A Carta Gastronómica do Concelho de Santarém foi apresentada, no passado domingo (dia 29 de Outubro), no Salão Nobre da Casa do Campino, numa sessão que principiou com uma homenagem póstuma ao Consultor Gastronómico do Festival Nacional de Gastronomia, Armando Fernandes.

Ricardo Gonçalves, presidente do Município entregou ao filho do homenageado, João Fernandes, uma placa a assinalar a data, sublinhando a capacidade de Armando Fernandes de “nos envolver a todos” em redor dos projectos que defendia, mencionando o interesse do homenageado de ver erguido em Santarém um Museu da Gastronomia.    

João Fernandes, filho de Armando Fernandes, agradeceu a homenagem, um “transmontano de convicções muito fortes”, apaixonado pelo Ribatejo.

O filho leu um excerto de um texto que o seu pai baptizou de “Aguarela Ribatejana”, onde Armando Fernandes descreve a província que o acolheu, “Terra de numerosas tonalidades onde predomina os verdes, mesmo quando prestamos mais atenção à nevoa vinda do Tejo. Terra tratada, trabalhada, suada e farta, devido ao esforço de mulheres e homens, gente dona de um grande orgulho nas suas culturas e tradições. Enfim, orgulhosa de si própria”. 

“Este texto é a essência do trabalho do meu pai. Tem as experiências pessoais, tem a gastronomia, tem todas as referências culturais que ele fazia, tem a preocupação em preservar as memórias das gentes, das pessoas, das tradições orais. Tem um grande carinho pelos amigos, e o meu pai era uma pessoa que tinha uma grande dedicação aos amigos. Por isso eu e a minha mãe queríamos publicar este texto, para que possam ver o homem que ele era”, afirmou João Fernandes.

Seguiu-se a apresentação da Carta Gastronómica apresentada, capítulo a capítulo, por Paulo Amado, especialista em gastronomia, que se confessou “um apaixonado pela escrita de Armando Fernandes”, descreveu Helena Salvador, esposa de Armando, “o elo de enorme importância” que permitiu que a Carta Gastronómica se concluísse após o falecimento, em Dezembro do ano passado, do seu autor e marido.

Paulo Amado apresentou, um a um, os capítulos que compõem a obra, referindo-se ao “quinteto alimentar ribatejano” – azeite, cereais, legumes, carne e vinho – que Amado considera a “arca do tesouro” dos ribatejanos.

Sobre a Carta, Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Santarém, considera-a “um trabalho conjunto de imensa partilha que bebe directamente na fonte das nossas pessoas e da nossa terra e cuja importância futura transcende a nossa imaginação”. 

“É uma compilação, nunca aqui antes feita, dos saberes e sabores, dos produtos verdadeiramente endógenos e das técnicas utilizadas pelos nossos ancestrais, que vai disponibilizar às gerações futuras um importante referencial de trabalho e uma vasta fonte de inspiração”, admite.

“Com o entusiasmo e enorme esforço de todos, estamos sem dúvida a construir um legado alimentar duradouro para o Concelho e juntos estamos a fazer a diferença para as gerações futuras,” conclui Ricardo Gonçalves.

Já João Teixeira Leite, vice-presidente do Município scalabitano sublinha o encontro da  “paixão pela gastronomia” com a “rica e incontornável herança de uma cidade onde muitos dos lances decisivos da história nacional tiveram lugar”. Um livro que nos leva a “embarcar numa jornada única pelo paladar, explorando os sabores autênticos e as delícias gastronómicas do nosso magnífico concelho de Santarém”, sendo ainda um “profundo contributo para a requalificação da nossa restauração”.

Para José António Cruz Marques, Provedor da Confraria da Gastronomia do Ribatejo, na obra agora apresentada “ficam plasmadas preciosas informações que conseguimos recolher junto de pessoas que, pela sua idoneidade nos dão a garantia de podermos passar a ter à mão um documento onde estão contidos usos e costumes das Artes Culinárias que se não tivessem sido aqui recolhidos, corriam o sério risco de vir a perderem-se sem chegar ao conhecimento dos mais novos,” destaca.

