Coruche volta a celebrar a autenticidade, os sabores e a alma gastronómica do território com a 3.ª edição da mostra enogastronómica “Comer de Carne – A identidade de um território à mesa”, que se realiza nos dias 8 e 9 de Novembro. O evento reúne restaurantes e quintas da região em torno de um dos pratos mais emblemáticos da cozinha coruchense – o Comer de Carne, também conhecido por Sopas de Carne –, numa celebração que alia tradição, cultura e enoturismo.
A iniciativa, promovida pela Câmara Municipal de Coruche, insere-se nas comemorações do Dia Mundial do Enoturismo, assinalado a 9 de Novembro, e propõe um fim-de-semana de experiências imersivas que cruzam gastronomia, natureza e património.
Ao longo de dois dias, o prato Comer de Carne será preparado com saber e genuinidade em vários espaços de restauração do concelho, nomeadamente nos restaurantes Fonte de Pau, em Santana do Mato, Maia, em Couço, O Coruchense, O Farnel e Ó Manel, em Coruche, Sabores de Coruche, no Monte da Barca, e Santa Justa Restaurante, também em Couço. A mostra conta ainda com a participação de quintas e produtores locais, que abrem as suas portas a experiências complementares. A Apicultora promove uma experiência apícola e caminhada interpretativa no dia 8; a Herdade das Onzenas convida a saborear o Comer de Carne nas Onzenas; o Pé Manco serve Sopas de Carne em Panela de Barro nos dois dias do evento; a Quinta de Santo André organiza uma visita à adega com prova de vinhos e produtos locais a 9 de Novembro; e o Sorraia Hotel Rural, em conjunto com o Santa Justa Restaurante, proporciona experiências gastronómicas e vínicas ao longo de todo o fim-de-semana.
Entre o aroma do barro e o lume de chão, o sabor dos vinhos e a hospitalidade ribatejana, a mostra “Comer de Carne” afirma-se como um tributo à identidade coruchense e à arte de bem receber, convidando a uma viagem à essência de um prato que é símbolo cultural e expressão viva de um território.
As origens de um prato com alma rural
As origens do Comer de Carne remontam aos tempos em que os trabalhadores rurais do Vale do Sorraia preparavam as suas refeições nos campos agrícolas. A carne de porco de criação doméstica e os produtos da horta familiar eram a base de uma alimentação simples, complementada muitas vezes com pão, azeitonas e um trago de vinho. Na copa do rancho, a cozinheira tratava de fazer o lume de chão, onde dispunha as pequenas panelas de barro previamente preparadas pelos camaradas de trabalho e cuidava da cozedura do almoço de todos na cocaria — conjunto de panelas em que se confeccionava o Comer de Carne, também designado Sopas de Carne, pela mão da coqueira de serviço.
A coqueira assumia um papel central na organização do trabalho rural: determinava o sítio do fogão, colocava as misturas nas panelas de barro e, em certas épocas do ano, assegurava três refeições diárias. Também tomava conta das crianças, filhos dos trabalhadores, e vigiava o lume de chão, mantendo o caldo na medida certa e provando a cozedura. Este método artesanal de cozinhar, de tempo lento e calor constante, garante ainda hoje uma sapidez única. É nesta tradição de partilha, entre o barro, o lume e a paciência, que nasceu o Comer de Carne.
Tradição e autenticidade à mesa
A gastronomia de Coruche reflecte os saberes e os afectos enraizados na comunidade. O Comer de Carne é disso paradigma: um prato que transcende o conceito de refeição, tornando-se símbolo de ligação à herança cultural e à vida quotidiana da região. Muito mais do que uma simples receita, é um testemunho de respeito pela tradição transmitida de geração em geração e a revelação da alma rural de um território cujas raízes se entrelaçam com os sabores e aromas deste prato autêntico.
Com profundo significado para os coruchenses, a iguaria é exemplo notável de como a culinária manifesta a cultura e a coesão de uma comunidade. Hoje, cada família, restaurante ou cozinheiro local acrescenta o seu toque próprio, tornando o Comer de Carne uma experiência gastronómica diversificada e rica em nuances, que demonstra a vitalidade da tradição e o seu potencial de reinvenção. Servido nos restaurantes locais como homenagem às raízes do concelho, este prato desperta memórias afectivas e sensoriais que se reeditam em cada degustação.
Mais do que uma mostra gastronómica, o Comer de Carne é um tributo à dedicação da comunidade coruchense, que preserva orgulhosamente as suas raízes e lembra que a tradição, quando partilhada, é um tesouro que se renova de mesa em mesa.
