O grande e violento sismo que há dias abalou a Turquia e a Síria, leva-me hoje a abordar o tema cidades. Falemos hoje de algumas, em diversas regiões do mundo, que ainda no século XVI com a chegada dos portugueses na sua Expansão Oriental, viveram um processo de migração populacional originando uma série de mudanças e evoluções que, de pequenas aldeias tornaram-se aglomerados densamente habitados e grandes centros comerciais e militares.
1. Comecemos com Mazagão, no N de África. Em 1502, o Xarife Celeme Bem Omar, propôs aos portugueses a construção de uma fortaleza que servisse de proteção ao comércio do trigo. Esta é construída em 1514 por D. Jaime, Duque de Bragança. Em 1541, debaixo de uma pressão militar intensa movida por Mohammed-Ech-Cheikh, D. João III manda construir uma nova fortaleza à volta da anterior. Será o arquitecto quinhentista João de Castilho que ajudado por 1500 homens, diz-se, a construiu em 2 meses. Mazagão constitui o primeiro exemplo de arquitectura militar europeia erguida fora da Europa. No seu interior localizavam-se vários equipamentos de assistência como o hospital, a vedoria, os celeiros, o palácio do governador, os armazéns, a cisterna, o chafariz, igrejas e ermidas. A cidade manteve-se na posse da coroa até 1769, data em que as famílias locais e seus escravos foram levados para o Brasil (1).
2. A aldeia de Baçaim, foi cedida aos portugueses pelo sultão de Bijapur pelo Tratado de 1534, visando parar os ataques aos seus territórios. Em 1536 inicia-se a construção do forte de São Sebastião. Baçaim veio a ter uma grande importância económica, pois era próspera a agricultura, o comércio do sal, pedras para construção, cavalos, madeiras e construção naval. A presença das diferentes Ordens, rivalizando-se em brilho e opulência, deram-lhe uma grande importância religiosa, pois marcaram a paisagem com centenas de igrejas, capelas e oratórios, fazendo com que o baptismo entre os indianos criasse um grupo social de acordo com o desígnio português. A glória da cidade foi no período entre 1535 e 1739, pois era majestosa, os edifícios belos e os nobres viviam em elegantes palácios e residências.
Mesmo vítima em Maio de 1618 de um enorme terramoto seguido de maremoto que a destruiu e lhe causou milhares de mortos, em poucos anos recuperou e voltou à sua excelente qualidade de vida. Perde-se Baçaim em 1739 para um exército do Império Marata, ao _ m de três meses de cerco e intensa luta (2).
3. Com o Tratado de Saragoça em 1529, confirma-se que o Japão está na esfera de influência portuguesa. Para lá se dirigiram comerciantes e sacerdotes jesuítas desempenhando importante papel entre 1543 e 1641, período chamado de “século kirishitan” (cristão). Em 1550 e 1551 S. Francisco Xavier aqui cristianizou. Omura Sumitada, foi o primeiro “daimio” a converter-se ao cristianismo, com o nome de D. Bartolomeu. Este cedeu aos jesuítas, em 1580, a aldeia piscatória de Nagasaki. Nagasaki vai desenvolver-se pelas colinas circundantes à volta da igreja, da Misericórdia e da Câmara Municipal, com as casas todas pintadas de branco, à maneira portuguesa, e tornar-se no principal porto sendo também a porta do Japão para o mundo. Sem fortificações, era regida por um “Código Civil” e um “Código Criminal” distintos da lei japonesa, porque adaptada da lei romana.
As escolas cristãs divulgavam a cultura europeia. Em 1586, já com 5 mil habitantes, foi invadida por forças de Shimazu Yoshihisa que finda a administração portuguesa. Em 1614, no xogunato de Tokugawa Ieyasu, é banido o cristianismo. A cidade espraiada pelas elevações, foi a 9 de agosto de 1945, na 2ª GG, destruída por uma bomba atómica, embora com menos danos que a cidade de Hiroshima, devido ao seu relevo (3).
4. Em 1522 encontram-se já os portugueses instalados na ilha de Ternate, Arquipélago das Molucas (Insulíndia), graças à amizade de Francisco Serrão com o sultão Abu Lais, vivendo este na sua Corte qual cônsul português, ajudando-o a derrotar o seu grande rival da ilha de Tidore.
Em Ternate constroem os portugueses a Fortaleza de S. João Baptista, promovem o casamento de portugueses com a realeza da região e asseguram o controlo do fluxo do cravinho. Mantendo-se o antagonismo com Tidore e o grande apoio desta ilha às forças espanholas, pois à época mantinha-se a dúvida sobre a localização exacta do arquipélago das Molucas perante o Tratado de Tordesilhas, vai levar António Galvão, o 7.º capitão das Molucas (1541-43) a invadir Tidore, derrotar os espanhóis e destruir a cidade. Feitas as tréguas e concedida uma paz honrosa ao sultão, com quem fez boa amizade, António Galvão vai ordenar aos seus homens e aos seus artífices, a reedificação da cidade destruída com pormenores ocidentais, destacando. se nesta reedificação a organização e urbanização da cidade, nela construindo uma escola, um hospital e um seminário geridos pelos dominicanos (4).
[F. Paula (1), R. Brito (2), B. Pires (3), A. Almeida (4). Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.