No arranque de uma época balnear atípica, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com João Teixeira Leite, administrador executivo da Viver Santarém, empresa municipal que gere o Complexo Aquático e as infra-estruturas desportivas municipais e opera na organização de eventos, como o Festival Nacional de Gastronomia. “Queremos dizer à população que temos todas as medidas de segurança. Que nos podem visitar, que podem desfrutar deste espaço magnífico”. É esta a mensagem que o responsável deixa nesta entrevista, onde apresenta ainda os projectos que a empresa quer concretizar em breve.

Que expectativas existem para esta época balnear?
O Complexo Aquático, em particular, é uma infra-estrutura que representa cerca de 38,8% do volume de negócios da Viver Santarém. Temos plena consciência que, este ano, a actual crise sanitária vai ter um impacto grande. Com a lotação reduzida a 50%, as receitas vão, certamente, diminuir. Havendo outra questão associada, que é um aumento de custos para dar resposta a todas as normas de higiene que são necessárias para a segurança de todos.
A expectativa, portanto, do ponto de vista financeiro é a de optimizar os recursos existentes ao máximo para conseguirmos reduzir o impacto negativo da actual conjuntura. Do ponto de vista da vinda de público, o feedback que estamos a receber é de que vai haver procura e que esta vai intensificar muito a partir de Julho e Agosto. A expectativa, portanto, é que a lotação disponível seja preenchida. Existe um factor que também estamos a incrementar: a venda de bilhetes online para evitar as filas de espera e agilizar processos.

Quais as medidas de segurança que o Complexo Aquático adoptou?
Estamos a viver um momento único e tivemos de nos adaptar às actuais contingências. Desenvolvemos um conjunto de procedimentos internos para que as pessoas sintam segurança. Queremos dizer à população em geral que temos todas as medidas de segurança. Que nos podem visitar, que podem desfrutar deste espaço magnífico.
Cumprimos não só com essas medidas e com as regras que foram estipuladas pelas instituições de carácter nacional, nomeadamente a Direcção Geral de Saúde (DGS) mas também elaborámos os nossos próprios planos de contingência, para cada uma das infra-estruturas sob a gestão da Viver Santarém, e estamos a falar de várias pelo concelho. Todas elas foram, não só vistas e validadas pelos nossos Bombeiros Municipais, mas também pela delegada de saúde publica que viu que estamos em conformidade e estamos a cumprir, de facto, com todas as normas. Tendo em conta este facto, podemos dizer às pessoas que, ao virem ao Complexo Aquático sabem que estão em vigor um conjunto de regras que promovem a segurança.
Nesse sentido, são várias as regras e medidas adoptadas: estamos a promover o distanciamento físico das pessoas, com a redução da lotação do espaço. Neste momento, estamos a 50 por cento da capacidade, ou seja, não vamos ultrapassar os 1000 utilizadores. Isso faz com que, nesta área do complexo, pareça que está muito pouca gente. A área é vasta. Isso oferece um distanciamento grande entre os utentes. Marcámos, igualmente, todos os espaços de fila de espera, para promover o distanciamento. Temos, em toda a estrutura, um conjunto de postos de gel desinfectante, e os nossos funcionários têm que usar máscara. Tem que existir o calçado apropriado para estar lá fora. Existem vários pontos também para desinfectar os pés e calçado.
Nas áreas comuns, reforçámos os recursos humanos para que a limpeza das casas de banho, balneários e áreas comuns possa ser feita de forma frequente. Todo o espaço é desinfectado, todos os dias, nos espaços comuns, nas espreguiçadeiras, entre outros equipamentos. Em suma: existe uma grande mobilização de recursos humanos, de equipamentos e de material para que essa segurança seja uma realidade.

Que investimentos foram realizados no recinto este ano?
A situação de pandemia fez com que alguns investimentos que tínhamos para este ano fossem adiados para 2021. Apesar de tudo, o nosso foco foi investir forte para dar cumprimento ás normas e orientações para garantir a segurança das pessoas.
Relativamente ás infra-estruturas, o plano que existe é o de ampliar algumas áreas de diversões e vamos iniciar esse investimento logo no início de 2021 para que, na próxima época balnear, isso seja uma realidade. Queremos melhorar as zonas envolventes ao Complexo Aquático. No que diz respeito ao estacionamento, estamos a desenvolver também contactos para que possamos ter algumas alternativas e algumas respostas no âmbito da energia e ter, também, algumas zonas de sombra para aproveitar a energia renovável e atribuir mais conforto aos nossos utentes, para além de alcatroar algumas zonas envolventes. E, depois, há um conjunto de investimentos que estamos a trabalhar para que se iniciem em 2021 para ir ao encontro de um objectivo importante para a Câmara Municipal de Santarém, que é criar as respostas para que os milhares de pessoas que aqui vêm todas as épocas balneares possam ficar a pernoitar em Santarém. E os investimentos nas zonas envolventes aos terrenos do complexo vão permitir a construção de uma zona de caravanismo, de campismo e de bungalows: é um investimento que estamos, ao longo de 2020, a desenvolver todos os procedimentos para que algumas das obras possam arrancar no início de 2021.

