Eleita recentemente para a presidência da Direcção do Lar de Santo António, em Santarém, Susana Pitta Soares abraça esta missão movida pelo compromisso de construir “um lar com alma”. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, fala do projecto que a nova equipa pretende desenvolver sob o lema “Um Lar, Um Futuro”, sublinhando a importância da comunidade no apoio às crianças e jovens acolhidos.

O Lar de Santo António tem 155 anos de história. Que significado tem para si assumir a presidência desta instituição tão marcante em Santarém?

Assumir a presidência da Direção do Lar de Santo António é, acima de tudo, um ato de profunda responsabilidade e respeito por uma história que atravessa gerações. É impossível ficar indiferente ao legado desta Casa centenária, que tem sido porto seguro e farol para tantas vidas em momentos de fragilidade. Esta missão é, para mim e, naturalmente, para a equipa que me acompanha, um compromisso ético e afectivo: cuidar da memória, honrar quem construiu este caminho e, sobretudo, projectar o futuro com coragem, inovação e humanidade.

A nova direcção surge com o lema “Um Lar, Um Futuro”. Que objectivos prioritários definiram para este mandato?

“Um Lar, Um Futuro” é mais do que um lema — é a nossa visão. Queremos que cada criança e jovem aqui acolhido se sinta verdadeiramente em casa, com estabilidade emocional, segurança e afecto. A par disso, queremos preparar cada um para construir um futuro digno, com acesso à educação, cultura, saúde e competências para a autonomia. Priorizamos a reorganização interna, o reforço de uma equipa multidisciplinar motivada, a melhoria das instalações e a abertura à comunidade. Queremos que o Lar seja uma casa viva, integrada, onde se respira cuidado e ESPERANÇA.

A gestão de uma instituição com esta responsabilidade exige não só conhecimento técnico, mas também sensibilidade humana. De que forma a sua experiência pessoal e profissional poderá contribuir para esta missão?

Sou Advogada e Professora e, ao longo do meu percurso, sempre coloquei as pessoas no centro da minha ação. Acredito numa educação que transforma, que acolhe, que desperta o melhor de cada um. Tenho uma equipa com competências diversas e complementares, com quem partilho esta visão. A minha sensibilidade humana vem do chão da escola e da vida: aprendi a ouvir, a cuidar, a estar presente. Este percurso é reforçado por um envolvimento de longa data com a área social. Fui vereadora com o pelouro da Ação Social na Câmara Municipal de Santarém, integrei a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e atualmente faço parte dos órgãos sociais da associação r.INseRIR. Estes cargos deram-me uma visão abrangente das respostas sociais, das suas dificuldades e potencialidades, assim como um conhecimento prático das redes de cooperação locais. É com essa experiência e esse olhar, ladeada de uma equipa unida, coesa e muito empenhada, que abraço,agora, esta missão.

O acolhimento de crianças e jovens envolve desafios constantes. Que papel deve a comunidade local desempenhar no apoio ao Lar de Santo António?

O Lar de Santo António não é uma ilha — é parte integrante da cidade e do tecido social de Santarém. O apoio da comunidade é essencial, não só em termos materiais, mas sobretudo em termos afetivos e relacionais. Precisamos de voluntários, de instituições parceiras, de famílias que se aproximem, de empresas que se envolvam, de escolas que criem pontes. Acreditamos numa rede solidária onde todos têm um papel.  O futuro das nossas crianças é Responsabilidade de Todos, Todos, Todos!

Que mensagem gostaria de deixar às famílias, às crianças acolhidas e à sociedade civil sobre o futuro desta Casa?

Gostaria de dizer que esta Casa tem Futuro. Que cada criança que entra por este portão tem direito a ser ouvida, protegida e acompanhada com dignidade. Às famílias, deixo uma palavra de empatia, escuta e compromisso. Estamos aqui para construir uma relação de confiança, onde cada voz será sempre ouvida e cada necessidade será sempre respeitada e atendida. À sociedade civil, lanço um desafio: que não vire o rosto, que se envolva, que participe. Cuidar das nossas crianças e jovens é uma responsabilidade coletiva. Precisamos de uma comunidade atenta, presente e solidária — só assim construiremos, verdadeiramente, um futuro para todos. 

Esta é uma casa feita de histórias reais, de desafios duros, mas também de sonhos. E enquanto houver sonhos, haverá futuro. Um Lar com Alma é aquele que acredita, resiste e renasce, todos os dias.

Um livro que a marcou?

Os Maias, de Eça de Queirós — pela sua profundidade e pela crítica ao comportamento humano e à sociedade.

Uma figura que a inspira?

O Padre Américo – pela entrega à causa dos mais vulneráveis, especialmente as crianças. 

Uma viagem memorável?

Paris — porque foi vivida com o meu marido e com amigos muito especiais na nossa vida. Há lugares que se tornam eternos pela companhia, não apenas pela beleza.

Uma causa que nunca abandona?

A defesa dos direitos das crianças e jovens, especialmente os mais vulneráveis.

O que mais aprecia nas pessoas?

A capacidade de serem autênticas, de se manterem fiéis a si mesmas, mesmo quando o mundo à sua volta tenta moldá-las.

O que mais a desilude nelas?

Desilude-me profundamente quando as pessoas olham apenas para o seu próprio interesse, indiferentes aos outros e ao que se passa à sua volta.

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