O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Médio Tejo contratou cinco médicos de família, situação que os utentes da saúde dizem ser “insuficiente e preocupante”, tendo lembrado as 12 vagas a concurso e um défice atual de 28 médicos.
“Para o último concurso nacional foi pedida a abertura de 22 vagas para médicos de família, foram atribuídas 12 e só foram preenchidas cinco, o que é manifestamente insuficiente”, disse hoje à Lusa Manuel Soares, porta-voz da Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT), sublinhando que há um “défice de 28 profissionais” para os cuidados médicos e “mais de 20% da população sem médico atribuído”, cerca de 50 mil utentes, numa situação que classificou de “preocupante”.
Manuel Soares afirmou que “os cuidados médicos são aqueles que têm mais problemas porque não se consegue garantir de momento a abertura das unidades de saúde de proximidade”, tendo acrescentado que “só foram colocados cinco médicos, concretamente um no Entroncamento, dois em Ourém e dois em Tomar”, e que os concelhos mais afetados eram os de Abrantes, Alcanena e Ourém.
O representante da CUSMT deu conta à Lusa dos resultados da reunião com a diretora executiva do ACES Médio Tejo, Diana Leiria, realizada na terça-feira, tendo recebido a informação de que, “para as vagas que não foram preenchidas, até final de agosto vai ser aberto novo concurso” para médicos de família.
“É ver para crer, mas esperemos que haja pelo menos três ou quatro médicos que possam realmente vir, que não tiveram lugar noutros lados”, afirmou, dando conta que “nominalmente” o ACES “baixou de 60 mil para 50 mil” o número de utentes sem médico atribuído.
Uma situação que, acrescentou, “não significa que estejam todos sem cuidados médicos devidamente organizados e clarificados”, devido, nomeadamente, a prestadores de serviços e outros médicos contratados pelo ACES.
Contactado pela Lusa, o ACES Médio Tejo confirmou que “neste momento tem cerca de 50 mil utentes sem médico de família atribuído, pelo que necessitaria de 28 médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar para garantir médico a todos os utentes inscritos e frequentadores”.
Questionado sobre a posição da CUSMT para a “necessidade de criação de mais Unidades de Cuidados à Comunidade, com enfermeiros e assistentes operacionais”, a alteração “urgente” das “condições materiais para a prestação de cuidados médicos e a abertura de novo concurso por parte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Diana Leira disse que “a solução que for encontrada para o ACES Médio Tejo será a solução que for encontrada para a região e para o país, já que”, acrescentou, “infelizmente, este não é um problema circunscrito ao Médio Tejo, mas um problema nacional, transversal a todos os níveis de cuidados”.
Por outro lado, a diretora executiva do ACES confirmou que no recente concurso de ingresso na carreira especial médica de Medicina Geral e Familiar foram atribuídas 12 vagas ao ACES Médio Tejo” e que foram preenchidas cinco.
O porta-voz da CUSMT disse à Lusa que a comissão vai manter-se “atenta e empenhada” e que “se justifica de toda a maneira que os utentes façam pressão junto das autarquias para que não abandonem esta reivindicação de haver cuidados de proximidade para todos os habitantes” do Médio Tejo, assim como a própria CUSMT vai pressionar as entidades competentes, não só relativamente a médicos, mas a outros profissionais, como assistentes técnicos e enfermeiros.
Na reunião de trabalho, segundo Manuel Soares, foram debatidas outras questões da saúde pública “como a vacinação, as questões da mortalidade e da contingência na época de calor, questões relativamente a rastreios do cancro e da retinopatia diabética, a par das questões relativas à saúde oral”, sendo esta última situação merecedora de particular atenção.
“Embora com atraso de alguns anos, acabaram por ser instalados todos os gabinetes de saúde oral em todos os 12 centros de saúde”, realçou, dando conta, no entanto, que “hoje, dos 12 centros de saúde, apenas cinco estão a funcionar e têm profissionais” e que, “no caso de Fátima, Mação, Ferreira do Zêzere, Alcanena, Sardoal, Constância e Torres Novas, os profissionais abandonaram o serviço” nos gabinetes.
“Antes não havia saúde oral porque não havia gabinetes, equipamentos e condições, hoje há gabinetes, equipamentos e condições e não há profissionais, portanto nós vamos indagar o que é que se passa”, disse.
Ficou marcada uma nova reunião com o ACES no mês de setembro para “debater, entre outros, a questão dos gabinetes de saúde oral e saber quais são as perspetivas para o futuro imediato e o futuro a médio prazo, nomeadamente no que respeita às contratações de médicos” de família, tendo em conta que “houve médicos que recusaram a majoração do seu salário para o dobro, porque não aceitaram onde iam ser colocados”.
“Há questões que precisam de uma análise mais fina”, disse Manuel Soares, lembrando que “não há alternativa em matéria de cuidados de saúde, não há alternativa aos cuidados primários” e que “é preciso todos os dias fazer um esforço” para que em alguns locais os serviços não venham a piorar.
O ACES Médio Tejo tem 2.706 quilómetros quadrados e abrange 11 municípios com cerca de 225 mil utentes/frequentadores, sendo composto pelos municípios de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha, todos no distrito de Santarém.