O Festival Internacional de Teatro e Artes para a Infância e Juventude (FITIJ/FITAIJ) está a realizar-se em Santarém desde a passada quarta-feira, prolongando-se até domingo, 9 de Outubro, com grupos artísticos de sete países da América do Sul e da Europa.

Procura “estimular novos olhares que abram novos horizontes aos públicos do concelho.”

Quanto ao futuro do Festival Nelson Ferrão considera que “a sua maior implantação e alargamento só depende do empenhamento dos mais jovens se ligarem ao projecto e da capacidade dos scalabitanos, o que é urgente…”

O que se pode esperar desta edição do FITIJ e que expectativas é que a organização tem para este ano?

Para este ano, a Associação FITIJ espera poder cumprir a oferta cultural que foi desenhada para esta edição, algo ambiciosa e que ela possa chegar e tocar públicos diferentes dos habituais no consumo cultural do concelho, com base na fruição das crianças, jovens e famílias.

Temos a expectativa de contribuir para consolidar a frequência e a procura dos espectáculos no concelho, que este Verão tiveram uma frequência regular acima da média dos últimos anos, para além de pretender que a programação possa interessar os públicos do concelho e da região, despertando a vontade de conhecer toda ou a grande parte da oferta artística que se apresenta, sobretudo junto dos mais desfavorecidos. No  fundo esperamos estimular novos olhares que abram novos horizontes aos públicos do concelho…

Como se chegou a esta edição, e como se prepara um festival desta envergadura?

Desde 2015 que temos tido a estratégia e preocupação acrescida de saber quem quer fazer acções culturais que nós também queremos realizar; assim se combina o caminho a percorrer juntos, com aquilo que cada um pode contribuir para o enriquecimento dos seus concidadãos. É uma opção que tem dado bom retorno e que devolvemos aos públicos do concelho.  

Este ano acumulámos a experiência das últimas seis edições, construídas sobre as consequências de uma gigante crise económica e de uma pandemia mundial, o que permitiu ir consolidando um modelo de Festival baseado numa temática diferenciada e que, este ano, se norteou pelo foco nas Artes de Rua e das Marionetas, embora não exclusivamente.

Assim, as linhas de programação foram sendo construídas através da oferta de novas obras disponíveis, com recursos e estéticas diferentes, de modo a causar o espanto pelas suas apresentações​.​ ​D​estacam-se vários exemplos para diferentes públicos e várias plateias: veículos/palcos artísticos com grande condição de mobilidade, performance física e acrobática, clowns e a rua como espaço priveligiado de dar a conhecer o outro.

Daí, as orientações para  o sector educativo e para regiões fora de Santarém…

Com o Fitij Além, criamos pontes com novos públicos e alargamos os horizontes do FITAIJ a novos territórios, que este ano resultou em mais uma nova autarquia e mais três novas escolas – Almeirim e Chamusca, Cartaxo e Leiria (Festival Acaso).

Por outro lado, a linha Artistas vão à Escola, um dos pilares fortes do FITAIJ, requereu muita negociação e mediação com artistas e professoras, para surtir um resultado satisfatório às três partes.  Daí as novas três escolas que aproveitam esta oferta artística, sobretudo junto de destinatários com acesso reduzido à oferta performativa do concelho. Aqui, palavra de apreço aos corpos docentes das escolas participantes por acreditarem nesta oferta FITAIJ, ombreando o caminho para que aponta o PNA – Plano Nacional das Artes, em que a cultura deve ser um pilar permanente dentro das lógicas escolares.

Acresce ainda outras ofertas culturais que se pretendem distintivas: Flashmobs, Formação – Associação Remédios do Riso / Doutores Palhaços destinada aos profissionais que lidam com doentes, sobretudo com os mais jovens e uma Exposição – cartazes FITIJ / Diversidades.

Tudo isto só é possível através das parcerias com entidades que apostam na cultura para fazer um caminho comum, congregando os vári​o​s grupos sociais interessados em participar nas acções propostas (CMS, INATEL, União de Freguesias da Cidade e W Shopping, além do Santarém Cultura​,​ articulada com a Artemrede …) e também este semanário…

Em resumo, este certame realiza-se com muitos visionamentos de espectáculos e acções artísticas, presença em festivais, mostras, feiras de teatro, conhecer os artistas​…

E também é preciso conhecer os segmentos de públicos da região objecto do trabalho. E ter vontade de trabalhar para o bem comum, através das acções performativas e formativas, juntando aqueles que a cada momento emprestam um pouco de si para criar uma obra conjunta em benefício de uma grande maioria …  

Nesse seguimento, quais as principais novidades e que momentos destaca como obrigatórios?

A resposta é sempre delicada, porque a minha novidade pode nao ser a do meu vizinho.

Mas arriscamos várias.  Uma maior presença de grupos artísticos de sete países da América do Sul e da Europa, fruto de várias circunstâncias aproveitadas: Brasil, Chile, Espanha, França, Itália, Venezuela e Portugal.

