Crónicas do Tejo 248

Uma «outra pomada» numa Visão defeituosa sobre o Bairro Alto

Na página 18 do suplemento Sete da Visão de 23-8-2012 aparece uma «pérola» assinada por Inês Rapazote. Sem qualquer pudor e tomando partido contra o sossego dos moradores, o texto termina de modo irónico e convidativo a prevaricar: «É um sítio engraçado para se beber um copo de vinho antes ou depois do jantar. Mas esteja atento às horas (há um relógio de origem na parede): o espaço fecha à meia-noite. Sabe-se lá se quem infringir a lei não se transforma em abóbora…» Fingindo desconhecer que no Bairro Alto vivem pessoas (que teimam ainda em viver num espaço que para muitos é terra queimada) a jornalista assina um recado contra as leis, lamentando de forma óbvia que aquela casa (a que chama wine bar) tenha que fechar à meia- noite.

Nem reparou no sentimento de impunidade daquela gentinha ostensivamente sentada nos passeios que tomam como seus e não do Bairro, nem reparou na venda e no consumo de álcool por menores na rua, nem reparou no tamanho dos bares sem instalações sanitárias pois são do tamanho de instalações sanitárias, nem reparou no barulho ensurdecedor dos bares com música ao vivo, nem reparou nos «aflitos» que urinam contra as portas dos nosso automóveis, nem reparou na dificuldade em circularem as viaturas não só dos moradores mas também das autoridades e bombeiros, nem reparou que um canal americano já nos comparou ao bairro mais pobre de Bagkok, um bairro onde tudo é possível.  Não viu nada disto mas soube ver que eles, coitados, os da loja devem fechar às zero horas. Ora abóbora, senhora jornalista. Deixe-se de conversas e venha ver o que é um bairro degradado onde muitos interessados querem rebentar com os moradores para ficarem só bares e restaurantes.

José do Carmo Francisco

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