Animador cultural, António Amaral e Elias Rodrigues, presidente da direcção do CCRS
Criado a 10 de Julho de 1980, na sequência de um projecto de descentralização cultural da Secretaria de Estado da Cultura, com o apoio da Câmara Municipal de Santarém e da Fundação Calouste Gulbenkian, o Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS) surgiu com a preocupação da formação de agentes culturais e da divulgação do produto artístico dos núcleos culturais espalhados pelo distrito. Hoje, é uma instituição que “criou raízes” na cidade, cuja base assenta na liberdade de pensamento e na solidariedade.
O Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS) comemora este ano o seu 40º aniversário. Criado, por escritura pública, em 10 de Julho de 1980, pela mão de uma Comissão nomeada em Assembleia Geral Constituinte com a presença de 34 associações e agentes culturais de todos os concelhos do distrito de Santarém, o CCRS teve na sua origem um projecto nacional da Secretaria de Estado da Cultura, a qual pretendia dotar todas as capitais de distrito com um Centro Cultural como agente de promoção e interlocutor entre as autarquias e agentes culturais existentes. Teve assim o apoio da Secretaria Estado da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Câmara Municipal de Santarém à sua formação.
Hoje, o CCRS é uma instituição que “criou raízes” na cidade, afirmando-se aberta a todas as instituições exteriores e públicas sem qualquer tipo de constrangimentos ideológicos.
“Somos uma cooperativa cuja base assenta na liberdade de pensamento e na solidariedade, que é motivada pela dinamização e enriquecimento cultural dos habitantes da cidade, do concelho”, refere, em entrevista ao Correio do Ribatejo, Elias Rodrigues, presidente da direcção do CCRS.
Um dos grandes propósitos desta direcção, que tomou posse em 2017, é conseguir um maior envolvimento dos jovens nas actividades do Centro e parcerias com instituições locais e nacionais.
Um desígnio que, segundo Elias Rodrigues, tem sido conseguido. Tanto que, para Setembro, no regresso das actividades do CCRS no período ‘pós-pandemia’, está marcada uma nova edição – a quarta – da Residência Artística Santarém (RAS) com jovens criativos.
“Este é um caso de sucesso, que virá a ser reforçado com o ateliê, aulas e workshops de artes plásticas”, explicita o responsável, apontando igualmente o sucesso que os concertos de Jazz ao Centro e o Santarém JazzFest obtiveram.
“São eventos que atraem os jovens, tal como outros eventos musicais realizados no Fórum. É importante salientar que o desejável envolvimento de jovens deve ser entendido nos dois sentidos, pois além das iniciativas do CCRS estamos abertos a ideias e iniciativas de jovens que se dirijam a nós”, acrescentou.
Para o director do Centro Cultural Regional de Santarém, falar da Cooperativa é, precisamente, falar de pessoas, nomeadamente dos elementos que com ele compõem a direcção, dos colaboradores mais próximos, dos inúmeros voluntários, dos mecenas e dos jovens que se têm aproximado do Centro e criado novos núcleos de acção cultural.
“O CCRS está empenhado e ansioso para retomar a sua actividade e para continuar a acolher e dinamizar manifestações culturais, constituindo-se como um pólo activo de debate da cultura e da cidadania”, acrescenta.
Segundo refere, em jeito de balanço, o CCRS tem uma programação “única” que, culturalmente, “acordou e abanou a cidade com eventos culturais diferenciadores”, como a vinda da Orquestra Sinfónica e exposições com artistas de craveira nacional.
Com cerca de 150 cooperantes, mas uma afluência bastante superior nos seus espectáculos e actividades, o Centro Cultural Regional de Santarém tem como grupos sedeados o Grupo Guitarra e Canto de Coimbra, o TEATRINHO – Teatro para Crianças, um Ateliê de Artes Plásticas e o recém-criado Núcleo de Fotografia.
“Aqui, tenho que ressalvar o espírito empreendedor dos seus corpos gerentes, sócios cooperadores e colaboradores próximos, os quais levaram a cabo numerosos eventos de alta qualidade, no âmbito das Artes, Música, Teatro, Poesia e Literatura”, disse.
