Uma nova editora chamada acorda, sediada em Tomar, acaba de ser lançada como um projeto assumidamente “contra a corrente”, dedicado à defesa do papel e à criação de formatos editoriais alternativos.
A iniciativa é promovida pelo poeta Nuno Garcia Lopes, que explicou à Lusa que a editora nasce de “uma vontade de resistência num tempo dominado pelo digital”, sendo objetivo recuperar formatos tradicionais e apostar em poesia e objetos literários fora do ‘mainstream’.
“Criar uma editora hoje só faz sentido contra a corrente”, afirmou o mentor do projeto, sublinhando que a acorda pretende recuperar a materialidade da leitura, desde livros a folhetos ou até cartas.
“Há um nicho de pessoas que continua a preferir o papel e muitos jovens que não o usam simplesmente porque já quase não o conhecem”, destaca, tendo afirmado que a editora foi instalada em Tomar por escolha pessoal e simbólica.
“Tomar é o local ideal para fazer bons projetos. Nasci aqui e acho que hoje tudo pode ser feito a partir de qualquer lugar”, afirmou Nuno Garcia Lopes, acrescentando que a ligação à cidade também passa pela homenagem ao compositor Fernando Lopes-Graça, autor do emblemático “Acordai”, que inspira o nome e o espírito do projeto.
O logótipo e o lema “livros com fibra” remetem igualmente para o conceito de “corda” e para a antiga tradição da literatura de cordel.
O primeiro título da editora será uma obra que reúne 30 anos de trabalhos publicados e inéditos de Nuno Garcia Lopes, num volume de 416 páginas com design de Madalena Garcia Chaveiro e ilustrações de Catarina Garcia Marques.
O livro será lançado a 27 de Novembro, no Cine-Teatro Paraíso, integrado no espetáculo “Outonar”, seguindo-se apresentações no Entroncamento, Sertã, Lisboa e Alcanena.
A acorda, que no início de 2026 vai publicar obras de autores como o prémio LeYa 2021 José Carlos Barros e ‘cartoons’ do ilustrador SAL (Gonçalo Figueiredo), pretende também explorar formatos editoriais pouco comuns no mercado atual, indicou o mentor do projeto.
“Queremos retomar objetos literários como folhas soltas com poemas para enviar pelo correio. Receber uma carta que não seja apenas uma conta é uma experiência que se perdeu”, disse à Lusa o promotor, poeta e escritor, que procura recuperar a dimensão afetiva do papel.
Outras ideias incluem a criação de pequenos folhetos inspirados no cordel tradicional e edições acessíveis para circulação em feiras e eventos de rua.
Embora o projeto seja liderado por Nuno Garcia Lopes, a editora assenta num “coletivo de amigos ligados à arte e ao papel”, que pretende privilegiar a poesia e outras expressões menos presentes no circuito comercial.
“Queremos publicar aquilo que muitas editoras não querem, como poesia, artes visuais ou textos alternativos. Apostamos no que está fora do ‘mainstream’, mas com qualidade”, afirma.
Sem ponto de venda físico “para já”, a acorda funcionará sobretudo através das redes sociais, pré-vendas e distribuição por livrarias independentes.
“Não queremos pôr a carroça à frente dos bois. É um crescimento sustentável”, refere Nuno Garcia Lopes, que ambiciona alargar o catálogo a autores de língua portuguesa.
“Acolher o outro é um dos princípios da editora. A lusofonia tem artífices extraordinários e queremos abrir as portas sempre que fizer sentido”, afirmou.
A editora aposta ainda numa forte componente gráfica e visual. “Estamos a promover os autores, mas também o objeto livro. A qualidade material é fundamental”, afirma.
O livro de estreia está em pré-venda com 20% de desconto até 26 de Novembro, através do e-mail da editora (acordaeditora@gmail.com).

