Nos dias 15 e 17 de Dezembro, a Cinemateca Portuguesa vai realizar um ciclo dedicado a Bernardo Santareno, em colaboração com as Comemorações Nacionais do Centenário do Nascimento de Bernardo Santareno.
A iniciativa, dedicada à memória de Fernanda Lapa, dará a ver “O Crime da Aldeia Velha”, “A Promessa” e a curta televisiva “Vida Breve em Três Fotografias”. Para reserva de lugares (gratuitos e limitados), em qualquer das sessões, as inscrições devem ser feitas até esta sexta-feira, dia 4 de Dezembro.
A exibição de “A Promessa” (antecedido de “Vida Breve em 3 Fotografias”) de António de Macedo, com Guida Maria, Sinde Filipe, João Mota, e Luís Santos, está marcada para terça-feira, 15 Dezembro, pelas 20:00 na Sala M. Félix Ribeiro.
A partir da obra teatral homónima de Bernardo Santareno e assentando num trabalho de investigação sociológica levado a cabo nas aldeias piscatórias em que decorre a acção, “A Promessa” é a história de um jovem casal de uma aldeia de pescadores, profundamente religiosos, que não consuma a sua união sexual em cumprimento de um voto de castidade. Alvo de grande polémica em Portugal, (foi a primeira obra portuguesa a mostrar dois corpos nus), “A Promessa” teve uma boa carreira e foi o primeiro filme português oficialmente seleccionado para o Festival de Cannes.
“Vida Breve em Três Fotografias”, de Fátima Ribeiro, com Marco de Almeida, Bruno Santos, Carla Chambel, Fernando Heitor, e Isabel de Castro é um episódio de uma série de televisão produzida pela David & Golias para a RTP. Adaptação de um texto da obra “Os Marginais e a Revolução”, de Bernardo Santareno.
“O Crime da Aldeia Velha”, de Manuel Guimarães, com Barbara Lage, Rogério Paulo, Mário Pereira, Maria Olguim, Rui Gomes, Glicínia Quartin e Miguel Franco é exibido na quinta-feira, 17 Dezembro, pelas 18:00, ns Sala M. Félix Ribeiro.
Trata-se da primeira adaptação de uma peça de Bernardo Santareno ao cinema, inspirada num facto verídico, ocorrido no norte do país em 1908. A história de uma mulher que se julga possessa e que é queimada numa fogueira pelo povo da aldeia como forma de exorcismo, depois de dois homens se terem suicidado por amor dela. Um requisitório contra a superstição num dos filmes mais interessantes de Manuel Guimarães que retoma o principal tema da obra de Santareno – “a luta pela dignificação do ser humano, pelos seus direitos essenciais, em confronto com preconceitos de todo o tipo, quer sejam sexuais, religiosos, económicos, raciais, políticos ou sociais” (Lauro António).
O cinema português interessou-se pela obra de Santareno desde cedo – logo em 1964 Manuel Guimarães adapta ‘O Crime da Aldeia Velha’ e, em 1973, a estreia a versão cinematográfica de António Macedo de ‘A Promessa’ foi um dos sintomas da proximidade da mudança de regime em Portugal -, mas esse interesse pareceu esmorecer após o 25 de Abril e apenas a televisão lhe dedicou mais três adaptações de textos seus: Português, Escritor, 45 Anos de Idade, numa realização de Artur Ramos, em 1975, uma recriação de ‘O Crime de Aldeia Velha’, partindo de uma encenação de Carlos Avilez, em 1997, e, finalmente, em 1999, com a versão televisiva de ‘Vida Breve em Três Fotografias’, curta metragem dirigida por Fátima Ribeiro que adapta um dos textos curtos de ‘Os Marginais e a Revolução’ (o seu último livro publicado em vida pois morreria em 1980). Já em ano de centenário do nascimento, a obra de Santareno volta a conhecer a atenção do cinema com a adaptação do livro ‘O Lugre’ ao formato duplo de filme e de série de televisão com realização de Artur Ribeiro e de Joaquim Leitão, respectivamente.
Organizado em colaboração com as Comemorações Nacionais do Centenário de Bernardo Santareno, este programa deve a sua existência à actriz Fernanda Lapa, que dirigiu a iniciativa até à sua morte no passado mês de Agosto. É também à sua memória que ele é agora dedicado.