O Centenário do Nascimento de José Saramago (16/11/1922 – 16/11/2022).

As marionetas apresentadas em veículos automóveis, a ocupação de novos espaços ao ar livre, no intuito de alargar a acção cultural a novos públicos  e àqueles que têm menos condições de acesso aos bens culturais, seja na sessão de abertura seja na de encerramento.

A recente consolidação do uso do Bairro de S. Domingos e do ​C​onvento de S. Francisco, a linha dos Artistas vão à Escola, a parceria com a  APPACDM, para além da Exposição no ​W ​Shopping e das acções formativas.

A não perder, arriscaria todos os espectáculos noturnos no TSB – Teatro Sá da Bandeira. E os espectáculos de encerramento, com estéticas e participações diferenciadas durante uma tarde de convívio, jogo e aprendizagem de outras visões do mundo e dos nossos sentimentos.

Não haverá arrependimentos…

O FITIJ já foi considerado uma das mais importantes manifestações culturais da zona centro. Passou, entretanto, por alguns momentos difíceis e, desde 2015, assumiu um novo dinamismo. Está consolidado este modelo de festival?

Sim, pelo que disse antes, este modelo está em fase de consolidação, retardada pela pandemia, mas com um potencial enorme de crescimento e alargamento a outros novos públicos e de outras condições sociais, implementando uma maior participação das gerações vindouras. A sua maior implantação e alargamento só depende do empenhamento dos mais jovens se ligarem ao projecto e da capacidade dos scalabitanos, o que é urgente…

Esta edição foi preparada sem o fundador do festival, Carlos Oliveira (Chona), falecido em Maio de 2021. Esta é uma lacuna difícil de preencher ou o seu legado está assegurado?

Claro que sim, já o dissemos e publicamente têmo-lo repetido.

O dinamismo, o empenhamento, a disciplina, a organização  e a criatividade do Carlos Oliveira (Chona) dificilmente será alcançada pela maioria, pelo que, os interessados que vão sendo possíveis a cada momento​,​ terão de ir colmatando essa ausência prematura.

O seu legado vai estando assegurado​,​ enquanto se conseguir manter um conjunto de recursos que ainda beberam nas formas e modos de estar do Chona. Mas, quanto a isso,  os dispositivos estão a ficar muito ténues e a necessária renovação de agentes organizativos e associativos poderão vir a determinar outros rumos, se  bem que aquilo que foi a implementação deste projecto teatral e performativo em Santarém, ninguém lho pode tirar. É um património assente n​a​s milhares de acções que o Carlos fez, não só enquanto FITIJ, mas também alargado às Bienais de Palhaços​, ​Circo, n​ã​o esquecendo as participações em dezenas de associações e actividades culturais a que ele se  dedicou, para além da sua sempre presente intervenção cívica ou de política comprometida com os seus pensamentos de justiça social… A nossa gratidão!

Como olha para o panorama cultural da cidade actualmente? 

O sector cultural do concelho, nos últimos 20 anos, sofreu um conjunto de tensões de sinal contrário,  que fizeram a procura cultural ficar algo atomizada, o que, juntando factores externos ao concelho, fez que chegássemos nesta altura à situação em que estamos. Por um lado, uma fatia significativa da população à espera de consumir acções culturais mais rotineiras e sem muita criatividade e inovação, dentro dos padrões da lógica  industrial da cultura dita de massa, e, por outro lado, uma preocupação de outra parte da oferta cultural ser mais consistente para levar os públicos a participar e a serem sensibilizados pelo acto cultural, na expectativa de  reforçar os vínculos culturais a mais interessados. 

Isto indica duas visões quase antagónicas sobre a acção e desenvolvimento da sociedade cultural concelhia, que se acomodou bastante e que agora tem dificuldade em vir para o centro da acção cultural, cuja participação conhecemos até à entrada do milénio.

Assim, o panorama geral parece estar a melhorar, nos últimos meses,  com mais regularidade e consistência da oferta cultural, apresentando-se várias propostas estéticas e inovadoras que se articulam e enriquecem o tecido cultural, fora dos cânones concelhios.

Contudo, deve ter-se a preocupação de oferecer obras artísticas que possam cobrir as várias camadas e franjas de públicos do concelho, com propostas artísticas  que dialoguem, ​questionem e que desenvolvam a criatividade e participação cada vez maior dos interessados ou de outros susceptíveis de serem sensibilizados pela oferta artística, sobretudo as gerações mais novas, sem esquecer os vários escalões etários e geográficos.

Os dados do último Inquérito às ​P​ráticas ​C​ulturais dos Portugueses é muito preocupante, porque a partir dos 30 anos a população deixa de ter adesão à oferta cultural e todas as entidades programadoras devem ter isso em consideração, porque o trabalho que fizeram até agora não resultou em mais públicos e​,​ até​,​ resultou nalgum afastamento dos públicos da cultura…

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