O ‘designer’ Luís Stoffel, natural de Santarém, doou ao Museu da Chapelaria 77 criações concebidas para produções teatrais, de moda e em contexto pandémico, o que reforçará o acervo das décadas de 2010 e 2020 nesse equipamento de São João da Madeira.
A oferta ao museu do distrito de Aveiro abrange sobretudo chapéus, toucados e acessórios esculturais para cabeça, a maioria dos quais confeccionada para espectáculos, cenários de moda e eventos televisivos, mas o conjunto também integra “máscaras executadas durante a quarentena” como alternativas às normais protecções respiratórias contra a covid-19.
Tânia Reis, directora do Museu da Chapelaria, declarou que as 77 criações em causa se distinguem pela “diversidade de materiais e técnicas utilizados” e adiantou: “A longo prazo, esta doação permitirá registar a arte da chapelaria portuguesa das décadas de 2010 e 2020, enquanto produção destinada essencialmente às artes do espectáculo – em especial o teatro de revista – e a eventos e produções de moda”.
Algumas das criações doadas por Luís Stoffel evocarão ainda “as dificuldades pelas quais os profissionais desses sectores passaram no período da pandemia”, dando a conhecer como, perante o encerramento das salas de espectáculo, o ‘designer’ “direccionou a sua trajectória para um novo objecto de criação artística – a máscara de protecção individual – e lhe aplicou técnicas e materiais da chapelaria”.
Natural de Santarém, Luís Stoffel começou a formação na área da Dança, estudando na Universidade de Marly-le-Roi, em Paris, e trabalhando como bailarino, coreógrafo, formador dessa área e ainda aderecista e criador de guarda-roupas no mesmo setor.
Quando se mudou para Lisboa, em 2002, começou a colaborar com o estilista João Rolo e também com o encenador Filipe La Féria, em cujas produções viria a desenvolver a sua carreira específica de chapeleiro – nomeadamente em espetáculos como “Música no Coração”, “Jesus Cristo Superstar”, “West Side Story”, “A Gaiola das Loucas” e “O Feiticeiro de Oz”.
A biografia de Luís Stoffel refere ainda colaborações em “publicidade, cerimónias e marchas populares”, acrescentando: “Com o aparecimento das redes sociais, o seu trabalho foi descoberto por vários fotógrafos, que integraram as suas peças em portefólios de produção de moda. Mais tarde, ‘stylists’ incluíram as suas criações em editoriais de revistas como a Elle, Maxima e Vogue” – sendo que esta última o incluiu em 2012 no grupo dos melhores criadores portugueses.
Se parte das peças concebidas ao longo desse percurso passam a integrar a colecção do museu de São João da Madeira é porque Luís Stoffel o encara como “o local certo” para as acomodar e conservar.
“No Museu da Chapelaria estas criações têm muito mais visibilidade, pelo que o público que o visitar poderá ver e apreciar este trabalho de outra forma”, disse o ‘designer’ à Lusa.
Tânia Reis realçou que as criações doadas ao museu são constituídas em grande parte por “penas e plumas”, o que, em termos de conservação, obrigará a observar “um correcto controlo ambiental do espaço onde as peças estiverem expostas” e implicará maiores cuidados em termos do “correto acondicionamento em reserva, para que as referidas plumagens não sejam alvo de ataques biológicos e possam ‘respirar’ sem sofrer deformações ou quebras”.
Notando que o grande mérito de Luís Stoffel é o seu autodidactismo, “o que torna o seu trabalho motivo de uma admiração ainda maior”, a directora do Museu da Chapelaria propõe-se agora “homenagear o legado deste artista português” com a devida divulgação da sua obra “no panorama nacional e internacional”.
As peças doadas pelo ‘designer’ ficam expostas nesse equipamento cultural até 30 de Abril e estão também disponíveis para visita virtual no ‘site’ do museu, após o que irão percorrer o país numa mostra itinerante apostada em demonstrar, a título individual, como ele “busca constantemente aperfeiçoar as suas técnicas” e, a nível sectorial, como “o futuro da arte da chapelaria passa pela simbiose entre o ofício e a indústria”.
“As fábricas e lojas portuguesas estão direccionadas para modelos mais tradicionais, mas Stoffel destaca-se pelo seu processo criativo e produção de peças únicas para momentos especiais, marcando a diferença pelo requinte, elegância e ousadia, o que faz dele um chapeleiro ímpar no contexto nacional”, concluiu Tânia Reis.