Criada a 10 de Agosto de 1621, a Abrã pretende realizar durante 2021, logo que possível, diversas actividades e eventos para assinalar o quadricentenário. A este propósito, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Rui Manuel Lopes Ferreira, eleito para o cargo de presidente da Freguesia de Abrã em 11 de Outubro de 2009. Nesta entrevista, o autarca fala ainda dos principais desafios que a freguesia atravessa e deixa perspectivas de futuro.

Qual é, para si, o significado das comemorações dos 400 anos da freguesia de Abrã?
A comemoração do 4º Centenário da Freguesia de Abrã tem um grande valor sentimental para mim, para os meus fregueses, acima de tudo é uma homenagem que deixo aqueles homens firmes e corajosos que em 1618 iniciaram este caminho, confrontando os poderosos da época, a Nobreza e o Clero.
Eu Rui Manuel Lopes Ferreira eleito para o cargo de Presidente da Freguesia de Abrã em 11 de Outubro de 2009 sempre honrei e dignifiquei a Freguesia com a herança que trouxe de berço, trabalho, honestidade, rigor e verdade.
No decorrer deste 3º e último mandato, o 12º ano de autarca abraço mais este desafio assinalar o 4º Centenário, esta é uma data que não poderia deixar de passar em branco, daí a minha intensa perseguição na procura desenfreada do documento da sua criação, tão importante e precioso para todos nós e para a minha pessoa em particular, enquanto Presidente desta Freguesia.
O Alvará é como a cédula de nascimento de um bebé, a qual em minha opinião os pais devem guardar religiosamente, é a sua génese.
Felizmente tenho a honra, a alegria e a oportunidade de vos apresentar o referido documento, a sua transcrição para o Português actual o seu enquadramento histórico.
Freguesia de Abrã criada a 10 de Agosto de 1621, tendo por orago Santa Margarida.
Agradeço ao Exo.mo. e Rev.mo. Bispo de Santarém, D. José Traquina, ao Rev. Padre António Pereira, ao Sr. Presidente da Câmara de Santarém Dr. Ricardo Gonçalves, ao Sr. Engo. Luís Melo e à Dra. Alexandra Xisto do Arquivo Diocesano de Santarém, que me acompanharam nesta demanda e permitiram trazer à luz o documento.

Quais são os principais desafios que a freguesia enfrenta neste momento?
O grande desafio que a Freguesia enfrente é a desertificação e a baixa taxa de natalidade, tentei corrigir este problema com a criação do cabaz bebé uma pequena ajuda para despesas com produtos destinados a bebés.
No ano da criação da Freguesia eram cerca de 1500 pessoas e hoje muito menos cerca de 1000, para tudo existe uma explicação, não só todas as condicionantes da evolução da vida, mas também os entraves e nós somos assolados por um bem grande e á muitos anos, o famoso PDM, esta regra sem regras faz com que as pessoas se desloquem para outros lugares, é inconcebível que não se permita construir entre casas já edificadas e com toda a rede de serviços instalados, água, electricidade e saneamento básico, são pessoas naturais da Freguesia, que trabalham cá, onde felizmente existem muitos postos de trabalho, com uma taxa de desemprego praticamente nula e tem que ir morar para outras localidades, este dito cujo PDM é realmente o entrave ao crescimento dos lugares da Freguesia, podemos oferecer ao nosso futuro, as crianças, uma Creche, dois Jardins de Infância, duas Escolas primárias e um Atl, com horário pós laboral e no período de férias.

Que perspectivas é que tem para o futuro da freguesia?
As minhas perspectivas para o futuro se o dito cujo PDM for bem alterado são animadoras porque para além do que já referi anteriormente a Freguesia actualmente dispõem de uma rede viária impecável, as empresas da Freguesia são sólidas, centro de saúde remodelado, uma IPSS Centro Social e Paroquial de Santa Margarida de Abrã que presta serviço a toda a comunidade infantil e sénior e aos mais necessitados em bens essenciais, alimentação e vestuário, há muitos e muitos anos que a Freguesia felizmente tem a comunidade das Irmãs Concepcionistas ao serviço dos pobres que acompanham de perto os nossos doentes e os mais sozinhos, um trabalho magnífico.

Que prioridades definiu para a Junta de Freguesia?
Desde o primeiro mandato em 2009 que defini para a Freguesia duas linhas orientadoras, como espinha dorsal de trabalho as quais considero vitais para a sociedade porque quem faz as terras são as pessoas e nesse caso temos de ir ao alicerço, a educação e a saúde, se queremos uma sociedade melhor em todos os sentidos temos de Educar, mas como referia nas reuniões escolares de apresentação do início do ano escolar, a educação dá-se em casa, a escola é só um complemento. Na saúde, temos a obrigação de cuidar da saúde da comunidade e para isso também é preciso que os profissionais tem condições dignas para exercer o seu trabalho.

