vivem e as que visitam Cem Soldos, defendem o espaço público, o “habitar a rua” como espaço de “encontro e de partilha”, de promoção da cultura popular e a “sua devida apropriação pelas suas comunidades”, conclui o manifesto.

O festival Bons Sons é organizado desde 2006 pelo SOCS e manteve-se bienal até 2014, após o que passou a realizar-se anualmente tendo recebido, em oito edições, 278 concertos e 238.500 visitantes.

Durante o festival, a aldeia de Cem Soldos é fechada e o seu perímetro delimita o recinto que acolhe oito palcos (cada um dedicado a uma linha programática) integrados nas ruas, praças, largos, igreja e até garagens.

São os cerca de mil habitantes da aldeia que organizam e montam o festival, ao longo do qual acolhem e servem os visitantes, numa partilha que distingue o Bons Sons dos restantes festivais nacionais.

A par da formação de públicos, o Bons Sons tem como principal meta o desenvolvimento local através da fixação dos mais jovens e da potenciação da economia local.

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