Incomodado com a normalização de comportamentos impróprios em recintos desportivos, o presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, diligenciou para que essas práticas sejam punidas com coimas, para “mudar mentalidades” e promover o desporto “como escola de virtudes”.

A medida é o passo seguinte do projeto “Pais de desportistas, são pais responsáveis”, que durante os últimos três anos procurou sensibilizar as associações e agentes desportivos, nas modalidades e escalões de formação, a adotar e incentivar valores de urbanidade no desporto.

Agora, “foi dado outro passo”, e a autarquia do distrito de Santarém informou ter reunido com a GNR para que a lei, “que já existe”, comece a ser aplicada a partir de março e linguagem desrespeitosa, de incitamento à violência ou intolerante em recintos desportivos seja penalizada com coimas, que podem ir dos 750 euros aos 10 mil euros, “para todos”.

Pedro Ribeiro refere-se à Lei 39/2009, “que existe, mas nunca ninguém se quis aborrecer muito com o assunto, porque, enquanto sociedade, fomos normalizando muito estas situações”, refere o autarca, que não se sente confortável em levar o filho de seis anos a recintos desportivos onde não há travão na linguagem, os palavrões estão vulgarizados e as ofensas também.

“Em janeiro e fevereiro, vamos sensibilizar as pessoas”, informou, acrescentando que, depois, a lei será aplicada para consciencializar quem está fora das quatro linhas, embora tenha vindo a ser feito trabalho com clubes e associações para que existam igualmente penalizações desportivas dentro de campo em caso de comportamento impróprio.

À agência Lusa, o presidente da Câmara de Almeirim explicou que já é dada uma folha aos árbitros onde, além do habitual relatório, devem anotar “coisas ditas como normais, mas que não devem ser normais”, assim como os funcionários dos recintos municipais têm indicações para relatarem faltas de desportivismo.

“Dentro de campo, os árbitros também devem começar a ser mais intolerantes com determinadas ações e palavras”, preconizou.

O líder da autarquia entende que muitos maus exemplos são provenientes dos agentes desportivos profissionais, e podem levar adeptos e outros atletas a acharem que é legítimo replicar atitudes censuráveis, o que não pode suceder, já que os insultos, por vezes, descambam “em comportamentos piores”.

Pedro Ribeiro vincou a importância de “mudar hábitos”, recorrendo aos autos no local, por parte das forças de segurança, como elemento dissuasor e forma de levar as pessoas “a pensar duas vezes” nas palavras que proferem, mas também a alertar os restantes adeptos a estarem atentos e chamarem a atenção de quem está ao lado.

“O desporto tem importância no desenvolvimento das crianças. Queremos dignificar o desporto e criar condições para o desporto ser o que sempre foi: uma escola de virtudes, onde também se aprende a lidar com frustrações e a perder”, disse à agência Lusa o autarca de Almeirim.

Para Pedro Ribeiro, a competição não pode ser apenas uma corrida por classificações, que oblitere valores fundamentais.

“No desporto, deve ensinar-se a prática desportiva, mas também valores, e um dos valores é a urbanidade”, acentuou o presidente da Câmara de Almeirim, para quem esta medida devia ser implementada a outra escala.

Pedro Ribeiro mostrou-se disponível para transmitir às federações “os passos dados e as dificuldades encontradas”.

Em Almeirim, as normas da autarquia “ajudaram os clubes a ficarem mais respaldados para aplicarem os seus regulamentos internos” em termos disciplinares, sublinhou Pedro Ribeiro.

Por ser uma modalidade com mais praticantes, situações pouco dignificantes têm saltado à vista no futebol e o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luciano Gonçalves, aplaude a iniciativa, que gostava de ver generalizada.

“Nós somos um país que tem muitas leis, mas não as cumprimos, e dou os parabéns à Câmara de Almeirim por ter a coragem para o fazer”, acentuou Luciano Gonçalves, que afirma não ser “utópico” e por isso achar que a medida não terá efeitos no futebol profissional.

O dirigente dá o exemplo de decisões dos tribunais fundamentadas no argumento de que certos comportamentos são normais no futebol e, por existir essa normalização, “o pensamento de que no futebol tudo é tolerado, acaba por não se penalizar”.

“Eu gostava era que nem sequer fosse necessário punir, era sinal de que conseguimos ter cultura desportiva, mas tudo tem um princípio. Acredito que, começando nas bases, o normal no futuro seja esse tipo de comportamento deixar de existir”, vaticinou o presidente da APAF.

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