Coube a Helena Salvador, esposa de Armando Fernandes, encerrar a sessão, partilhando com todos os presentes que um dos seus grandes desafios era “deixar a carta gastronómica do concelho.” 

A carta foi entregue a 16 de Dezembro de 2022 na Câmara de Santarém, recordou.

“Ele dizia: eu sou transmontano por nascimento, mas sou ribatejano do coração”, lembrou Helena Salvador que contou episódios do quotidiano que demonstram o seu amor a Santarém. 

Helena Salvador agradeceu de seguida a todas as pessoas que permitiram a realização deste livro, à Câmara de Santarém, à Confraria do Ribatejo, principalmente nas pessoas de Cruz Marques e de Joaquim Ferreira, que além de tudo mais nos acompanharam sempre quando foram feitas as entrevistas que permitiram realizar este livro. Toda a logística foi possível graças a eles”, frisou. 

“Agradeço imenso a todas as pessoas que entrevistamos, sem eles este livro não existiria”, sublinhou.

“Os testemunhos permitem perceber um Ribatejo um pouco diferente do que é hoje, com mais água, mais cor, mais variedade de produtos, mais árvores de fruto, propriedades muito cuidadas, onde havia de tudo. Podem dizer que nessa altura se vivia mal, e era verdade. A maior parte das pessoas assim o diz, não se vivia bem. Mas para comer havia”, nota. 

“Esta carta não foi fácil de fazer, começámos em 2019, entretanto o Armando foi sujeito a duas operações, uma delas à vista. Depois veio a pandemia, tínhamos começado com as entrevistas uma semana antes, e tivemos que esperar pelo fim da pandemia”, referiu Helena Salvador. 

“Foi uma carta trabalhosa, mas teve um fim, e eu sei que ele [Armando Fernandes] estaria muito contente se estivesse aqui hoje”, concluiu. 

Depois de apresentada a Carta Gastronómica do Concelho de Santarém, editada pela Âncora Editora, seguiu-se a partilha de especialidades gastronómicas das freguesias do Concelho de Santarém que contou com o envolvimento – tal como a obra agora editada – das Juntas de Freguesia do Concelho. 

Pandemia atrasou projecto

A Câmara Municipal de Santarém e a Confraria da Gastronomia do Ribatejo assinaram, após a inauguração da 39ª edição do Festival Nacional de Gastronomia, em Outubro de 2019, um protocolo para a elaboração e promoção da Carta Gastronómica do concelho de Santarém que hoje é uma realidade. O documento chegou a estar previsto ser apresentado em 2020, ano em que se assinalou o 40º aniversário do Festival Nacional de Gastronomia, mas a pandemia adiou esta intenção. 

Na altura foi referido que a Carta Gastronómica tinha como objectivo a apresentação da diversidade e excelência do receituário tradicional do concelho de Santarém, enquanto parte integrante do património cultural desta região, para além de ser uma das expressões mais vivas da sua identidade cultural.

Para além de informação dos actores-chave, relativamente aos pratos regionais, e entrevistas aos cozinheiros guardiões do receituário do concelho de Santarém, o livro contem ainda fotos de vários pratos da Cozinha tradicional de Santarém.

Com a edição da Carta Gastronómica do Concelho, a Gastronomia de Santarém, que se tem afirmado como um dos factores diferenciadores da especialização turística do nosso território, a nível nacional e até internacional, comprova a sua identidade cultural e didáctica, para além de incentivar a realização de futuras iniciativas a desenvolver por agentes públicos, privados, associativos e educativos, constituindo-se como um poderoso argumento que permita servir de âncora ao desenvolvimento local, a curto e médio prazo.

O papel da Confraria da Gastronomia do Ribatejo, em parceria com o Município de Santarém, para a criação da Carta Gastronómica do Concelho de Santarém é determinante, tendo em conta que esta Confraria reúne o ‘know-how’ e a experiência necessária para levar a cabo a concretização deste projecto.

Esta parceria, permitiu reunir na Carta os ingredientes recheados de sabores naturais e os modos de confecção tradicionais, tendo em conta que, até à data não estava feito o levantamento do receituário gastronómico do Município de Santarém.

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