Os Guerreiros de Terracota são um vasto conjunto de esculturas funerárias do primeiro imperador chinês, Qin Shi Huang, criadas para protegê-lo na vida após a morte. Descobertas acidentalmente em 1974, as estátuas datam do século III a.C., incluem mais de 8.000 soldados, 130 carruagens e 520 cavalos, todos únicos em detalhes.

Entre o período 771 a 221 a.C., ao tempo da dinastia Zhou, o evoluir da corrupção, ganância e prisões arbitrárias, deteriora a situação. Os pobres e os escravos revoltam-se. Como referido na edição anterior, surgirão duas épocas importantes a chamada “Primavera e Outono” (551-479 a.C.) e a época dos “Estados Guerreiros” (479-221 a.C.). No período “Primavera e Outono” o poder descentralizou-se, pois surgem cerca de 170 pequenos estados e foi marcado por batalhas sangrentas, 230 batalhas em 255 anos, seguidas de execuções em massa, com populações inteiras completamente dizimadas e anexadas. A sua crueldade era agora indisfarçável. Na batalha de “Chang Ping”, os generais Qin ordenaram a chacina de cerca de 400 000 prisioneiros Zhao, soterrados vivos. Alguma sinalização e comunicação entre os comandantes militares nesta batalha foi feita através do papagaio de papel surgido uns tempos antes como instrumento militar. A finalidade era transmitir mensagens através de cores e movimentos no ar. Actos horrorosos como este passaram a ser vulgares, pois a piedade não mais existe, fruto de um acentuado declínio moral, não havendo mais o conceito de “honra” que incluía a ética da guerra, cujo objectivo passara a ser não mais a derrota do inimigo e sim a sua total aniquilação. 

Neste conturbado período nascem dois pensadores que modelarão o futuro da China: o estrategista Sun Tzu (544 a 496 a.C.) e o doutrinário Kong Qiu (Confúcio, 551 a 479 a.C.). Se Confúcio ensinou o valor do poder único, alavancado na solidez da lealdade familiar, no culto aos ancestrais, no respeito pelos mais velhos e na unidade familiar, bem como na piedade filial, tudo isto formando a base de um bom governo, Sun Tzu, autor do “Sun Zi BingFa”, “A Arte da Guerra”, ainda hoje estudada em academias militares, tem como ideia central a lógica de que uma estratégia vitoriosa é aquela que consegue evitar o uso das armas, ou seja, a suprema arte da guerra é a não guerra, é o uso de uma estratégia (entenda-se manhas) que permita alcançar a vitória sem a necessidade do confronto armado.

O rápido desenvolvimento da economia deste período, exigiu uma grande circulação monetária. Cada reino tinha as suas próprias moedas com pesos, escritas, símbolos, unidades monetárias e composições diferentes em forma de faca, ferramentas, enxada, etc. A arquitetura também evoluiu bastante com a construção de belos e sumptuosos palácios e fortalezas. Exímio artesão, inventou instrumentos para trabalhar a madeira, como a plaina, o serrote, o furador (sovela), a verruma, o esquadro, o fio de prumo e muitos outros ainda hoje usados. O maior arquiteto foi Lu Ban (507-440 AC) do reino de Lu.  O consumo da cerveja, do vinho e do chá vulgarizou-se. 

Este período foi seguido pelo período dos “Estados Guerreiros (475-221 a.C.)” que se caracterizou pelas disputas entre os vários estados em busca da hegemonia. Conflitos e disputas territoriais entre 7 reinos feudais desintegrarão o poder central da dinastia Zhou. 

Em 247 a.C. Ying Zheng sucede ao trono dos Qin. Toma o nome de Qinshi Huangdi e em dez anos anexa todos os outros reinos obrigando-os a reconhecê-lo como o único poder central. O território chinês é unificado pela primeira vez. Vai estabelecer um governo centralizado, padronizando a escrita, a moeda, os pesos e medidas, a largura das estradas e das carroças. No aspecto militar dá-se a substituição do bronze pelo ferro como principal metal na guerra, tornando os utensílios bélicos, principalmente as lanças mais longas, como o “qiang” conhecida como “o rei de mil soldados”, algo importante perante exércitos já de um milhão de homens, ao simples guarda-chuva. É o período da inovação e proliferação de projetos de engenharia militar, para apoiar campanhas de guerra em larga escala. 

