Vítor Serrão é um dos grandes pioneiros da História da Arte em Portugal, disciplina que começou a ganhar força no País a partir dos anos 1970. Devido ao seu esforço metódico e militante, a ele se deve muito, ou quase tudo, do que existe estudado e inventariado neste campo.
Filho de Joaquim Veríssimo Serrão, mentor da Academia Portuguesa de História, Vítor Serrão nasceu no meio de livros, e foi aí que foi notando que, as suas páginas, só apresentavam os grandes monumentos e obras. O património que via nas igrejas e museus, que o avô lhe mostrava, amiúde, era ignorado e, por vezes, maltratado. Foi aí que o seu caminho começou a ser traçado: havia todo um património extraordinário “desconhecido e ignorado” em Portugal por estudar.
Pesquisador incansável, Vítor Serrão deitou mãos à obra, com o olhar de um grande Humanista, para quem os valores da amizade e da solidariedade são práticas de vida. Homem discreto e avesso aos holofotes das lisonjas públicas, porventura mais reconhecido lá fora do que cá dentro, a ele se deve, entre outras iniciativas relevantes, o lançamento da revista ARTIS e a criação do Mestrado em Estudos do Património. Colaborador de longa data do “Correio do Ribatejo”, jornal onde, muito cedo, começou a publicar os seus trabalhos e reflexões – e que este ano o homenageia- Vítor Serrão, sempre inquieto, afirma que “não há temas de Histórias da Arte menores”: obras mortas e expressões consideradas periféricas merecem a mesma dedicação por parte do investigador. Segundo afirma, “o património é muito mais do que aquilo que vem nos livros. Não é o grande retábulo, o grande monumento, a grande pintura. É muito mais: é algo que tem uma componente transcontextual, que gera encantamento e debate, para além do corpo utilitário que lhe deu forma”.

“Apreciar obras de arte, saber admirá-las como testemunhos e como presença na senda dos seus saberes estéticos e afectivos, é não só um privilégio do nosso mundo de viventes, como um imperativo de todas as pessoas, sejam governantes, tutelas, comunidades ou públicos em geral. E quando falamos em arte falamos em arquitectura e urbanismo, escultura e pintura, ourivesaria e têxteis, fotografia e gravura, mobiliário e artes de decoração, em poesia e demais literatura, em música e teatro e outras artes do espectáculo, em graffiti e na BD, em muitos outros géneros e subgéneros em que se manifesta essa sua capacidade de gerar fascínios, seja por via erudita ou ingénua, rica ou pobre, de vanguarda ou de conformismo”.
A frase é de Vítor Serrão, historiador de arte reputado, que se define como um Patrimonialista militante”, e que, desde sempre, defendeu a abordagem do Património numa perspectiva integrada e como parte dinâmica de um todo social.

Cidadão ‘adoptivo’ de Santarém, foi nesta cidade que aprendeu a “investigar nos arquivos, a ler velhas crónicas, a analisar os monumentos e obras de arte, a lutar por causas, a ouvir os arcanos, a escrever sobre temas locais, a militar no associativismo patrimonial, e a sentir o peso de uma História em fluxo”.

Na adolescência, esteve envolvido nos movimentos estudantis contra o salazarismo. Os ideias de esquerda sempre o acompanharam e, muitas vezes, remou contra a corrente dentro da academia. Sempre foi livre.
As bases para seu ofício de historiador de arte nasceram, segundo diz, com orgulho, “com a brisa do Tejo e o sabor secular da velha ‘Capital do Gótico’ de Vergílio Correia”.

A paixão pela História aprendeu-a com o avô: levava-o pela mão, muito novo, a visitar e descobrir a monumentalidade do Ribatejo e de Santarém. A curiosidade de saber mais foi aguçada.

Filho de Joaquim Veríssimo Serrão, mentor da Academia Portuguesa de História, Vítor Serrão nasceu no meio de livros, e foi aí que foi notando que, as suas páginas, só apresentavam os grandes monumentos e obras. O património que via nas igrejas e museus, que o avô lhe mostrava, amiúde, era ignorado e, por vezes, maltratado. Foi aí que o seu caminho começou a ser traçado: havia todo um património extraordinário “desconhecido e ignorado” em Portugal por estudar.

