Can’t Skip Portugal foi uma campanha de marketing, lançada pelo Turismo de Portugal em 2017. Repartida em 4 filmes, a campanha focou-se na mensagem de que Portugal é incontornável como destino turístico autêntico e único, com tanto para ver, provar, sentir e experimentar. Can’t Skip Portugal foi a campanha sobre Portugal mais vista de sempre, com mais de dez milhões de visualizações desde o seu lançamento. Apesar de ter sido implementada em 20 países, acabou por chegar a mais de 200.

Can’t Skip Portugal marca o arranque desta nova fase de Portugal como potência turística de nível mundial. Segundo dados do Turismo de Portugal de há alguns dias, o nosso País regista em 2025 mais de 26,5 milhões de entradas, o que nos coloca como o 12º destino turístico mundial, com uma entrada de fundos na economia acima dos 30 mil milhões de euros. Finalmente e de forma consistente entendemos que o turismo é a mola real da nossa economia, não a construção e obras públicas, como durante as décadas de 80 e 90 os nossos governantes, académicos e comentadores repetidamente afirmaram.

Por este motivo, mas também devido ao um emprego estabilizado com baixas taxas de desemprego, à baixa inflação, ao dinamismo do mercado de ações e ao crescimento do PIB, a prestigiada revista inglesa “The Economist”, na sua edição de 7 de dezembro, considerou a economia portuguesa como a melhor do mundo em 2025. Este fato é tanto mais relevante quanto entre 2011 e 2014 o nosso País esteve sujeito a um garrote chamado Programa de Assistência Financeira e Ajustamento Económico, conhecido por troika. Os salários baixaram, muitas empresas fecharam, várias pessoas se suicidaram, tal o desespero que este mecanismo trouxe às famílias e às empresas. Mas quando, a partir de 2015, tudo se preparava para a retoma económica, eis que em 2020 surge a pandemia, em 2022 a guerra na Ucrânia, o embargo ao petróleo russo, as retaliações entre blocos e os efeitos colaterais destes fenómenos sobre as economias de menor dimensão.

Numa economia assente na construção e obras públicas teria sido de novo o colapso, mas a economia portuguesa já estava ancorada no turismo, o que foi a nossa vantagem competitiva e a nossa salvação. Hoje, segundo o FMI (2024), somos o 37º país mais rico do mundo, entre 185, claramente situados nos leque dos 20% mais ricos. A nossa economia é a 2ª mais dinâmica da União Europeia, logo atrás da Lituânia (Eurostat, 2025). Estamos também em 16º lugar na inovação a nível europeu (EIS, 2025), com uma subida de 3 lugares relativamente a 2024.

Segundo o AICEP (2025), os principais fatores de atratividade de Portugal para os investidores estrangeiros são o talento, a inovação, a tecnologia, a acessibilidade, as infraestruturas, ter uma economia aberta e qualidade de vida. Estes aspetos não são letra morta e a procura de bons investimentos por parte de cidadãos e empresas estrangeiras tem-se alastrado dos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto) para outras geografias menos usuais, como é o caso recente do Concelho de Santarém.

Mas o que motiva esta atratividade turística? Segundo o Global Peace Index (2025), Portugal é o 6º país mais seguro do mundo e o 7º país politicamente mais estável. De acordo com o Euro Health Consumer Index (2025), Portugal possui o 13º melhor Sistema Nacional de Saúde europeu, atrás da Suíça, da Holanda, da Noruega, da Dinamarca, da Bélgica, da Finlândia, do Luxemburgo, da Suécia, da Áustria, da Islândia, da França e da Alemanha, mas à frente da Inglaterra, da Espanha, da Itália e da Irlanda, entre outros. Em termos de qualidade de vida, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, 2025) Portugal ocupa o 6º lugar do ranking a nível mundial.

As exportações portuguesas têm mantido um nível consistente de subida desde o início do século XXI, com crescimento acelerado e recordes no período 2017-2024, no qual apenas em 2024 cresceram 47%. Para além do crescimento a diversificação dos mercados tem sido uma realidade, dentro e fora da União Europeia. Petróleos, automóveis, papel, farmacêutica e eletrónica pesada (incluindo digital, aviação e defesa) são os setores mais relevantes no cabaz de exportações portuguesas.