Foi um período significante para a cultura chinesa, com o confucionismo priorizando a educação e a moral, que moldará o ambiente intelectual influenciando grandemente as ciências como a Matemática, a Astrologia, a Hidráulica. Na Agronomia surgem técnicas de irrigação avançadas e de larga escala. Na medicina a acupunctura utilizada já há mais de 5 000 anos e o inicial tratado de “Shen Nong” sobre ervas (onde já aborda o chá), será desenvolvido como um meio de tratamento científico, originando o “Huangdi Neijing” ou “Cânone Interno do Imperador Amarelo”, enquanto contributo da medicina tradicional em salvaguardar a saúde do povo chinês, expondo toda a doutrina, sobre as fases do diagnóstico e os estágios observáveis nas evoluções das doenças, e das condutas terapêuticas, dos preceitos práticos e os modos de efectivar os tratamentos. Para reforçar a ditadura do pensamento, Qinshi Huangdi enquanto ditador, mandou queimar livros (excepto os de adivinhação, medicina e agricultura), arquivos históricos e, é dito, enterrar vivos os letrados confucianos discrepantes. Dará início à construção ou junção de muralhas já construídas por alguns reinos anteriores transformando-a na precursora da actual Grande Muralha para defender seus domínios contra os ataques dos povos do Norte, eterno inimigo. Apoiado por seguidores da filosofia do Legalismo (“Fajia”), que se tornou a base do seu governo, defendia o uso rigoroso de leis, punições e um estado centralizado para manter a ordem e o poder, levando o código penal anterior a uma nova designação do sistema jurídico, conhecido agora como Período do Sistema Jurídico Feudal. Novas penas irão surgir umas leves, visando a obtenção das confissões, outras bem cruéis como o “Che Lie” (desmembramento até 5 partes do corpo) e “YI San Zu”, eliminação do criminoso e da família até 3 gerações. Este Sistema Jurídico durará até ao derrube da última dinastia, a Qing (DC 1644-1911) a 1 de Janeiro de 1912 com a consequente proclamação da República. Acresce referir que nasce nesta Dinastia o embrião de uma organização administrativa forte pois encontrou nos letrados confucionistas grandes administradores. Estabelece desta forma as bases para o sistema imperial chinês que perduraria por mais de dois mil anos. 

Após a breve Dinastia Qin, irão suceder-se diversas dinastias, ora dividindo a unidade da China, ora unificando-a. Foram elas: a Dinastia Han (206 a.C.– 220 d.C.), os Três Reinos (220 – 265 d.C.), porque o Império se dividiu em três estados; a Dinastia Jin (266 – 420 d.C.), que volta a unificar o Império;  as Dinastias do Sul e do Norte (420 – 589 d.C.), um período de fragmentação política e divisão entre os reinos do norte e do sul da China; a Dinastia Sui  (581 – 618 d.C.) que volta a unificar novamente; a Dinastia Tang (618 – 907 d.C.), uma era de ouro na história unificada chinesa, com grande florescimento cultural e científico; a Dinastia Song (960 – 1279 d.C.), marcada por avanços tecnológicos e um grande desenvolvimento económico. De todas elas falaremos resumidamente nas próximas edições. 

Todos estes períodos têm em comum a submissão do povo, fosse por ditaduras impiedosas, onde soberanos competentes, mas cruéis para os seus opositores, estes umas vezes exilados, outras vezes forçados ao suicídio, fosse por erros de interpretação dos fenómenos naturais e sociais, ou pelas suas ideias fatalistas sobre o determinismo e a imutabilidade da condição social, qual arma ideológica eficaz para manter o seu poder sobre um povo, este impiedosamente explorado sofrendo fome, pobreza, epidemias. 

 

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