“Estudei artistas activos, na então vila, sobre os quais pouco ou nada se sabia, sobretudo os do Renascimento, do Maneirismo e do Barroco, e vários monumentos urbanos e rurais foram alvo de estudos tematizados. As valiosas tábuas quinhentistas de Romeira (finalmente restauradas) foram tema do meu primeiro estudo publicado aos dezoito anos. Colaborei na génese e estudo dos acervos daquele que é o melhor Museu Diocesano nacional. A cidade de meu querido Avô Joaquim Vicente Serrão, e de meus Pais, e de João Gomes Moreira, sempre permaneceu no meu coração”, declara.

“Aprendi a gostar muito de Santarém e foi aqui que publiquei os meus primeiros trabalhos”, lembrou. “Foi também no Correio do Ribatejo que, desde muito novo, fui colaborando com temas sobre o património. Julgava que eram artigos sem grande impacto, que ninguém os lia, que não iriam, propriamente, provocar grande debate, mas enganei-me. Efectivamente, é uma matéria que dá frutos e provoca interesse nas pessoas”, revela Vítor Serrão, um dos 20 fundadores da Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico Cultural de Santarém (AEDPHCS), “um movimento que veio mostrar que a política também era feita no território da cultura e do património. Uma autêntica escola, que conquistou Portugal”.

Para o historiador, que mantém, até aos dias de hoje, uma estreita colaboração com o Jornal Correio do Ribatejo, “património é memória identitária fundamental que impõe registo, estudo e medidas preventivas, possibilitando a sua fruição como algo que torna o homem melhor”.

“O património é muito mais do que aquilo que vem nos livros. Não é o grande retábulo, o grande monumento, a grande pintura. É muito mais: é algo que tem uma componente transcontextual, que gera encantamento e debate, para além do corpo utilitário que lhe deu forma”, reflecte.
Ao longo da sua vida, Vítor Serrão, nascido em Toulouse (França) em Dezembro de 1952, tem-se movido por uma perpétua vontade de descobrir, de entender o que é o homem, a dignidade humana, e pelo combate às tiranias.

Referência maior no campo da História da Arte em Portugal, é doutorado pela Universidade de Coimbra, professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e coordenador do Instituto de História da Arte e da sua Revista Artis. Especializou-se no estudo da pintura portuguesa renascentista, maneirista e barroca, bem como em Teoria da Arte e no campo da salvaguarda do Património.

É autor de uma numerosa bibliografia nestes domínios. É também membro da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e do Conselho Redatorial do Archivo Español de Arte. No âmbito da sua obra recebeu o Prémio Nacional José de Figueiredo da Academia Nacional de Belas-Artes pelo livro “O Maneirismo e o Estatuto Social dos Pintores Portugueses”, o Prémio APOM pelo melhor catálogo de 1995, com a publicação “A Pintura Maneirista em Portugal – arte no tempo de Camões”, e o Prémio Nacional Gulbenkian de História de Arte pela obra “Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco”.

Tem-se dedicado, como historiador de arte, a estudos de temas da Idade Moderna, redignificando o património artístico português e o campo teórico e metodológico da disciplina na análise da produção a partir de visões globalizantes, atento às mecânicas do mecenato, ao estatuto social dos artistas e aos programas iconológicos dos conjuntos e obras. Especial interesse tem manifestado por “períodos escuros” da arte portuguesa, como sejam o Maneirismo e o Proto-Barroco, a que dedicou longas pesquisas.

Leia também...

Hospital de Santarém – Uma homenagem sentida aos ‘homens e mulheres’ da Linha da Frente

Especial 130 anos do Jornal Correio do Ribatejo O mundo mudou há…

Empresário de Santarém é o mandatário nacional da candidatura de André Ventura às presidenciais

Rui Paulo Sousa, o empresário de Santarém de 53 anos, vai ser…

Vítima mortal de violento acidente na A1 é empresário hoteleiro da zona de Lisboa

João André Pereira, com 35 anos de idade, fundador do grupo “Caseiro”…

Quatro praias fluviais do distrito de Santarém com Bandeira Azul

As praias do Carvoeiro (Mação), Agroal (Ourém), Aldeia do Mato e Fontes…