A equipa portuguesa destacada para ajudar nas operações de busca e salvamento na Turquia, atingida por dois sismos, chegou a Lisboa no passado sábado, dia 18, com o espírito de “missão cumprida”.
“Foi assim que chegámos ao fim desta missão, com o dever cumprido. A janela da percentagem de sobrevivência está completamente fechada. Se aparece alguém vivo, felizmente essa pessoa teve acesso a água. De outra maneira é impossível sobreviver a uma situação daquelas”, disse aos jornalistas o comandante da missão portuguesa, José Guilherme, ex-comandante dos Sapadores de Santarém.
A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Protecção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães – esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de Fevereiro por dois fortes sismos.
O comandante afirmou que estas missões têm o seu tempo e que ”chegou o momento de desligar o interruptor e passar ao passo seguinte”, uma vez que estas equipas, como a portuguesa, estão formatadas para a busca e salvamento de vidas.
“O trabalho que está a ser feito é a remoção de destroços, que tem de ser o mais rapidamente possível, porque brevemente aquele povo vai ter um problema mais grave que é de saúde pública”, precisou. José Guilherme recordou o salvamento da criança de 10 anos como o momento mais importante da missão.
“Durante umas buscas que andávamos a fazer num dos sectores na zona baixa de Antáquia, os cães detectaram, ao princípio, também a pedido dos populares, um corpo. A equipa esteve ali um bocado a fazer o reconhecimento até que foi alertada, também por um popular, que supostamente havia uma vítima ali uns metros ao lado. De imediato enviámos a primeira equipa para a primeira avaliação, os cães fizeram a detecção, fizemos o reforço e, a partir daí, desenvolveu-se todo um trabalho de equipa até chegarmos ao pequenino Baran. Naquele momento éramos todos Baran e tínhamos todos 10 anos”, recordou.
O comandante sublinhou que “valeu a pena”, por terem salvado uma vida, mas também por terem encontrado nos escombros corpos e conseguido entregar alguns às famílias.
“Encontrámos alguns corpos e entregámos alguns a famílias. Isso também fez com que a nossa motivação subisse ao ver aquele povo poder fazer o seu luto no meio daquela catástrofe”, afirmou.
José Guilherme destacou também o trabalho em conjunto feito entre os operacionais e o amigo que encontraram naquela cidade completamente destruída: “Tivemos a sorte de ter uma guia, foi nosso amigo. A nossa equipa passou de 52 para 53, fez toda a diferença”, frisou. O comandante disse também que estas ocorrências e catástrofes “exigem muito esforço, não só físico mas também emocional”, e que os elementos da equipa “estão devidamente treinados” e “são profissionais de excelência e de uma disponibilidade impar”.
José Guilherme acrescentou ainda que a cidade de Antáquia, com cerca de 600 mil habitantes, não tem ninguém a residir em casas, estando todos a morar em campos de desalojados e o que os seus habitantes necessitam neste momento é de roupas, medicamentos e bens alimentares.
Na cerimónia de chegada da equipa portuguesa, no terminal militar de Figo Maduro, em Lisboa, estiveram presentes os ministros da Defesa Nacional, Helena Carreiras, e da Administração Interna, José Luís Carneiro, e os secretários de Estado da Protecção Civil, Patrícia Gaspar, e da Saúde, Ricardo Mestre.
Mais de 44.000 pessoas morreram na Turquia na sequência de dois fortes abalos que atingiram o país e o norte da Síria em 06 de Fevereiro.
José Guilherme é bombeiro desde 1985. Começou em Coruche, a sua terra natal, onde exerceu funções até 2008, altura em que foi nomeado segundo comandante e depois comandante dos Bombeiros Voluntários de Benavente.
Em 2013, foi escolhido para número dois da protecção civil distrital, liderada por Mário Silvestre, cargo que deixou a 14 de Maio de 2018, quando se mudou para os Municipais de Santarém (actuais sapadores), que liderou durante cerca de três anos, até Junho de 2021, quando foi
nomeado Segundo Comandante Regional de Emergência e Protecção Civil do Alentejo.
Licenciado em engenharia de protecção civil e com formação complementar em várias áreas ligadas ao sector, José Guilherme tem uma vasta experiência, incluindo missões internacionais em Moçambique e várias formações ao abrigo do mecanismo europeu de protecção civil. Foi também formador externo Escola Nacional de Bombeiros e tem vários louvores e condecorações no desempenho das funções.