Todos tourearam muitíssimo bem e a corrida foi um êxito enorme – que Lisboa merecia e que a Festa precisava. Mas ninguém toureou tão bem como o Miguel Moura, que foi, na realidade, um assombro, um destaque.

Decidido, esperou o toiro em emotiva sorte de gaiola e depois abriu o livro e foi um nunca mais acabar de grandes momentos, o público sempre de pé, em alvoroço, galvanizado pelo toureio de mestre da jovem figura. Ferros de grande verdade e emoção a pisar terrenos de compromisso, ladeios de arrepiar, brega certíssima, fibra de grande lidador. Melhor era impossível. Ainda hoje estou para perceber as razões pelas quais não saiu em ombros pela Porta Grande. Esqueceram-se de lha abrir, certamente…

Tudo o mais foi também muito bom. A pequena temporada do Campo Pequeno não podia ter tido um final mais apoteótico. Para isso contribuíram os belíssimos toiros da ganadaria António Charrua, na generalidade com pesos astronómicos e pouco condizentes com a normal morfologia do toiro bravo – por ordem de saída: 684, 582, 634, 674, 554 e 632 quilos! – mas mesmo assim com mobilidade, alguma transmissão e comportamento aceitável, sem grandes rasgos de bravura, sem maldade, com nobreza, a irem pelo seu caminho, apesar de alguns terem tido bruscas e desalinhadas investidas. O jovem ganadeiro Diogo Charrua foi premiado com volta à arena no segundo toiro, com Pablo e o forcado de turno. Idêntica honraria podia também ter acontecido no magnífico quarto toiro, superiormente lidado por Miguel Moura e que foi belíssimo.

Luís Rouxinol abriu a noite com uma lide genial de plena maestria; Pablo Hermoso de Mendoza exibiu os seus dotes de magia com um toiro magnífico que não acabou mais, pôs ferros e mais ferros, recriou-se em adornos de maravilha e arte; Duarte Pinto esteve brilhante, sem espaventos, com a sobriedade e a classe de sempre, fazendo tudo certo e bem feito; Luís Rouxinol Júnior lidou um toiro mais reservado e algo complicado, com o qual aliou o muito bom a alguns deslizes, mas com um final positivo; e Guillermo Hermoso de Mendoza enfrentou o toiro mais complicado da noite, dizem que andou de sobrero de praça em praça, a verdade é que não foi fácil, valeu a muita entrega e o bom momento que atravessa para levar o barco a bom porto. Mas com Miguel Moura, a música foi outra. Diferente, melodia daquelas que se não esquecem mais, lição histórica de maestria enorme, a arte feita magia, a ousadia feita arrojo e afirmação.

Toiros pouco fáceis, a provocar quase sempre a necessidade de os forcados os irem buscar ao seu terreno, de difíceis e imprevisíveis arrancadas, onde tudo pode acontecer. Com força e mobilidade, alguma transmissão e uns picos de emoção.

Estiveram muito bem os dois Grupos, quer no que respeita aos forcados de cara, quer no que concerne às ajudas. A temporada da capital, no que aos forcados diz respeito, fechou com chave de ouro as suas portas, com dois Grupos em excelente momento de forma e a justificar em pleno, qualquer um deles, a inclusão nesta corrida de gala de encerramento do ano taurino lisboeta.

Pelos Amadores do Aposento da Moita foram forcados de cara o Cabo Leonardo Mathias, consumando com técnica e brilhantismo à primeira; João Freitas, outro forcado de eleição, também ao primeiro intento; e o não menos consagrado Martim Cosme, forcado com um jeito especial de citar e ir ao encontro do toiro, como que caminhando contra o perigo, que pegou à segunda, depois de sofrer um violento e duro derrote na primeira tentativa.

Na segunda intervenção, o toiro desviou a rota, fugiu ao Grupo, mas Martim nunca saiu da cara do oponente, fechado com decisão e muito querer. Grande pega!

Pelos Amadores de Cascais – Grupo que alguns maldizentes criticaram por estar presente neste cartel, mas que calou tudo e todos pela forma brilhante como esteve em praça, justificando em pleno a razão de ali estar – pegaram os experientes Afonso Cruz, ao primeiro intento, fechado com decisão, aguentando um alto e forte derrote sem desarmar, muito bem ajudado pelos companheiros; o grande Rui Grilo, forcado de créditos firmados, que se iniciou no Grupo do Redondo e há vários anos vestia a jaqueta dos Amadores de Cascais, tendo ontem feito a sua última pega, despedindo-se sem, contudo, despir a jaqueta, pegando com grande emoção o quarto toiro da corrida à segunda, depois de na primeira tentativa se ter aguentado na cara do toiro até mesmo “às últimas” (com poucas ajudas). Grande pega, duas voltas à arena com Miguel Moura, um abraço no centro da arena ao Cabo Paulo Loução e ainda uma ida ao centro com forte ovação do público – adeus, grande Forcado! A última pega, ao sexto toiro, foi consumada à primeira por outra glória dos Amadores de Cascais, o valente e valoroso Carlos Dias, forcado de gabarito.

No início da corrida foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória de Dª Ilda Salvador, Mãe do cavaleiro Rui Salvador. A corrida foi antecedida do majestoso cortejo de gala à antiga portuguesa a evocar as históricas Touradas Reais. Após as cortesias foram distinguidos pela Empresa o veterano rejoneador D. Álvaro Domecq e seus sobrinhos Luís e António. Boa direcção de João Cantinho, que esteve assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva. Brindes de alguns cavaleiros e forcados a Álvaro Domecq e também um dos forcados moitenses ao canal televisivo espanhol OneToro, na pessoa dos comentadores David Casas, Paulo Caetano e João Vasco Lucas. (M. A./ Farpas)

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