Dois estudos da Deco/Proteste sobre idosos em lares alertam para o tempo de espera por vagas, o valor incomportável e a deterioração da qualidade de vida e saúde destes durante a pandemia, que expôs as debilidades dos actuais modelos.
A organização de defesa do consumidor explicou hoje em comunicado que promoveu dois estudos sobre o custo e qualidade de vida dos idosos nos lares em território nacional, um referente aos últimos cinco anos e outro sobre o período de pandemia de covid-19.
“Segundo os dados apurados junto de familiares de utentes institucionalizados, a Deco/Proteste alerta para o tempo de espera por vagas, valor incomportável dos lares para os idosos e deterioração da sua qualidade de vida e saúde durante a pandemia de covid-19”, pode ler-se.
A Deco/Proteste apela assim “à revisão do modelo estrutural das instituições”, considerando que “a pandemia expôs de forma inquestionável as debilidades dos actuais modelos e a desprotecção a que está votada uma parte vulnerável e crescente da população portuguesa”.
Ambos os estudos tiveram em consideração entidades privadas, Instituições Privadas de Solidariedade Social(IPSS) e Misericórdias de norte a sul do país.
Os dados do primeiro estudo revelam que cada idoso tem uma factura mensal média de 951,2 euros, da qual consegue pagar 730,4 euros, com o valor remanescente (220,8 euros) a ser suportado pela família.
A par do valor praticado, cada idoso espera, em média, 108 dias por uma vaga num lar privado, 171 dias numa IPSS e 173 dias numa Misericórdia.
“No que respeita à saúde, o estudo demonstra que o número de idosos com baixa forma física e mobilidade sobe de 42% – no momento de entrada do lar – para 74% dias antes de falecerem”, aponta também.
A saúde mental dos idosos “piora igualmente”, passando de 35% dos casos para 59%.
Quanto à satisfação geral dos portugueses com os lares, esta tem uma pontuação de 6,8 em 10, “algo que é explicado pelo número de funcionários suficientes durante a semana, qualidade das refeições, condições dos quartos e transparência dos custos”.
Os aspectos relativos a cuidados médicos e de enfermagem são avaliados com uma pontuação de 6,6 em 10, enquanto os cuidados psicológicos e terapia ocupacional descem para 5,6, destaca ainda.
Segundo os 2.250 inquiridos, “a maioria dos lares preocupa-se em garantir um espaço para viver, refeições e cuidados de saúde, demonstrando uma insuficiência de actividades estimulantes, tanto do ponto de vista físico como mental – uma realidade agravada pelo efeito da pandemia”.
O segundo estudo, realizado nas duas primeiras semanas de Outubro, e que obteve 647 respostas, evidencia que “o confinamento entre Março e Abril agravou a qualidade de vida e a saúde dos idosos que habitam em lares”.
“Antes da quarentena, 69% dos idosos não sofriam de nenhum problema de saúde grave, um número que desceu para 57% durante o isolamento”, explica.
O inquérito assinala ainda “a falta de materiais” com 64% dos inquiridos a relatarem a “falta de higienizador de mãos para os funcionários e testes de covid-19 antes do confinamento, valor que desceu para 59% durante o confinamento e que voltou a decrescer para os 40% depois do confinamento”.
Já 57% dos inquiridos referiu que não existia roupa para protecção dos funcionários antes do confinamento, valor que desce agora para os 33%. Em relação às máscaras, 47% das pessoas assinalaram como uma falta antes do confinamento, valor que desceu para 36% durante o confinamento e para 14% após o confinamento.
Outros aspectos associados à gestão da pandemia, como a comunicação com as famílias, os cuidados médicos, a implementação das medidas de segurança no tempo certo e as acções para limitar a propagação da doença, mereceram uma satisfação de 7 a 7,6 pontos, números idênticos aos registados nos demais países do estudo.
“Esta realidade não se traduz, no entanto, em menos infecções. Nos lares da região Norte, independentemente do tipo, verificámos o maior número de casos positivos no país: 35% do total, contra 20% na região Centro”, refere ainda.