A acção destruidora do tempo, de braço dado com o camartelo municipal, tem feito desaparecer as melhores folhas do Livro do Passado, que era todo o Santarém, pouco restando hoje d’esse património que devíamos legar aos vindouros.
Monumentos extintos
S. Bento – Fundação de beneditinos, em 1390, no reinado de D. Diniz. Sítio incomparável. De cada janela d’esse desaparecido mosteiro, os freires descortinavam pedaços de campo, trechos de rio, uma paisagem sugestiva com perfumes de poesia na lenda tão amorável do Crucifixo. Onde havia um altar plantou-se uma piteira; onde existia um pórtico colocaram um pocilgo!
A Torre do Alporão – Foi apeada, para que ali passasse o coche de D. Maria I, sem que os edis do tempo se lembrassem que era obra dos romanos, e do alto da qual, durante a ocupação sarracena, o árabe ditava ao povo a lei de Mahomet.
Convento das Donas – Fundado por S. Frei Gil, quando empunhava o sceptro o rei bolonhês; serve para alojar os regimentos de infantaria. Os paramentos e alfaias foram adornar o Museu das Janelas Verdes.
A Torre do Bufo – Hoje domínio da fábula, diz-se ter existido em Alcáçova. Nela se entesouravam os dinheiros da Coroa. Tão elevada era que d’ali se avistava a cidade de Lisboa. Pertenceu posteriormente aos condes de Tarouca e depois ás picaretas dos pedreiros.
O mosteiro das Carmelitas – Contrui-se no tempo de D. João IV, no sítio da Pedreira; foi aproveitado para as repartições publicas. Da antiga construção vê-se ainda parte do claustro, e o rés-do-chão abobadado onde, sem luz, apodrecem os reclusos da comarca.
Do ascetério dos Padres Arrábidos – No sítio do Pereiro, também hoje não existe mais do que o terreno destinado ao Campo Santo. Ali residiu a filha única do condestável D. Nuno Álvares Pereira, casada com o 1º duque de Bragança, que deu princípio ao paço sobre as ruínas do qual se edificou o convento de S. João. D’aí veio a ficar este sítio conhecido pelo “Pereiro”.
S. Domingos – A ordem dominicana teve o seu convento no sítio onde Frei Luís de Sousa burilou os capítulos da sua “História de S. Domingos”, e onde hoje o Teodoro Gonçalves e José Casimiro lidam touros de João Coimbra. O túmulo de S. Freire Gil foi levado para a capital, e as colunas e docel do túmulo, as obras da ordem coríntia, desapareceram na voragem!
(In: Correio da Extremadura de 16 de Fevereiro de 1924).
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