Há notícias que nos devastam por mais preparados que nos sintamos para enfrentar todos os imprevistos da Vida. Ou pensamos nós que estaremos preparados…
A nossa Teresa – Maria Teresa do Rosário Lopes da Cruz Moreira – deixou-nos cedo de mais, muito antes do tempo que todos nós precisaríamos para nos prepararmos para um desfecho tão infausto e tão drástico quanto o que agora vivemos. Que todos receávamos, quando as últimas notícias apontavam nesse sentido, mas que nos recusávamos a aceitar como provável num prazo tão curto.
Há uns anos vivemos com ela a ansiedade e a angústia de quem recebe a notícia brutal de que padece de uma doença grave. Com muita resiliência e perseverança foi superando as diversas fases do tratamento médico, e quando nos transmitiu que a situação estava debelada, fomos dominados por uma alegria esfuziante. Foi um dia de Festa! Afinal, a saúde estava de volta e os padecimentos da doença já eram coisa do passado. Passado, naturalmente difícil e penoso, mas já passado.
Vivemos algum tempo sem pensar nas maleitas, apenas focados naquilo que aqui nos animava, delineando projectos para o ano em curso, definindo temas a abordar nas nossas “tertúlias” e nomeando as personalidades que iríamos homenagear no aniversário do Jornal. Conhecedora profunda da realidade social e cultural de Santarém e da sua região, a Doutora Teresa Lopes Moreira escreveu centenas de artigos sobre esta temática que granjeavam a maior admiração por parte dos nossos Leitores, que não dispensavam a sua leitura.
Entretanto, a digitalização de todas as edições de “O Santareno”, do “Correio da Extremadura” e do “Correio do Ribatejo” – processo felizmente já concretizado – era algo que a motivava plenamente, colocando todo o seu empenho ao serviço do Jornal, dando-se ao trabalho de ela própria levar algumas das colecções encadernadas ao estúdio de Luís Pavão, em Lisboa, para aí serem digitalizadas.
A Doutora Teresa Lopes Moreira sempre foi uma apaixonada pelo “Correio do Ribatejo”, amor que mais cresceu quando dedicou uma boa parte do seu tempo à investigação para a sua tese de doutoramento, subordinada ao estudo da dinâmica cultural da cidade de Santarém entre os anos de 1930 e 1959, para o que foi imperativo consultar todas as edições do Jornal deste período.
Da proximidade resultante da sua pesquisa nas instalações do Jornal, a Doutora Teresa Lopes Moreira foi-se apercebendo dos constrangimentos que a empresa então proprietária do “Correio do Ribatejo” atravessava, ao ponto de pôr em risco a sobrevivência do Jornal “de Todos e para Todos os Ribatejanos”. A convite de João Paulo Narciso, Director do Jornal, aceitou o desafio para constituir a empresa “Verdade das Palavras” em sociedade consigo e com Ludgero Mendes, a qual, em 2013 procedeu à aquisição do Jornal, com o firme objectivo de salvaguardar a sua continuidade.
Estes nove anos de inteira devoção a este projecto, que nunca prosseguiu objectivos de rendimento, permitiram-nos aprofundar o relacionamento, que sempre foi puro e sadio, e que esteve na base do progresso deste trajecto, apostado no futuro, mas respeitando o passado. Daí que, ao longo destes anos tenhamos distinguido alguns dos mais dedicados Colaboradores do Jornal, desde a sua fundação até ao presente, descerrando a sua fotografia na Galeria dos Notáveis”, em sessão onde se destacava o percurso de cada homenageado.
Pelo afã com que encarava cada projecto do Jornal muito tínhamos a esperar da sua competente e generosa dedicação, o que agora sofre um rude golpe, deixando um vazio impossível de preencher.
Um percurso académico, profissional e cívico notável
Maria Teresa do Rosário Lopes da Cruz Moreira, filha de Alberto de Jesus Lopes e de Maria de Lourdes do Rosário Pedro Lopes, nasceu a 23 de Setembro de 1964 na freguesia de Marvila, concelho de Santarém, sendo casada com João Carlos da Cruz Moreira.
Estudou em Santarém até à conclusão do 12.º ano, primeiro na Escola Primária do Salvador e depois na Escola Secundária “Sá da Bandeira”. Licenciou-se em História, pela Universidade Autónoma de Lisboa (1983-87), completou o Curso de Qualificação em Ciências da Educação, pela Universidade Aberta (1991-92), fez o Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2001) e era formadora na área e domínio de História / História de Portugal (2003).
Era Doutoranda em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a tese sobre “A Colonização do Piauí no Século XVIII”, sob a orientação do Prof. Dr. João Cosme (2004-06), e doutorou-se em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2014), onde defendeu a tese com o trabalho de investigação “Todos Têm Direito à Cultura”. A Dinâmica Cultural da Cidade de Santarém (1930-1959)”, sob a orientação do Prof. Dr. José Neves (2014).
A Doutora Teresa Lopes Moreira exercia funções docentes desde o ano de 1987, estando actualmente colocada no Agrupamento de Escolas “Sá da Bandeira”, em Santarém, tendo igualmente exercido funções de Chefe de Divisão do Património, Arquivos e Bibliotecas da Câmara Municipal de Santarém, em regime de comissão de serviço (2006-10), e integrava o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde 2012.
Entre a sua bibliografia destacam-se as obras “Todos Têm Direito à Cultura”. A Dinâmica Cultural da Cidade de Santarém (1930-1959)”, que resultou da sua tese de Doutoramento; “Os Pobres também são Gente”. Breve Reflexão sobre o Estado da Cultura em Santarém, Portugal,” publicado na OPSIS 12 (2012): pp. 269-280; “A Etiópia na Obra de Miguel de Castanhoso”, dissertação de Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2000; “Percursos de Manuel Ginestal Machado”, Catálogo da Exposição Comemorativa do Centenário do Nascimento de Manuel Ginestal Machado, Santarém, Círculo Cultural Scalabitano, 2005; e “As Memórias da Cidade de Santarém”, editado em 2018.
Muito sensível às questões culturais e sociais do nosso país, a Doutora Teresa Lopes Moreira integrou a Comissão Executiva para as Comemorações do Centenário do Nascimento de Manuel Ginestal Machado (2005), o projecto da candidatura da Cultura Avieira a património cultural imaterial, dinamizado pela Escola Superior de Educação de Santarém, e a Comissão Popular do 25 de Abril de Santarém, sendo ainda docente “pro bono” na UTIS – Universidade de Terceira Idade de Santarém.
A nossa estimada consócia e brilhante colaboradora Teresa Lopes Moreira faleceu em pleno dia 25 de Abril, o que não poderá deixar de ter, para nós, um profundo simbolismo, posto que esta amiga sempre pugnou pelas conquistas de Abril, na construção de um país livre e democrata, onde todos possamos conviver digna e solidariamente.
A Administração e os Colaboradores do “Correio do Ribatejo”, profundamente consternados por tão infausto desenlace, agradecem a todos quantos se lhes dirigiram a expressar a sua solidariedade nesta hora tão difícil, e apresentam a expressão das suas mais profundas condolências à família enlutada, nomeadamente a seu marido, João Carlos da Cruz Moreira.