No ano passado foi lançada a campanha “Venha Viver Santarém”, direccionada aos milhares de pessoas que, no Verão, procuram o Complexo Aquático sem passarem pela cidade. Este ano, esta aposta é para manter?
Temos limitações por causa da pandemia da utilização dos próprios transportes. E estamos à espera de analisar se é também viável e se vai ser seguro para as pessoas frequentarem esse tipo de transporte. Se a resposta for no sentido favorável, para nos é um objectivo dar continuidade a esse projecto. Ele visava também ir ao encontro daquilo que acabei de dizer, de podermos pôr estes milhares de pessoas que aqui estão todas as épocas balneares a consumir no nosso Centro Histórico, na nossa economia local, nas nossas lojas, na restauração. Criar aqui uma sinergia entre a economia local e o Complexo Aquático havendo mobilidade de pessoas.

Já foi feita uma primeira avaliação do projecto?
Eu diria que o ano passado foi o ano menos 1; este seria o ano zero e para o ano, o ano um. Dada a pandemia, podemos dizer que talvez este seja ainda o ano inicial do projecto sendo que, apesar de tudo – de ser uma situação ainda muito inicial – houve dezenas de utilizadores. Isto é algo que tem que ter continuidade. Tem que se continuar para que seja um hábito, apesar de alguma dificuldade inicial.
Havendo mobilidade facilitada e havendo uma maior adesão por parte dos comerciantes e que os nossos utilizadores sintam que é, de facto uma mais-valia poderem sair do Complexo, usufruir desse autocarro turístico, consumir no nosso CH, voltar e saber que esse consumo pode permitir descontos em vindas posteriores ao Complexo. Precisa de continuidade, de gerar hábitos.

João Teixeira Leite – Presidente da Viver Santarém

Foi recentemente apresentado o relatório de contas da empresa, que demonstra uma boa saúde financeira. Este ano, devido à actual situação, é expectável que os resultados se alterem. Que estratégia de gestão está a ser adoptada?
A gestão está a ser muito rigorosa na avaliação dos custos e optimização dos recursos existentes. Foi feita avaliação de alguns custos que existiam e alguns deles foram cortados ao máximo. A palavra de ordem é optimizar ao máximo os recursos existentes para dar cumprimento aos nossos objectivos. Numa fase inicial, também aproveitámos algumas das medidas que foram implementadas pela administração central de apoio à continuidade do emprego aderindo ao lay-off: estivemos dois meses nesse regime. Houve uma compreensão grande por parte do colectivo de homens e mulheres que trabalham na Viver Santarém, que ajudou a situação de quebra dramática de receitas.
A actividade da empresa, por via da Escola de Natação, por via do Complexo, dos eventos – relembro as festas de S. José que já estavam praticamente para arrancar e tiveram de ser canceladas -parou totalmente. Como já referi, essa quebra de receitas está a ser acompanhada, paralelamente, com uma optimização muito grande. É importante sinalizar que 40% do volume de negócios da Viver Santarém (VS) diz respeito ao Complexo Aquático. Isto significa que, em 2019, praticamente 970 mil euros do volume de negócios diz respeito ao Complexo. Os eventos e patrocínios representam cerca de 17% da nossa actividade. E temos o contrato-programa com a CMS. Existe uma ideia criada ao longo dos últimos anos que a Viver Santarém depende excessivamente da CMS. É evidente que o presidente da autarquia, e bem, delegou na empresa este objectivo de podermos diminuir essa dependência, mas o contracto programa representa apenas 11% do volume de negócios. Do pondo de vista legal, estamos muito abaixo daquilo que é o limite que a lei impõe.
E refiro isto porque é possível que, até ao final do ano, possa haver um reforço daquilo que é a relação financeira entre a CMS e a VS. Neste momento o que estamos a fazer é honrar os nossos compromissos com os nossos fornecedores, com os trabalhadores, e a perspectivar futuro, criando novas formas de podermos ter rentabilidade: criar novas vertentes no Complexo, e preparar o que vai ser próximo evento pós época balnear, que é o Festival Nacional de Gastronomia, que, por si só, representa uma fatia importante de actividade da empresa.

