Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis anos e a falta de oportunidades no sector levou-a a optar por uma vida fora do país que a viu nascer.
Conta ao Correio do Ribatejo que a decisão foi tomada em conjunto com o marido, que por sua vez já tinha trabalhado durante um ano na República Checa.
Com a decisão tomada, a escolha recaiu em Frankfurt, na Alemanha, onde conta que o marido conseguiu uma vaga de emprego.
Nesta entrevista a jovem conta como foi o processo de mudar de país, em plena situação pandémica, de como a família encarou a partida para o estrangeiro e das principais diferenças que encontrou em terras germânicas.
Confessa querer regressar a Portugal, mas não prevê que seja a curto ou a médio prazo, pelo menos enquanto ouvir os amigos e familiares queixarem-se das condições de vida por cá.

O que a levou a emigrar?
Estava a trabalhar numa empresa em Lisboa há quase seis anos (comecei assim que terminei a faculdade) e não tinha grandes perspectivas de crescimento para o futuro. Para além disso, o meu marido tem um trabalho que ainda não existe muitas oportunidades em Portugal e já tinha estado um ano em Praga, na República Checa. Decidimos, em conjunto, que o melhor para nós seria emigrar para um país com mais oportunidades para ambos. 
 
Porque escolheu Frankfurt?
Nós escolhemos um conjunto de países que gostaríamos de ir. O meu marido candidatou-se a algumas vagas nesses países e acabou por entrar em Frankfurt. Foi uma feliz coincidência. 
 
Há quanto tempo está em Frankfurt?
Um ano e oito meses. Mudamo-nos em Maio de 2021, mas deveria ter sido no início do ano. Devido ao covid, vacinas e confinamento tivemos de adiar algumas vezes a nossa ida.
 
Como foi todo o processo de mudar de país? 
Complicado, principalmente devido à pandemia. Para além de todo o trabalho normal deste processo ainda tivemos o teste de covid antes de ir e 15 dias de quarentena em Frankfurt, sem a ajuda de ninguém. 
 
Como é que a família encarou a sua decisão?
Ficou triste e feliz ao mesmo tempo. Por um lado, eles sabem que é o melhor para nós mas também preferiram que não tivéssemos de ir. 
 
Quais são as principais diferenças que encontrou em relação a Portugal?
São imensas. Nós fomos com a ideia que nos passam dos emigrantes que é muito trabalho e pouca qualidade de vida quando na verdade nós temos uma qualidade de vida muito melhor! A relação vida profissional – vida pessoal é muito valorizada (tanto que existem bastantes leis que protegem o trabalhador de trabalhar demasiado). No entanto também notei bastante falta de tecnologia, principalmente nos serviços governamentais.
 
O que mais gosta e o que menos gosta na Alemanha?
Gosto bastante do estilo de vida, da quantidade de feiras, eventos e pessoas na rua. Isto também pode não ser em todas as cidades, mas em Frankfurt é muito bom. O que gosto menos é a burocracia alemã. Para tudo são necessárias várias cartas (ou até fax), ir a vários escritórios, etc. 
 
Já fala alemão?
Sabemos algumas coisas! Principalmente coisas do dia a dia para usar nas compras, restaurantes, etc. Eu comecei um curso de alemão há uns meses, mas ainda falta muito para ter um nível que me permita conversar. No entanto, em Frankfurt conseguimos fazer tudo em inglês, que por um lado facilita, mas por outro não sentimos também tanta necessidade do alemão então não é uma prioridade. Tanto eu como o meu marido temos trabalhos que não necessitamos de alemão, apenas inglês. 
 
Já adoptou algum hábito tradicionalmente alemão?
Sim, principalmente fazer as refeições cedo. É comum jantarmos por volta das 19 horas o que nunca acontecia em Portugal. Outra coisa é os passeios no parque ao domingo. Principalmente na Primavera, os parques estão cheios de pessoas para aproveitar os primeiros raios de sol.
 
Como acompanha o que se passa em Portugal?
Normalmente online, mas com o passar do tempo acompanho cada vez menos. 
 
O que mais sente saudades de Portugal, e de Alpiarça?
Principalmente da família e dos amigos. E claro, o cliché: clima e comida também são verdade!
 
Pensa regressar a Portugal? Será para um futuro a curto ou a longo prazo?
Sim, o objectivo será regressar a Portugal, no entanto não será a curto prazo. Por agora compensa bastante viver fora de Portugal, e enquanto assim for não faz sentido regressar.
 
Como vê o nosso país hoje em dia?
Pior do que quando saímos e, infelizmente, é bastante comum ouvirmos os relatos dos familiares e amigos que simplesmente não têm dinheiro para viver. É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?

Leia também...

“A escrita é passar para o papel uma parte de nós”

Bruno Vieira, jovem de Vale da Pinta, lançou, no passado domingo, o…

“É fácil apontar o dedo para dizer que não está feito e não ter a responsabilidade de apontar medidas”

A deputada Inês Barroso, coordenadora para os assuntos de Educação no PSD,…

“Santarém precisa de uma política de incentivo aos artistas emergentes”

Nuno Labau é o responsável pela dança contemporânea da SRO e convida…

“O Rugby, como desporto, é um símbolo do fair play e do respeito”

O escalabitano Ricardo Segurado é o novo vice-presidente da direcção da Federação…