Sabemos que gestos como “evangelização” ou “missionação” (transmissão da fé cristã em ambientes descrentes) foi sempre uma das prioridades presentes na nossa Expansão Ultramarina. Deste modo cristianizámos diversos reinos e cortes fosse em África, ilhas do Pacífico, Ceilão, etc. Hoje para aqui trago duas figuras de relevo que depois de batizadas, traíram o seu batismo, seguramente de conveniência, e perseguiram os seus mentores.

1. Mombaça, na costa do Quénia, acolheu mal Vasco da Gama na sua viagem para a Índia, em 1498. Em anos seguintes quaisquer aproximações de armadas portuguesas ao seu porto eram mal recebidas, pelo que D. Francisco de Almeida, o 1º Vice-rei na Índia, vai combater a cidade em 1505. A agressividade mútua manteve-se. A ocupação definitiva é feita por Martim de Melo em 1585, assinando o sultão local um tratado de paz que duraria “enquanto o Sol e a Lua existirem”. Agora em mãos portuguesas, sofrerá durante algumas décadas ataques dos turcos otomanos, entre os quais do almirante turco Mir Ali Bei até este ser derrotado por Tomé de Souza Coutinho na Primavera de 1589 e que aprisionado prefere ser enviado preso para Lisboa onde se converte ao cristianismo com o nome de Francisco Julião, por cá permanecendo até morrer, pois sabido era que não escaparia ao machado do sultão Murad III como outros almirantes seus antecessores que derrotados por portugueses foram decapitados por ordem de sultão Solimão, o Magnífico, tido na Europa e Ásia por invencível.

Em Abril de 1593 decide-se a construção de uma fortificação poderosa, a Fortaleza de Jesus, concluída em 1596 e considerada uma das 7 maravilhas do mundo português. As relações entre os

portugueses e o sultão de Mombaça foram sempre difíceis. Visando uma forte conciliação e porque se sentia a necessidade de um sultão cristão, é enviado em 1626 para um seminário de Goa o jovem Muhammad Yusif, o futuro sultão, que não só é batizado com o nome de D. Jerónimo Chingulia, como também aprende a ler e a escrever português.

Quando já regressado a Mombaça e no trono, abandona o catolicismo e a 16 de Agosto de 1631, aproveitando-se da confiança nele depositada, liderando as suas forças ocupa a fortaleza, manda matar o Capitão-mor Pedro de Gamboa e massacrar toda a população portuguesa e nativa existente na fortaleza, entre os portugueses 45 homens, 35 mulheres e 70 crianças. Em 1632 vendo-se D. Jerónimo Chingulia cercado por reforços portugueses entretanto chegados de Goa, abandona a fortaleza que conquistara à traição, foge e torna-se pirata.

Após mais de 100 anos de domínio, Mombaça caía e para sempre em 1698, nas mãos do reino de Omã (1).

2. Ceilão (a Taprobana de Camões) foi possessão portuguesa, não toda a Ilha, durante 153 anos, de 1505 a 1658. Estrategicamente era importante pois daqui podia controlar-se a navegação entre as duas metades do Índico. Os portugueses esboçaram um plano para a conquista da ilha como um todo, pelo que não se limitaram às feitorias costeiras e grandes fortalezas em pedra e cal, mas progrediram para o interior. Se acaso fosse toda a ilha dominada por inteiro, poderia ter mudado o destino de Portugal na Ásia. Quando D. Lourenço de Almeida, Capitão-Mor do Mar da Índia, chegou à ilha em 1505, encontrou-a dividida em sete reinos, tendo sido apenas três os reinos ocupados pelos portugueses: Cota, Candia e Jafanapatão. No reino de Candia, a partir de 1511 foi facilitada pelo rei local, como já acontecera com o reino de Cota, a fixação dos franciscanos e a construção de uma igreja e de uma residência. Décadas depois um dos seus reis, o rei Jayavara I, mostrou-se disponível para ser baptizado, recebendo em 1546 o nome de D. Manuel.

Desiludido com a diminuta ajuda que lhe prestavam os portugueses, veio mais

tarde a apostatar-se, pelo que inicia alguma perseguição aos cristãos. O seu filho e sucessor, Jayavara II, relança as boas relações, vindo ele e vários senhores do seu reino a pedir o baptismo, na década de 1550 (2).

[MBUIA-JOÃO, Tome (1) QUEYROZ, F (2).

Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico].

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