O que é que está a ser pensado para o Festival Nacional de Gastronomia?
Nós, de facto, caminhamos em várias frentes e esta situação de pandemia colocou-nos alguns constrangimentos. Há uma mudança interna de organização da empresa, e essa teve continuidade, mas, de facto, houve eventos que foram repensados. Contudo, existe intenção da parte da CMS de realizar a 40ª edição do FNG. Em Março, apresentámos publicamente um programa vasto de actividades, e houve já a decisão destas actividades serem prolongadas para 2021, daí a imagem que já colocámos publica até no campo Emílio Infante da Câmara, onde estamos a dizer à população que, em 2020 e 2021, estamos a celebrar os 40 anos da existência do principal e mais antigo Festival de Gastronomia português.
Até há muito pouco tempo, havia uma indefinição: neste momento, a decisão é que, se as condições de saúde pública se mantiverem nesta situação, adaptando o espaço e a organização, aspectos que já estão a ser trabalhados, o Festival vai ser uma realidade. Em Julho, grande parte dos restaurantes que vão estar no FNG já vêm até Santarém. Vai haver a primeira reunião de trabalho de preparação com os restaurantes. Vamos imprimir algumas novidades, porque é essencial envolver a restauração de Santarém, uma crítica que temos ouvido ao longo dos últimos anos. Este ano, a restauração do concelho vai ter um espaço central e de destaque, onde todos os dias, várias vezes por dia, os vários restaurantes de Santarém vão estar no FNG seja através de showcookings ou conferências a mostrar aquilo que melhor sabem fazer. Vamos adaptar o espaço da restauração e posso já adiantar que, por exemplo, vão existir espaços acrescidos para a zona de restauração sentada. É possível que essa zona existente passe a ser apenas de circuito em pé e de petisco. Depois, irá haver uma zona adjacente, para cumprir as normas, onde se possa sentar com o devido distanciamento e devida segurança.

Como é gerir uma empresa com esta natureza durante a actual crise?
A vida tem-me proporcionado desafios interessantes. Eu venho do desafio de ter estado à frente, em Leiria, de um hospital que estava financeiramente numa situação dramática e demos ali uma volta muito grande, ao hospital, e à instituição em si. Este é mais um desafio, longe de mim, quando aceitei o desafio, pensar passar por uma situação destas. São os desafios que nos fazem crescer: aquilo que estou a viver com quem cá trabalha é um momento difícil, mas também percebemos que temos aqui muita gente pronta e preparada para enfrentar momentos como estes.
Temos que nos reinventar, seguir em frente, pensar que o futuro é melhor do que aquilo que estamos a viver. Estamos a aprofundar os projectos que temos em marcha e tivemos recentemente boas notícias relativamente ao caravanismo. O projecto já obteve luz verde por parte dos fundos comunitários. Paralelamente, será pensado, também nestes terrenos, o processo de parque de campismo e bungalows, como disse, para aumentar a sustentabilidade financeira da empresa criando novas formas e fontes de receita, diminuindo aquilo que já é uma dependência diminuta do Município.

Durante a fase de confinamento, a empresa não parou e reinventou-se com projectos online. São para manter algumas dessas ideias?
Sem dúvida. Obviamente que era preferível não ter havido pandemia, mas a utilização das novas tecnologias foi algo que a pandemia nos trouxe. Tivemos, em todas as conferências que realizamos, e foram cinco, mais pessoas do que se as tivéssemos realizado fisicamente e num espaço próprio.
Isso faz com que, no futuro, tenhamos que pensar que iniciativas dessas terão que passar também pelo uso das novas tecnologias: quantas mais pessoas tivermos a participar connosco nestas iniciativas melhor. As conferencias planeadas mantiveram-se e foram um sucesso algumas com centenas de participantes.

Como é que a empresa está a promover o retomar das actividades desportivas e a abertura dos pavilhões?
Nós, em conjunto com a CMS, com o pelouro do desporto, trabalhamos na construção de vários planos de contingência para cada uma das infra-estruturas e desde o dia 15, deste mês de Junho, as associações e clubes sabem que têm à disposição já as infra-estruturas, embora em moldes diferentes das que estávamos habituados. Existem vários constrangimentos de horários, mas os clubes sabem que o plano de contingência também oferece segurança e higiene a quem usa os diversos recintos. Já existem vários clubes a usar o pavilhão gimnodesportivo, e também o pavilhão da ex-Escola Prática de Cavalaria vai ser utilizado mediante estas regras de redução significativa do número de utilizadores por cada treino. Há uma higienização entre cada treino: todas essas regras estão estipuladas no nosso plano. Há também uma compreensão muito grande por parte de todos.

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