O Conservatório de Música de Santarém iniciou este ano lectivo um programa educacional de dança, proporcionando uma possibilidade de formação aos jovens que querem vir a ter uma profissão nesta área, disseram os responsáveis do projeto.
A directora do Conservatório de Música de Santarém, Beatriz Martinho, e o coordenador do departamento de dança, Juan Seller, disseram à Lusa que o projeto, dirigido a maiores de 10 anos, é “uma ponte” para outro, o da criação de um curso de interpretação de dança contemporânea, que tem vindo a ser discutido com o Instituto do Emprego e Formação Profissional.
Com três anos lectivos, esse curso terá uma “dupla certificação”, escolar, com equivalência ao 12.º ano, e profissional, sendo expectativa que possa arrancar em 2021, disseram.
Professor, bailarino e coreógrafo, natural de Espanha e com um percurso por vários países dos continentes americano e europeu, Juan Seller começou a leccionar no Conservatório de Música de Santarém em 2019, tendo iniciado uma classe de dança contemporânea, que a pandemia obrigou a transpor para formato ‘online’.
A classe tornou-se, assim, internacional, atraindo antigos alunos das suas passagens por outros pontos do globo, incluindo pessoas com deficiência, no âmbito de um método que desenvolveu “com base nas suas experiências e conhecimentos”, aproveitando a sua formação nas disciplinas de teatro, teatro-dança, ballet, dança moderna e dança contemporânea.
Esta experiência, que passou pela realização de um espectáculo, juntamente com a classe de ballet, em Julho último, no Centro Cultural do Cartaxo – https://www.youtube.com/watch?v=Lleb3YYVelY -, fez nascer a vontade de avançar com um programa educacional de dança, iniciado em Outubro com oito alunos (entre os 10 e os 15 anos, sendo que é aberto a jovens até aos 17 anos), que ofereça a possibilidade de preparar, na região, os que pensam seguir uma carreia nesta área, disse.
Juan Seller quis dar a este programa o nome de Beatriz Martinho, numa homenagem a “uma pessoa comprometida com a sociedade e a cultura”, que sempre apoiou e “abriu as portas para um trabalho mais a sério” e que, “sem ser bailarina, revela grande sensibilidade” por esta arte, justificou.
O programa é desenvolvido em colaboração com os departamentos de música e de dança clássica do Conservatório e tem em perspectiva um intercâmbio com uma escola da Irlanda e protocolos com outras escolas nacionais.
“O conhecimento do corpo e das suas capacidades é o objectivo mais importante deste programa. A combinação da técnica e da emoção, a fim de aprender a expressar, a comunicar e a dominar a linguagem corporal”, afirma Juan Seller.
O programa educacional tem como base as disciplinas de dança contemporânea, dança moderna, dança académica e improvisação estruturada ao qual é adicionada a disciplina de música (essencialmente através do ritmo), contando com três módulos, aos quais os alunos não podem dar mais do que quatro faltas injustificadas e a que são submetidos a avaliação.
As disciplinas incluem três técnicas que visam “melhorar a expressão corporal e a clareza do movimento, mas também entender a filosofia dos antigos mestres, conduzindo os alunos à compreensão da dança e a sua evolução”, afirmou.
Além do Método Seller (técnica de dança contemporânea), incluem as técnicas de dança moderna de Martha Graham, Lester Horton e Jose Limón e a técnica de dança académica (exercícios básicos de dança clássica que complementam as outras duas), acrescentou.
Criado em Maio de 1985, inicialmente como escola de música, o Conservatório de Música de Santarém abriu a sua oferta ao ensino da dança, ambição antiga da sua directora, com a mudança para as actuais instalações, no centro histórico da cidade, em 2012.
Com esta mudança, o Conservatório passou de mais de uma centena para mais de 400 alunos, contando actualmente com mais de 40 professores e mais de 20 cursos de música, tendo no presente ano lectivo sido iniciado o ensino de mais quatro instrumentos.
Com a pandemia da covid-19, as aulas presenciais passaram a obedecer a novas regras, sendo igualmente asseguradas aulas à distância, disse Beatriz Martinho.