Roy Lewis e a sua “Alma Ribatejana”

Roy Lewis nasceu na Escócia. Aos 19 anos pilotava helicópteros para a Marinha Real Britânica. Daí passou para a aviação civil, voou para a British Airways, e viajou pelo mundo inteiro. Ainda durante a sua vida de piloto procurou um local para ter uma casa de férias. Portugal foi o local escolhido, primeiro nas Caldas da Rainha e depois na Ericeira. Com a reforma, durante o Covid, e quando se questionou onde iria ficar “para o resto da vida” a escolha foi Santarém, local onde “se sente em casa”, o que nunca tinha acontecido devido à profissão de piloto. 

Agora reformado, decidiu abrir um espaço de partilha em Santarém, a “Alma Scalabitana”, onde os artistas podem mostrar e vender a sua arte, onde se pode aprender a fazer ou apenas admirar as peças expostas. 

Tudo começou num jantar, numa conversa com João Duarte, que mostrou a Roy o atelier onde fazia os seus azulejos. Ao mesmo tempo que à sua porta passam cada vez mais turistas, as ideias começam a surgir e assim nasce a Galeria. O que começa com azulejos rapidamente evolui: fotografia, pintura, vários tipos de arte, tapeçaria ou escultura, o espaço de partilha alberga agora todo o tipo de solicitações. 

Como é que o Roy acaba a viver em Santarém? 

Comecei na Marinha Real aos 19 anos, a voar helicópteros. Daí passei para a aviação civil. Não tinha o sonho de ser piloto em criança, mas acabei por cair nesta profissão que me deu uma carreira e uma vida estáveis.

A dada altura quando voava pela British Airways andava à procura de uma casa de férias, e vinha cá com alguma regularidade, e decidi que gostava de cá estar, isto há 22 anos. 

Inicialmente estávamos perto de Caldas da Rainha, mas nessa altura ainda estava a trabalhar, não ficava por cá mais do que cinco ou seis dias, a recuperar de um voo. Quando me reformei tive que pensar onde iria ficar para o resto da vida. Eu gosto de trabalhar com as mãos, e tenho jeito. Depois de algumas peripécias encontrei um apartamento em Santarém, na zona histórica. E aqui sinto-me em casa que é uma sensação que nunca tive, sendo piloto estava sempre a voar de um lado para o outro. Adoro as pessoas daqui e estou confortável. 

 

E como surge a ideia de abrir este espaço? 

Por acaso num almoço acabei por conhecer o João Duarte, o rapaz que faz os azulejos, ele mostrou-me o atelier dele. Ao mesmo tempo comecei a reparar no número de turistas que passam à minha porta aqui na zona histórica, e não há nada para os turistas, para que possam levar algo daqui, e Santarém tem uma história tão rica, não são só igrejas. Senti alguma tristeza porque eles não têm nada para levar, o que existe por aqui é o íman para o frigorífico, mas é uma coisa produzida em massa fora de Santarém. 

Eu pensei que queria algo diferente, mais tradicional, algo que mostre respeito pela maneira de viver e pela forma de fazer estas peças de arte. E isto acaba por voltar tudo ao João, ele faz tudo sozinho, é único, e eu pensei que isto é que os turistas devem poder levar para casa, algo que seja realmente português, que representa Portugal, de alguma forma. E foi assim que a ideia se começou a materializar. 

 

De início a ideia era vender apenas azulejos, como evoluiu esta ideia até chegar aqui?

Quando encontrei este espaço pensei logo que seria grande demais apenas para azulejo, mas depois conheci outras pessoas, conheci um fotógrafo, que me mostrou o seu trabalho, fotografias de Santarém que eu adorei, e pedi-lhe para tirar umas fotografias da cidade, que mostrasse a cidade no seu melhor, assiná-las e emoldurá-las. Depois pensei… não se pode comprar um postal em Santarém, então porque não pegar nas tais fotografias e transformá-las em postais? Portanto já temos um fotógrafo local, temos os postais, os azulejos, e as coisas evoluíram… comecei a olhar mais à frente.  

Se calhar o objectivo tem que passar por ajudar os artistas locais, encontrar um local onde os artistas possam mostrar o seu trabalho, e que possa ser um local de passagem para os turistas, e não só para os turistas, mas para as pessoas de Santarém. As pessoas daqui também gostam dos azulejos, e há quem gostasse de ter um painel de azulejos na sua casa, ou decorar uma cozinha por exemplo. 

Depois explorei outros tipos de artistas, e acabei por descobrir alguém que trabalha com cerâmica na Ericeira, no Algarve descobri alguém que fabrica móveis, carpetes em Braga. Tudo pessoas diferentes, que trabalham em áreas diferentes, mostraram interesse em mostrar os seus trabalhos aqui, darem-me os seus trabalhos para mostrar e vender. 

 

Trabalha mais como elo de ligação entre o público e os artistas…

Sim é o que eu sempre gostei, trabalhar mais em proximidade, temos um escultor, um pintor, um fotógrafo, temos quem faça facas, os azulejos… todos de Santarém, e ainda nem começámos! 

Isto acaba por ser um pouco uma loucura, eu estou reformado, não tinha necessidade de fazer isto. Não vou tirar daqui um ordenado para viver, a ideia não é essa, vamos tentar ajudar os artistas, dar-lhes um espaço para mostrar a sua arte, e o dinheiro que eventualmente se possa fazer será investido na loja ou no Centro Histórico. E acho que é bom para todos, já falei com uma das lojas aqui da rua, para eles terem o material deles também aqui exposto. Acho que somos uma comunidade, mas eu gostaria que fôssemos mais uma família, e dessa forma acho que pode ser bom para todos aqui à volta. 

 

Teve algum tipo de apoio das instituições da cidade? 

Fui falar com a igreja, porque me ocorreu que o tema religioso podia ser apelativo, e falei com a directora do museu que nos deu total apoio. Que teriam todo o gosto que se usem imagens das peças do museu, que o próprio museu iria adquirir peças nossas ao nível do azulejo. E não só a esse nível, mas discutimos colaborar a outros níveis, eles têm lá visitas de turistas, de crianças das escolas, e este ano já cheguei tarde, mas já ficou falado para podermos incluir a loja nos percursos turísticos. Quero trabalhar também com as escolas, especialmente os departamentos de artes para que os estudantes tenham aqui também um local onde possam aprender ou expor. 

 

Qual o horário de funcionamento?

Vamos estar abertos das 9h00 às 18h00, como horário normal, mas devido ao turismo não vamos fechar à hora de almoço. E depois temos de adaptar o horário para eventos específicos no Centro Histórico.  Vamos ter formações, possivelmente fora destes horários, vamos ter de nos adaptar, os adultos fora dos horários de trabalho, enquanto as crianças terão disponibilidade durante o dia. 

 

Quando será a abertura do espaço? 

Iremos inaugurar o espaço no dia 01 de Novembro, a partir das 10h00 e ao longo do dia. Vamos ter empadas e espumante e será uma boa oportunidade para vir visitar o espaço pela primeira vez.  

 

Há abertura para receber ainda mais artistas?

Sim, podem vir ter comigo aqui ao espaço situado na Rua Capelo e Ivens, 56, ou enviando mail para alma.scalabitana@gmail.com.

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