Num balanço feito ao Correio do Ribatejo destas quatro décadas de actividade ao “serviço da Cultura”, Elias Rodrigues salienta que o CCRS desenvolveu programações anuais que trouxeram à cidade e à região artistas e personalidades, entre as quais salienta: Sofia Mello Breyner Anderson, José Saramago, Lídia Jorge, Ramalho Eanes, Salgueiro Maia, José Niza, Guilherme Oliveira Martins, Sampaio da Nóvoa, Rui Vieira Nery, Pedro Canavarro, Carlos Guedes Amorim, Júlio Isidro, Carlos Pinto Coelho, Orlando Garcia, Paquete de Oliveira, Jorge Gaspar, Augusto Mateus, Clara Pinto Correia, Paula Martinho da Silva, Teresa Sá, Vítor Serrão, Jorge Custódio, Mário Coelho; Mário Viegas, Maria do Céu Guerra, Hélder Costa, Carlos Porto, Irene Cruz, João Perry, Nuno Teixeira, Juvenal Garcês, José Viana, Maria de Medeiros, Joaquim Almeida, Stefano Accorsi, Jorge Leitão Ramos (Teatro e Cinema); Carlos Paredes, Luísa Amaro, Fausto Bordalo Dias, Carlos Alberto Moniz; Maluda, Malangatana, Martins Correia, António Inverno, Gil Teixeira Lopes, Matilde Marçal, José Penicheiro e António Maia, Américo Marinho, José Quaresma, Mário Tropa, Mário Rodrigues, Fernando Veríssimo, José Catrola, Carlos Amado, entre muitos, muitos outros.
Por outro lado, foi pioneiro, enquanto associação, na dinamização de música clássica de qualidade na cidade com o convite a grandes interpretes tais como a Orquestra Gulbenkian e a Orquestra da Universidade de Lisboa. Situação semelhante para o Jazz, dinamizando pela primeira vez os Concertos de “Jazz ao Centro” e três edições do Festival ‘Santarém Jazzfest’, com a participação de José Duarte, Maria Viana, Marta Hugon, Jack Broadbent, entre outros.
E, ciente da importância do fado de Coimbra para a cidade de Santarém, estabelecida com as estreitas relações entre as duas cidades e as duas comunidades académicas, o CCRS é sede do “Grupo Guitarra e Canto de Coimbra” fundado á 35 anos. Neste âmbito, é responsável pela organização de inúmeros concertos e serenatas com os mais reputados nomes da Canção de Coimbra, com destaque para Fernando Rolim, Machado Soares, Sutil Roque, Augusto Camacho, António Brojo, José Amaral, Ângelo Araújo, José Niza, David Leandro, Carlos Couceiro, Miguel Drago, Durval Moreirinhas.
Impulsionador das Artes Plásticas, o CCRS sempre dinamizou a criação de oficinas, workshops e exposições onde se enquadrou a Formação, a divulgação de grandes nomes e a mostra do trabalho de artistas locais. Sublinhem-se as inúmeras parcerias realizadas com outras instituições para este efeito.
Mário Viegas, figura incontornável da cultura nacional e homem de Santarém foi homenageado pelo CCRS através da atribuição do seu nome ao espaço de Fórum e de Exposição, e através da criação de um prémio literário, o ‘Prémio Nacional de Poesia Ator Mário Viegas’ cuja edição de 2018/19 foi um sucesso com 250 poetas candidatos.
Tendo em linha a necessidade de atracção de camadas mais jovens, o CCRS dinamizou Residências Artísticas de Santarém proporcionando materiais de trabalho e espaço para debate de ideias e apresentação de trabalhos. Estas residências deram origem ao Núcleo de Artes.
A necessidade de dar espaço de debate, formação, partilha e visibilidade aos amantes da fotografia, originou a criação recente do Núcleo de Fotografia, o qual reúne dezenas de fotógrafos e que dispõe de um laboratório recentemente remodelado.
“É, pois, um CCRS diferente daquele que foi criado faz este ano 40 anos. Uma acção cultural distinta, com enormes dificuldades financeiras para levar a cabo todas as acções que cabem nos seus planos anuais, com muitos Amigos colaboradores que dedicam horas, dias e semanas do seu tempo, de forma graciosa e generosa e sem os quais a cidade e a região não poderia usufruir de tudo aquilo que o CCRS tem para oferecer. O Associativismo está bem vivo no CCRS e os projectos não irão parar nestes próximos 40 anos!”, conclui Elias Rodrigues.