No imenso álbum do Universo, capítulo Terra, o Tempo acaba de cerrar, com o seu aguçado estilete, o parêntesis que a temporada das férias abriu na actividade humana.
E num esmaecer de festas, as garden-parties precipitam-se; as batidas de caça rareiam; as excursões alpestres suspendem…
Despovoam-se as termas; as praias, invadidas pelos primeiros arrepios de Outubro, dispensam os banhistas, deixando em desolação o solitário tapis vert; e nos casinos, prestes a encerrarem-se, as arcadas dos violinos vão smorzando no abandono das salas e na saudade dos que partem.
Começa a fervilhar mais fortemente o movimento citadino.
Reabrem as escolas. A garotada volta tristonha para o domínio da férula. Escancaram- se os portais dos liceus e das universidades. Afluem capas negras. Minerva, erguendo o olhar dos cartapácios, dá boas-vindas no seu sorriso bondoso de deusa protectora.
Esgotado até as fezes o cálice das licenças, a burocracia volta ás repartições e retoma a sua manga d’alpaca.
Funcionam os tribunais, onde a figura austera da Lei, acordando da sua profunda letargia, limpa a ferrugem do gladio e a poeira acumulada nos pratos da balança e ajustando a venda, de modo a poder deitar a sua olhadela de soslaio, entra, resignadamente, nas suas altas funções.
O findar das férias…
Este momento é, na sua essência psicológica, como que uma amalgama da saudade melancólica dos dias que passaram com o alegre anseio de recomeçar a actividade interrompida.
(In: Correio da Extremadura de 06 de Outubro de 1923).
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