No entanto, um ponto fundamental continua a ser deficiente. Falamos dos salários e do poder de compra. Em termos de poder de compra (Eurostat, 2025), Portugal ocupa a 15ª posição na Zona Euro (entre 20 países) e a 18ª posição na EU-27. Apesar de algumas melhorias, o salário real português continua a ser o 10º mais baixo da União Europeia (Eurostat, 2025) e o seu crescimento o 9º mais baixo (ECA International, 2025). Por outro lado, segundo o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (2025), o desfasamento entre os salários mais altos e os salários mais baixos situa-se nas 3,2 vezes, o que se pode considerar aceitáveis.

Mas fica a sensação de que a realidade não será tão negativa quanto a frieza dos números. Efetivamente, de acordo com o INE (2025) apenas 21% dos trabalhadores portugueses recebem o salário mínimo nacional. Banca e seguros, retalho e grande distribuição (nomeadamente LIDL e Mercadona), energia e transportes, consultoria e serviços, indústria, tecnologia e saúde são alguns dos setores onde inúmeras empresas pagam acima do salário mínimo nacional. No caso das multinacionais, estas pagam em média 60% acima deste indicador. No entanto, ainda cerca de 21% dos trabalhadores apresentam salários em atraso, sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa e no Alentejo.

Com tudo isto em mente, chegamos ao dia 11 de dezembro e à tão noticiada greve geral. Uma adesão massiva para as centrais sindicais, uma ocorrência negligenciável para o governo, sempre será assim na comunicação social em qualquer greve com qualquer governo. Mas vamos ao que interessa. Se os transportes bloquearem (o que normalmente acontece, devido a na sua maioria terem os dias de greve pagos), tudo o resto bloqueia por arrasto. A função pública adere sobretudo por descontentamento, com tudo e mais alguma coisa (salários, progressão nas carreiras, arbitrariedades diversas que frequentemente chegam a bullying, promoção da incompetência e do clientelismo político, etc). Alguma indústria pesada, com maior dimensão e trabalhadores, paralisou também sem ter minimamente em conta que, caso a marca abandone Portugal, as nossas exportações e geração de valor, descem de imediato 20%, com uma correspondente quebra no rendimento de todos nós. Segundo dados do Banco de Portugal, a atividade económica no passado dia 11 baixou apenas 8%, o que é pouco para uma greve geral.

Mas, afinal, contro o que se lutou com esta greve? Contra um anteprojeto do Governo sobre legislação laboral, documento esse que ainda não foi submetido a Conselho de Ministros, nem aprovado no Parlamento, nem promulgado pelo Presidente da República. Portanto, permitam-me que diga que se lutou contra nada pois, até ao último instante e, como se viu com a Lei da Imigração, o documento no todo ou em parte pode ser declarado inconstitucional. Por tudo isto, esta greve foi prematura e politizada, levada ao colo por sindicatos cada vez menos representativos dos trabalhadores de cada setor, alavancados por forças políticas cada vez representadas no Parlamento, que em desespero consideram ser na rua que devem bloquear a trajetória ascendente que a nossa economia tem vindo a demonstrar.

Se a tudo isto juntarmos as constantes “notícias” sobre a Ucrânia, a União Europeia, a Rússia, os Estados Unidos, a China, os imigrantes, a insegurança, as pressões e ameaças permanentes, o diz-que-disse da baixa política que deveria ser de alto nível, este rolo compressor que nos oprime pelo menos desde 2020, chegamos à raiz da insatisfação generalizada e virtual em que todos vivemos o dia-a-dia. Tudo tão negativo, angustiante, deprimente, enfurecedor. Tudo tão longe deste maravilhoso País onde nos tocou em sorte nascer.

Por isso, Caros Leitores, a minha sugestão é simples. Quando não suportarem mais o “estado a que as coisas chegaram”, quando pensarem que a vida já não faz sentido e que se sentem perdidos no meio de tanta corrupção, vigarice, violência, intolerância e afins, deixem de parte as redes sociais dos “políticos por um dia”, abstenham-se de ler a imprensa do “pay-per-view”, desliguem o botão do televisor e saiam de casa, passeiem pelo campo, vão ver o mar, usufruam deste País extraordinário que é o Vosso e o meu. Mantenham a resiliência, a coragem, a fé, o espírito crítico e a lucidez. E tenham um Excelente ano de 2026, pois não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe.

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