Saúde e força são os pedidos que mais se ouvem no Santuário de Fátima, onde hoje são esperados milhares de migrantes de vários países para a peregrinação internacional aniversária de Agosto.

Pouco passava das 09:00 quando Fátima Cerqueira, de 47 anos, de Baião (Porto) e emigrante no Luxemburgo, chegava a Fátima com a família e com um pedido, saúde e força para mais um ano de trabalho.

A viver há mais de uma década naquele país, Fátima Cerqueira descreve uma “vida dura” a que se soma tristeza, por ano após ano deixar família em Portugal.

“Viemos fazer as nossas orações. Gostamos de vir cá”, diz a emigrante, que expressa um pedido: “Que [Nossa Senhora] nos dê saúde e muita força”.

Sobre o futuro, Fátima Cerqueira apenas afirma que pensa regressar a Portugal um dia. “Mas quando não sei”, declara, antes de se dirigir ao Santuário de Fátima.

Já o casal Ana Maria e António Joaquim, ela de 53 anos, ele de 56, de Fazendas de Almeirim (Santarém) e a viver e a trabalhar em França desde 2002, aponta a reforma para um regresso definitivo a Portugal.

António Joaquim, vestido com uma ‘t-shirt’ verde e vermelha com a inscrição “Portugal”, assume que “a vida de emigrante é dura”, numa frase que Ana Maria completa com “compensa”.

“Temos de sofrer”, resume António Joaquim, salientando que o Santuário de Fátima é sinónimo de “fé e esperança”, para acrescentar: “Não me posso ir embora sem cá vir. Em Agosto, nas férias, é obrigatório”.

Obrigatório, mas também tradição, é o que leva Sandra Silva, de 29 anos, filha de portugueses de Amarante (Porto) nascida na Bélgica a marcar presença em Fátima. “Todos os anos”, realça.

Da vida de lá relata “trabalho-casa-casa-trabalho” e da vida de cá, Sandra Silva lamenta a distância da família.

“Vir a Fátima é melhor que ir a casa”, considera, por seu turno, José Ferreira, de 70 anos, que há uma semana estacionou a autocaravana de matrícula francesa nas imediações do santuário e onde hoje, à Lusa, desfiou o rosário de uma vida de emigrante sem conseguir conter as lágrimas.

Natural de Viseu, o peregrino, que aos 18 anos rumou a França, onde vive com a mulher, Rita Ferreira, de 70, refere-se a Fátima “como o lugar mais sagrado que pode haver”, onde, ainda jovem, chegou a ir a pé.

“Viemos agradecer muitas coisas que foram concretizadas. Aqui alivia-se, chora-se, ri-se”, refere, comentando a vida de emigrante no país onde agora está reformado: “Os emigrantes, a maioria é bem tratada. Há outros que não, que não se querem integrar”.

Num Agosto que significa férias e férias significam reencontros com a família e, em muitos casos, também, com a Virgem de Fátima, Lurdes Ribeiro, de 56 anos, de Vila Real, diz que esta espécie de ritual anual é “uma festa”.

“Venho pedir forças para nos ajudar e muita saúde também”, refere a emigrante na Suíça há 27 anos, para onde regressa na segunda-feira ao trabalho e ao país “muito bom” em termos de acolhimento.

Nesta peregrinação ao maior templo mariano do país, que espelha a diversidade dos destinos da emigração portuguesa, também se contam imigrantes, como a brasileira Maria de Lurdes, de 56 anos.

Aos 38, deixou Belo Horizonte, tendo como destino Portugal, com um objectivo: “Trabalhar, ganhar dinheiro e voltar a casa”.

“A gente era mais escravizada, tinha menos salário e mais serviço”, nota quem se sentiu discriminada, repetindo: “Muito trabalho, pouco dinheiro e a cor [da pele]. E acharem que todas as mulheres brasileiras vinham para a prostituição”.

Depois de 10 anos em Portugal, a imigrante emigrou para a Bélgica, onde hoje vive. Foi a fé, como faz questão de frisar, que a trouxe a Fátima, garantindo que só haverá um destino quando se reformar: “Vou morar aqui, em Lisboa”.

A peregrinação internacional de Agosto ao Santuário de Fátima, que integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado é presidida pelo arcebispo do Luxemburgo, onde 15% dos cerca de 634.700 habitantes são portugueses.

A peregrinação, considerada como a peregrinação dos emigrantes, começa às 21:30 com a recitação do terço, seguindo-se a procissão das velas e a celebração da palavra.

Na sexta-feira, às 09:00 é recitado o terço, realizando-se, uma hora mais tarde, a missa, que inclui uma palavra dirigida aos doentes. As celebrações terminam com a procissão do adeus.

O arcebispo do Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, é também o presidente Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia e foi nomeado pelo Papa Francisco relator geral da 16.ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos de 2023.

Leia também...

Correio do Ribatejo distingue figuras marcantes da região

O Correio do Ribatejo celebrou ontem, terça-feira, mais um aniversário com a…

Cartaxo vai receber Cinema ao ar livre

A Praça 15 de Dezembro, no Cartaxo, vai transformar-se numa sala de…

IPMA eleva para 12 os distritos em aviso laranja devido ao calor

 Doze distritos de Portugal continental vão estar no fim de semana sob…

Detetados cinco ‘drones’ em infração em Fátima

A Guarda Nacional Republicana (GNR) detetou cinco ‘drones’ em infração no âmbito…