Que projectos gostaria de ver concluídos ainda neste mandato?
Os projectos em curso para este mandato já não os consigo concretizar, fico satisfeito de pagar o que tenho vindo a fazer, mas não menos importante ficam os projectos.
O Projecto da obra de construção do Centro de Dia com melhores condições, já aprovado na Câmara e na Segurança Social com capacidade para 30 ou mais utentes e projectado de uma forma a poder crescer.
O Projecto da obra de construção de uma casa Mortuária na sede de Freguesia uma vez que para o efeito é utilizada uma ala da Igreja.
O Projecto da construção de passeios na sede de Freguesia, um objectivo do 1º mandato. O Projecto de espaço e lazer com equipamento geriátrico.
Conclusão de alcatroamentos com projecto feito e valor orçamentado, cabimentado em rubrica.

Que balanço faz deste mandato?
O balanço que faço deste mandato e dos anteriores é positivo, eu entrei em 2009 de uma forma inexperiente, mas acreditando que com a ajuda de pessoas experientes poderia ser mais fácil, tudo mentira, foram rasteiras atrás de rasteiras, tenho um amigo que diz muita vez que “de fracos não reza a história” e é verdade, fui vivendo esta experiência, ganhando calo e utilizei um método muito antigo, separei o trigo do joio, endureci a minha carapaça e como ser humano fazia a triagem necessária.
Em três mandatos, 12 anos, tive que viver duas crises que tornaram a realidade da vida quotidiana muito difícil, talvez essas e outras dificuldades que enfrentei me tivessem dado a resistência, a capacidade de ponderar respostas e serviços a tal robustez na carapaça para fazer frente ao JOIO.

Segundo os dados provisórios dos Censos, a Abrã perdeu, na última década, cerca de 140 residentes. Na sua perspectiva, o que se pode fazer para tornar os territórios do interior mais atractivos?
No que respeita aos Censos, fomos nós Freguesia de Abrã e todo o nosso Portugal, cada vez mais se torna imperativo de fazer frente ao dito cujo PDM que atrofia as localidades, somos uma Freguesia do Norte do Concelho com uma qualidade de vida, penso que muito boa, já referi as ofertas que a Freguesia dispõe e acredito que se as pessoas pudessem construir certamente qua a população crescia, não nos podemos centralizar só nos grandes centros, as pessoas das aldeias também cá andam neste mundo e pagam impostos tal e qual como as pessoas que vivem em cidades, somos uma Freguesia limpa, respiramos ar puro, mesmo no verão a água brota das nascentes, uma paisagem maravilhosa, o associativismo a funcionar, um grupo de dadores benévolos de sangue que assinalou em Fevereiro 50 anos a trabalhar para ajudar a salvar a vida humana.

Considera que o papel das Juntas, por representarem o poder político de proximidade, deveria ser reforçado?
Considero que o papel das Juntas de Freguesia realmente é muito importante, como dizem os políticos profissionais, é importante o serviço de proximidade, mas o ditado popular é bem explícito, “ Palavras leva-as o vento” e é isso mesmo porque cada vez mais o poder central nos delega responsabilidades e mais responsabilidades e o dinheiro que necessitamos para as cumprir fica em Lisboa, o que a nossa Freguesia recebe do F.F.F. só permite pagar os ordenados, se a Câmara Municipal de Santarém não nos transferisse valores para cumprir com as competências, não havia limpeza de ruas, manutenção de estradas florestais, manutenção de escolas, despesas com transportes escolares, entre outras realidades.

O que o motivou, pessoalmente, a assumir a liderança de uma Junta de Freguesia?
O que me motivou a enfrentar a liderança da Junta de Freguesia foi de me envolver e enfrentar um desafio novo, nunca tinha entrado na vida política, mas acima de tudo foi, as pessoas, o cuidar do seu bem-estar podendo-lhes oferecer melhor qualidade de vida, fazer com que fossem mais felizes indo ao encontro das suas necessidades abrangendo todas as faixas etárias. Cuidar da Freguesia no seu geral, em todas as vertentes, penso que mesmo atravessando duas crises cumpri grande parte dos meus objectivos, é sempre difícil alcançarmos os 100% porque não nos dão essa possibilidade.
Termino deixando um lema que por vezes não é vinculativo a todos mas, na minha pessoa é, e foi sempre a minha conduta.
Estive Presidente da Freguesia de Abrã para a servir, e não para me servir dela em benefício próprio. A todos os que habitam ou trabalham na minha Freguesia de Abrã, aos que continuam a valorizar a nossa herança comum e a trabalhar em prol da nossa comunidade. Muitíssimo obrigado.

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