Logo nos princípios do século XVI, fugidos ao controlo do Vice-rei em Goa e ao comércio explorado pelo Estado ou concessionários, mercadores portugueses deslocaram-se para a zona central da costa oriental do Indostão, para a região do Coromandel, onde se estabeleceram, formando colónias mercantis espontâneas e que pouco a pouco vieram a integrar-se no Estado da Índia. Hoje, alguns dos territórios dessa costa então pertencentes a Portugal, são completamente desconhecidos dos portugueses. Já aqui por outras razões escrevemos sobre algumas delas, tais como Negapatão, Tuticorin, Masulipatão, S. Tomé de Meliapor. Falemos neste texto de mais duas delas, sendo que ainda hoje são grandes centros de cristianismo.

1. Uma que teve interesse devido à existência do grande comércio com o Sudeste Asiático e China foi Palicate.

Por volta de 1518, consentidos na área pelo imperador Krishnadeva Raya, do Império de Vijayanagara, feroz inimigo dos sultões de Bijapur e Bahmani, estes inimigos dos portugueses em Goa, veio a tornar-se numa grande colónia. Esta teve uma fortaleza e a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, de estilo manuelino, renomeada de Nossa Senhora da Glória. Em 1520 tinha já cerca de 300 habitantes, estando próxima das 700 famílias portuguesas em 1545, algumas destas de “topazes”, nome “topaz” dado aos escravos africanos por adaptação da palavra “dubash” da língua tamil, que depois de comprados, eram baptizados,  ensinados e enviados como escravos de armas, a guarnecer as fortalezas e fortes portugueses do Oriente, onde se miscigenavam com as nativas locais. Falhada a enorme ambição de Palicate de se tornar numa região rival de Goa, na costa indiana oposta, intenção punida pelo Estado da Índia em 1565 com o envio de uma expedição militar, inicia-se o seu declínio e por volta de 1600 não chegavam a 300 o total dos portugueses. Palicate é conquistada em Abril de 1610, um século depois, pelos holandeses, que aqui farão a sua primeira base militar na Índia (1).

2. Na costa oriental da península indostânica, mais ao Sul do Coromandel, está a Costa da Pescaria ou Tamil, próxima da ilha de Ceilão. Também aqui a partir de 1507, criarão os mercadores portugueses outras colónias.

Nesta costa viviam os “paravás”, pescadores de casta baixa, humildes, facilmente cristianizados pela igualdade social que o cristianismo proporcionava.

Era este um povo corajoso pelos desafios que o mar lhes punha, pois todos eles eram mergulhadores de profundidade na pesca de ostras e suas pérolas. Era também vítima do Samorim de Calecute que, aliado às armadas árabes, impunha-lhe uma escravização na apanha das pérolas.

Em 1520 estes “paravás” apreciadores da organização dos mercadores portugueses estabelecidos em Punicale, entenderam acolher-se oficialmente sob a sua protecção. Uma delegação chefiada por Vikirama Pandya, vai a Goa em 1532 submeter-se ao Vice-rei D. Nuno da Cunha. Foi-lhes garantida a protecção com a condição da delegação ser baptizada e de encorajar o seu povo a converter-se ao cristianismo.

Logo em Goa, Vikirama é baptizado com o nome de João da Cruz e, poucos meses depois, cerca de 30 mil “paravás”, tinham sido baptizados na capela da Nossa Senhora da Expectação construída para o efeito em Punicale.

Depois de baptizados e catequisados, os “paravás”, inicialmente uma sociedade endogâmica, isto é, que fomentavam a união entre indivíduos aparentados, tornaram-se exogâmicos e passaram a usar nomes de família de origem portuguesa como Cruz, Santos, Rocha, etc. (2).

[S. Subrahmanyam (1), G. Saldanha (2). Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico].

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