Mário André é um enfermeiro desportivo aposentado, que se dedica desde 2015 à banda desenhada. O artista natural de Alpiarça, criou em 2017 o seu selo editorial ‘Kustom Rats’. Com esta assinatura já conquistou menções honrosas no Salão de Banda Desenhada de Odemira, em 2017 e 2019, e foi nomeado na categoria Melhor Obra Curta do 2º Prémio Bandas Desenhadas ‘2020. O reconhecido ex-enfermeiro da Seleção Nacional de Futebol e também no Sporting Clube de Portugal, apresentou na Amadora e em Alpiarça a sua mais recente obra de banda desenhada “A Implosão”, uma adaptação da obra de Nuno Júdice, que retrata um diálogo entre de dois amigos depois de terem participado na grande manifestação de 15 de Setembro de 2012 -“ Que se lixe a Troika”. Mário André não pára as suas criações e em 2022 vai lançar a primeira novela policial baseada nas obras de Fernando Pessoa.

O que levou o Mário André a dedicar-se à Banda Desenhada, depois de vários anos ligado ao mundo do futebol profissional?
Enquanto jovem, a Banda Desenhada sempre fez parte das minhas leituras, por culpa de alguém, mais propriamente uma vizinha, leitora compulsiva de todas as publicações da BD que na altura se publicavam e eram distribuídas pela Agência Portuguesa de Revistas, os vulgares “livros de cowboys”. Estávamos então nos anos 60. Era em sua casa que eu encontrava um mundo de BDs que eu levava para minha casa e, depois de lidas, religiosamente as devolvia. Hoje, se existisse seria um imenso e valioso espólio.

Em que altura da sua vida descobriu essa vocação?
Sempre tive gosto pelo desenho, possivelmente por influência do meu pai que desenhava com alguma desenvoltura mas quase sempre os mesmos temas, embora às vezes caricaturasse os amigos, quando tinha por perto papel, pois a esferográfica nunca o abandonava. Eu sempre que podia desenhava, predominantemente ‘rabiscos’ de cenas cujos intervenientes apareciam disformes. Mais tarde, estudante de Enfermagem cheguei a elaborar uma sebenta desenhada da disciplina de Biomecânica como resultado dos apontamentos das aulas, que deixaram de ser escritos para passarem a ser desenhados. Lamentavelmente essa sebenta evaporou-se possivelmente levada por alguém que achou a “história” engraçada. Mais tarde, já no Desporto fiz várias tentativas de retomar os desenhos, mas sem resultado, a disponibilidade mental e concentração estavam direccionados para outros interesses. Com a aposentação foi a possibilidade de concretizar esse desejo e, por outro lado, a terapia para quem deixou uma vida de grande agitação e agora procura desfrutar de um tempo mais calmo mas activo.

Como é o seu processo criativo?
Que dizer do processo criativo? Dizer que o digital não entra nas minhas técnicas preferidas, o papel é tudo desde o cheiro à textura, só legendagem tem carácter digital. As adaptações tem sido até agora as minhas fontes de inspiração. No meu processo criativo as coisas acontecem muito rapidamente, a maioria das vezes até rápido demais, já que salto etapas: o primeiro esboço passa logo a definitivo contrariando os cânones. O preto e o branco são as cores preferidas com os meios-tons em aguadas. Tudo vai surgindo sequencialmente tal como na própria 9ª arte.

O que o influencia para criar a sua banda desenhada?
As influências são múltiplas, principalmente dos que fazem do preto e branco e das aguadas as suas cores preferidas. Falando em nomes direi que Manu Larcenet com o Relatório de Brodeck, George van Linthout, Pasquale Frisenda, são actualmente os preferidos.

Participa em vários encontros e concursos nacionais dedicados a esta área. Considera que é importante estar junto de outros artistas para evoluir nesta arte?
Já participei mais. Obtive algumas menções honrosas no Concurso de BD de Odemira. Participei ainda em algumas edições do Festival de Lausanne e no Amadora BD. O contacto com outros autores é de importância fundamental para mim. Comecei tarde e tenho necessitado desses contactos e ensinamentos para que me possa apetrechar das ferramentas que preciso e que de outra forma seria impossível. Realço aqui minha participação no colectivo Tágide sediado no Montijo e dinamizado pela Suzana Resende e pelo Daniel Maia, as formações em Arte Sequencial dadas pelos mesmo e ainda pelo Penim Loureiro, no Museu Bordalo Pinheiro. É deste conjunto de contactos que tenho “bebido”, apressadamente porque o tempo urge.

Lançou recentemente a sua primeira novela gráfica baseada no romance homónimo de Nuno Júdice. O que é que retrata o livro?
Retrata um período de grandes dificuldades que o País viveu onde todos sofremos com as restrições da Troika (uns mais que outros). Sentindo isso, Nuno Júdice escreveu a novela “A implosão”. Trata-se de um diálogo entre de dois amigos depois de terem participado na grande manifestação de 15 de Setembro de 2012 -“ Que se lixe a Troika”- e que se torna numa viagem pelo nosso passado recente.

Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Projectos para o futuro, todos devemos ter. Fernando Pessoa e a sua incursão nos “policiários” como ele chamava às suas novelas policiais serão os projectos futuros. Uma novela está terminada outra está em arte final. A primeira será publicada em 2022.

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