A Igreja Católica retirou São Valentim do calendário dos santos em 1969, que até então era celebrado a 14 de Fevereiro. Ainda assim, o santo padroeiro dos namorados continua a celebrar-se.
Foi também a 14 de Fevereiro que nasceu José Pessoa. Já lá vão 86 anos, mas mantém a mesma jovialidade que tinha quando conheceu Ilda. Estão casados há 60 anos e, ao Correio do Ribatejo, a propósito do Dia dos Namorados, revelam a fórmula secreta para a longevidade de um casamento, que resulta da soma entre amor, maturidade e respeito mútuo.
“É preciso ter uma boa dose de tolerância para que tudo corra em harmonia. Depois, como dizia a minha avó: ‘o calado vence tudo’”, afirma Ilda Pessoa. “O segredo é cumprir o que eu prometi no altar”, diz José. E Ilda faz o mesmo.
O casal não consegue definir o que é o amor. O afecto cresceu um pelo outro conforme os anos foram passando. A demonstração de carinho e cuidado definem o sentimento. “Eu gosto muito dela, amor puro, desejo-lhe tudo de bom”, diz José. E Ilda completa: “eu desejo que ele tenha saúde e se mantenha bem-disposto”.
Foi precisamente o espírito irreverente e divertido de José que encantou a jovem Ilda, de coração vasto e de uma força interior imensa: em 15 de Novembro de 1959, um ano depois de José ter cumprido o serviço militar, em Lisboa, os dois estavam casados, e assim permanecem, desde então.
Para se casarem, Ilda teve de ir contra a vontade dos padrinhos e familiares, que chegaram, até, a oferecerem-lhe um “pequeno terreno” caso concordasse em “desfazer o namoro”.
Uma proposta que Ilda recusou e essa foi uma decisão da qual não se arrepende. Passadas seis décadas, a aventura valeu a pena: os dois seguem a vida lúcidos, saudáveis e apaixonados.
“Para namorar, as jovens tinham de ter o consentimento dos pais, que tinham tendência a controlar de perto esses namoros. Eu perdi a minha mãe aos 11 e o pai aos 20. E o meu irmão mais velho é que era o meu tutor. E ele não via com bons olhos o meu namorico. Fui quase prisioneira. Não me deixavam sair de casa”, recorda Ilda, contando que o tempo de namoro era maioritariamente passado à distância, com a barreira física de uma janela de permeio, ou de olhares que se cruzavam na rua.
“Havia dificuldade dos jovens namorados em conquistarem o amor e o interesse um ao outro”, constatou, acrescentando: “comunicava-se por cartas, havia dificuldade, mas era o único meio… não havia telefone. Quando a saudade apertava, escrevíamos umas cartinhas”, relembra.
O casal teve uma filha, Isabel, duas netas (Catarina e Isabel) e, mais recentemente, uma bisneta: a “menina dos olhos” da família. São precisamente estes momentos que Ilda elege como corolário da vida a dois.
“Foram esses os momentos que sempre me deram força para viver e alegria”, confessa Ilda, emocionada.
Uma vida que, segundo José Pessoa “não foi fácil”, mas que se ancorou sempre em trabalho e dedicação à família. “Cheguei a trabalhar de dia e de noite, sem quase ir à cama”, conta.
José Pessoa trabalhou quase meio século na Praça de Toiros de Santarém, foi distribuidor da Sagres, trabalhou em lagares e em quintas: “trabalhei para mais de 20 pessoas. Ajudei muita gente”, declara José, um apaixonado pelo Jogo do Chinquilho, por resolver charadas e contar as histórias da juventude para manter a mente e corpo com saúde.
Ilda continua a fazer trabalhos de costura, profissão que foi desempenhando ao longo de uma “vida regrada, humilde e honesta”, tendo atingido as Bodas de Diamante (60 anos de casamento), um nível de total consolidação do casamento.
Texto: Filipe Mendes